Desde a formação, a CPI da Petrobras levantou
dúvidas sobre a determinação de aprofundar as investigações do esquema montado
na empresa considerada patrimônio do povo brasileiro. Apesar da descrença,
porém, esperava-se que avançasse e acrescentasse alguma novidade ao trabalho da
Operação Lava-Jato, comandada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.
Lido na segunda-feira, o relatório final da comissão frustrou a mais tênue
expectativa.
O deputado Luiz Sérgio, do PT fluminense, focou o
texto em três temas. Um deles atacou os métodos empregados pela Operação
Lava-Jato. Criticou os acordos de delação premiada, que reduziram a pena de
réus confessos em troca de informações dadas aos investigadores. Apesar de ter
recuperado mais de R$ 1 bilhão desviados da petroleira, as ações comandadas
pelo juiz Sérgio Moro só mereceram um elogio: “Precisamos”, disse o
parlamentar, “destacar a importância da Lava-Jato no combate à corrupção”.
Outro alvo das críticas de Luiz Sérgio foi a
acusação de que a roubalheira era institucionalizada na maior empresa do país.
Em sintonia com as teses do Partido dos Trabalhadores, o deputado qualificou-a
de “questionável” e, portanto, desprovida de fundamento. Segundo ele, os
diretores que confessaram participação na roubalheira e abriram a caixa-preta
dos contratos superfaturados da Petrobras e subsidiárias teriam agido por conta
própria, sem cumplicidade de colegas.
Por fim, mas não menos importante, o petista poupou
os pares. Entre eles, o presidente da Câmara. O relator alegou que CPI não é
conselho de ética e, como o colegiado não tem provas contra Eduardo Cunha, não
há do que acusá-lo. Sem constrangimento, ignorou revelações documentadas de que
Cunha e familiares mantêm contas na Suíça abastecidas por recursos desviados.
Não só: o documento livra a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e
62 políticos envolvidos nas investigações.
Depois de quase oito meses de atuação, a CPI da
Petrobras não poderia ser mais frustrante. Além de jogar pelo ralo a
oportunidade de investigar o maior escândalo de corrupção da história recente
do país, contribui para desmoralizar ainda mais o Congresso Nacional. Pior:
debocha da inteligência dos eleitores. Até sexta-feira, quando acaba o prazo da
CPI, Luiz Sérgio deve entregar o relatório final. Membros da oposição prometem
voto em separado com propostas diferentes das apresentadas pelo petista. Fica a
lição: a partir de agora, não vale a afirmação de que se sabe como uma CPI
começa, mas não se se sabe como acaba. Sabe-se sim.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google