Eduardo Militão
Correio Braziliense
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Investigadores
da força-tarefa da Operação Zelotes apontam que “abanar o rabo” era um dos
códigos usados pelos lobistas das montadoras MMC Mitsubishi e Caoa Hyundai para
“comprar” a Medida Provisória 471, que estendeu benefícios fiscais para o setor
automobilístico. A mensagem é uma resposta do lobista Alexandre Paes dos
Santos, o APS, para o hoje número 2 do Ministério do Turismo, Alberto Alves,
que foi gerente de representação da associação das montadoras (Anfavea).
Segundo
a Operação Zelotes, a medida provisória foi “comprada” por meio de dinheiro
pago pelas montadoras ao consórcio de escritórios Marcondes & Mautoni, de
Mauro Marcondes, e SGR Consultoria, de propriedade de APS. As investigações
apontam que R$ 6,4 milhões seriam distribuídos pelos lobistas a “colaboradores”
para a aprovação da norma, o que policiais e procuradores do Ministério Público
entendem como destinatários de propina.
Em um
e-mail de 16 de dezembro de 2009, às 22h17, horas depois de a Câmara aprovar a
MP 471, o então dirigente da Anfavea, Alberto Alves, parabeniza APS pelo feito.
E pergunta quem será o relator no Senado. “Como ela foi aprovada sem emendas,
vai dar para intrujar aquela que vcs fizeram?”, questiona o hoje secretário
executivo do Ministério do Turismo, segundo cargo abaixo do ministro da pasta,
Henrique Eduardo Alves (PMDB).
APS
responde que não. “Para aquela emenda ter entrado era necessário que alguém
abanasse o rabo, e ninguém se mexeu”, responde o lobista no dia seguinte, às
19h02. Segundo relatório da PF, era uma referência ao fato de a Caoa Hyundai não
ter pago os valores combinados com os lobistas da M&M e da SGR. “Como esta
não sinalizou que queria ou pagaria, isto é, como a Caoa não ‘abanou o rabo’,
eles não se movimentaram para consegui-la”, diz o relatório da PF.
“DEVER DE OFÍCIO”
A
reportagem não localizou advogados de APS, que foi preso anteontem pela PF na
quarta fase da Zelotes e está recolhido na Papuda, em Brasília. Alberto Alves
disse ao Correio na noite de ontem que só comentaria o caso por meio da
assessoria do ministério, que distribuiu uma nota à imprensa. No texto, porém,
ele não esclarece qual emenda escrita por APS ele desejava “intrujar” na Medida
Provisória nº 471.
“Alberto
Alves esclarece que deixou a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores — Anfavea — há mais de três anos e, enquanto ocupava a gerência de
Relações Institucionais e Governamentais da entidade em Brasília, tinha por
dever de ofício acompanhar o debate sobre matérias de interesse do setor
automotivo no Congresso Nacional”, disse o secretário executivo em nota. A
Anfavea não prestou esclarecimentos ao jornal. Na segunda-feira, a entidade
afastou Mauro Marcondes, preso na Zelotes, da tesouraria da associação.