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Lição de moral é tudo de que o eleitor não precisa

“Entre o meu legado, eu acho que tem valores, inclusive morais, dos quais eu nunca abrirei mão. Eu diria que entre esses valores, eu, desde criança, quando lá em casa, as minhas meninas tinham discussão e tinha uma briga, dizia: ‘olha quem fez isso?’. Eu diria o seguinte: eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que com aquele que fez o fato”. A lição, de fundo moral, foi feita por Marcelo Odebrecht aos membros da CPI da Petrobras, durante audiência, em Curitiba, na última semana.

A pequena história de virtudes caseiras foi possível graças ao ambiente amistoso estabelecido entre os deputados e Marcelo Odebrecht. A sessão transcorreu num curioso clima de “rasgação de seda”, inclusive com elogios calorosos feitos pela maioria dos deputados à empresa, conhecida pelo volume significativo de recursos que destina às campanhas políticas.

O presidente da CPI, Luiz Sérgio, reconheceu de público que a Odebrecht, além de ser “tocadora de obras”, fez doações a todos os candidatos a governadores, inclusive para as candidaturas a presidente da República. Com um ambiente tão amistoso assim, não é de se admirar que o propósito central da oitiva e que levaram os membros da CPI à Curitiba, às custas do contribuinte, foi deixado em segundo plano e o que passou a vigorar foi um bate-papo entre confrades.

Observada sob o ponto de vista do cidadão que acompanha o desenrolar dessa longa novela policial, a cena serviu para confirmar o poder e o prestígio secular de alguns magnatas da República, sobretudo daqueles que patrocinam as atividades políticas de vários partidos. A situação serve para confirmar o que sempre dizia o filósofo de Mondubim: “Quem aluga o traseiro não escolhe onde sentar.”

Faltou, talvez, a presença efetiva de um parlamentar comprometido com o país, que lembrasse àquele senhor que ele estava ali na condição de preso sob suspeita de graves crimes contra o erário, acusado, entre outros delitos, de formação de quadrilha, corrupção e outras contravenções penais.

A plácida desfaçatez com que o dono da Odebrecht depôs aos membros da CPI demonstra, de modo claro para todos, a fé cega do empresário no seu exército de defensores, na lentidão da Justiça e na gratidão da classe política que saberá reconhecer os favores prestados por esse benfeitor da República.

A invocação de familiares e outros relacionamentos íntimos, num ambiente tão conturbado como o da Lava-Jato, além de estratégia de advogados sagazes, serve para passar para a opinião pública o lado humano e cordial dos envolvidos no caso. Há duvidas do amor desse senhor por suas filhas. Educar é exemplo. A única certeza é sobre as intenções e estratégias quando resolve financiar a atividade política.


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A frase que não foi pronunciada
“César declarou que amava as traições, mas odiava os traidores.”
(Plutarco)



Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto: Google – Ilustração Blog

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