Em audiência na 7ª Vara Criminal do DF, o delator chama o réu de batedor de carteira e reforça que o ex-distrital sabia da origem ilícita do dinheiro. "Ele (Brunelli) era muito rebelde, nunca estava satisfeito com nada. Sempre pedia mais, era estourado. Brunelli tinha absoluto conhecimento da origem do dinheiro e arrochava Arruda" (Durval Barbosa)
Em audiência na 7ª Vara Criminal do DF, o delator chama o réu
de batedor de carteira e reforça que o ex-distrital sabia da origem ilícita do
dinheiro
O delator da Operação Caixa de Pandora, Durval
Barbosa, depôs na audiência de instrução do processo em que o ex-distrital
Júnior Brunelli responde por corrupção passiva na 7ª Vara Criminal do Distrito
Federal. A oitiva ocorreu na tarde de ontem no Tribunal de Justiça do DF e dos
Territórios. Durval, ex-diretor de Relações Institucionais, chamou o ex-aliado
de “batedor de carteira” e confirmou que o ex-parlamentar recebia propina de
forma consciente. O depoimento do réu e da testemunha de defesa Francenei Arruda
Bezerra ficou para 20 de outubro. Brunelli acompanhou a audiência ao lado do
advogado.
Durante a audiência, Durval revelou a existência de
outros vídeos em que aparece Brunelli recebendo propina. Uma das imagens teria
sido registrada na Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), mas o delator
disse que excluiu as gravações “sem querer”, pois acreditava ter cópias. Ele
confirmou que, antes da campanha eleitoral de 2006, era o único responsável por
arrecadar dinheiro ilegalmente.
Após o pleito, porém, ressaltou que apareceram
outros captadores e pagadores, como o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do
DF Domingos Lamoglia; o tesoureiro da campanha de Arruda, José Eustáquio de
Oliveira; o suspeito de atuar como um dos operadores do esquema Paulo Roxo; o
ex-chefe de gabinete da governadoria Fábio Simão; e o ex-chefe da Casa Civil
José Geraldo Maciel.
Quando entrou para o governo Arruda, em 2007,
Durval informou que recebia 10% de cada empresa envolvida no esquema. A
primeira arrecadação dentro do Executivo local chegou a R$ 3,5 milhões. Segundo
ele, o dinheiro serviu para o processo de separação do ex-governador José
Roberto Arruda com Mariane Vicentini. Em depoimento, revelou que Arruda teria
de repassar R$ 20 milhões à ex-mulher, mas não soube precisar o quanto.
Durval acrescentou que os contratos de informática
dentro do governo eram por meio de troca. Confirmou que não existia um acordo
formal e repassava tudo sobre assunto a Lamoglia, responsável pela área. Sobre
Brunelli, disse que o ex-deputado recebia propina constantemente. “Ele era
muito rebelde, nunca estava satisfeito com nada. Sempre pedia mais, era
estourado. Brunelli tinha absoluto conhecimento da origem do dinheiro e
arrochava Arruda, porque queria ser candidato a senador. Mas Arruda tinha
outras três pessoas como prioridade, e Brunelli não estava na lista.”
Prova
técnica
Na Operação Caixa de Pandora, o vídeo em que
Brunelli pede proteção divina para Durval tornou-se um símbolo. O delator
explicou que as imagens foram gravadas na Secretaria de Assuntos Sindicais em
2006, no próprio gabinete dele. Na ocasião, disse que passou R$ 5 mil ao
ex-distrital. Também entregou dinheiro no banheiro da casa de Arruda.
Durante a audiência, o advogado de Brunelli
questionou Durval sobre a demora na divulgação das gravações. O delator
explicou que, embora os vídeos tenham sido feitos em 2006, ele apenas os tornou
público em 2009 em razão da delação premiada. “Arrependi-me de ter me aliado a
tantos vagabundos e, me desculpa, você é um deles”, disse Durval a Brunelli. Em
resposta, o ex-parlamentar apelou à religião. “Eu sou cristão, mas, para fazer
essa defesa, ele tem nos prejudicado muito utilizando esse vocabulário”,
afirmou.
Para a promotora do Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Aurea Regina de Queiroz Ramim, não há
dúvidas de que Brunelli aparece nos vídeos recebendo propina. “Durval tem
prestado inúmeros depoimentos em âmbito da delação premiada e mais, nessa
oportunidade, ele corrobora tudo, dizendo como o esquema funcionava e a
participação dos envolvidos. Os laudos são categóricos ao afirmar que não houve
edição fraudulenta e adulteração das imagens. Durval é preciso ao afirmar o que
a prova técnica já disse”, considerou.
Fonte: Isa Stacciarini – Correio Braziliense – Foto: Google