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Entrevista: Ao comemorar 75 anos, Pelé relembra as curiosidades da carreira

No dia em que completa três quartos de século, o maior jogador de futebol da história lcritica a corrupção no país
Em 19 de novembro de 1969, Edson Arantes do Nascimento mandou um recado ao país após marcar o milésimo gol da carreira em cima do goleiro Andrada, do Vasco, no Maracanã. “Pensem nas criancinhas”, disse à época o maior jogador de futebol de todos os tempos, que completa 75 anos hoje. Em entrevista ao Correio do sítio em que costuma se refugiar no dia do aniversário, Pelé recorda a frase histórica e deixa escapar um certo arrependimento. “Eu só espero que algumas daquelas crianças não sejam hoje políticos e estejam envolvidos em tanta corrupção.”

Chamado de Rei pela primeira vez em 1958 na crônica A Realeza de Pelé, de Nelson Rodrigues — no dia em que atingiu a marca de 75 gols aos 17 anos numa exibição épica diante do América-RJ, pelo Torneio Rio-São Paulo —, o craque relembra outras curiosidades da carreira envolvendo o número 75. Dos 77 gols em partidas oficiais com a camisa da Seleção, por exemplo, o de número 75 foi uma obra-prima: a cabeçada na final da Copa de 1970 diante da Itália. “Foi o último da minha carreira em Copas.” Considerado um jogador perfeito, Pelé revela qual o maior erro de sua vida. “Algumas vezes, pensar que eu era perfeito”.

Internado durante duas semanas no ano passado devido a uma crise renal, Pelé ficou na UTI. Boletins médicos chegaram a considerar a situação do paciente Edson Arantes do Nascimento gravíssima, mas ele resistiu e brinca ao dizer que, em nenhum momento, teve medo de não chegar aos 75 anos. “Sou de uma família de vida longa. Minha avó paterna, Ambrosina, morreu com mais de 100 anos”.

Mesmo exausto da longa viagem à Índia, onde ajudou a promover a recém-lançada Indian Super League e foi recebido como um semideus pelos fãs, Pelé tentou não deixar pergunta sem resposta, mas não conseguiu. Deu um corta-luz ao ser questionado qual jogador da atualidade gostaria de ser aos 75 anos e não quis apontar quem será lembrado quando tiver 75 anos como sucessor de Pelé no século 21. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar? “Essa pergunta só Deus pode responder”, desconversou.

O jogo 75 da sua carreira foi em um amistoso contra o Nitro Química-SP. Afinal, que jogo foi esse?
Naquela época, o Santos fazia vários amistosos pelo Brasil, como também foi no jogo em que eu fiz meu primeiro gol, em 6 de setembro de 1956, pelo Santos contra o Corinthians de Santo André. Esse foi mais um daqueles amistosos do Santos.

Seu primeiro jogo depois do adeus ao Santos foi justamente em 1975, quando defendeu o All Stars contra o Anderlecht em um amistoso nos EUA. Qual foi o significado daquela mudança de rumo na carreira?
O Santos Futebol Clube foi campeão paulista em 1974 e esse jogo foi um dos últimos que fiz antes de ir para os Estados Unidos. O objetivo era promover o futebol jogando pelo Cosmos.

Segundo a súmula da Fifa de Brasil 5 x 2 França na semifinal da Copa do Mundo de 1958, o quinto gol verde-amarelo — seu terceiro no jogo — foi aos 75 minutos de jogo. Qual é a recordação daquela performance antológica diante do time do craque Just Fontaine?
Na Copa do Mundo de 1958, a grande força europeia era justamente a equipe francesa. E eu tive a felicidade de fazer três gols neste jogo e ser campeão mundial. 

Dos 77 gols em jogos oficiais pela Seleção, o de número 75 foi simplesmente aquele de cabeça contra a Itália na final da Copa de 1970. É o gol mais importante com a amarelinha?
Olha, esse gol posso comparar com o gol que fiz na final da Copa de 1958, na Suécia, quando eu tinha 17 anos. Por coincidência, esse gol de cabeça na Copa de 1970 foi o último da minha carreira em Copas do Mundo.

Você jogou em 75 países diferentes somando os jogos com as camisas do Santos e do Brasil. Qual desses países em que você passou foi mais marcante na sua carreira?
Eu sempre fui muito bem recebido com muito carinho e amor em todos os países.

Você acaba de chegar de uma turnê pela Índia. Foi especial?
Eu já estive em vários países, como você mencionou. Só como jogador foram 75, mas fiquei impressionado com a manifestação de carinho e com a recepção que tive nas cidades que acabei de visitar na Índia.

No período em que você esteve internado, sentiu medo de não chegar aos 75 anos?
Jamais tive medo de morrer. Sou de uma família de vida longa. Minha avó paterna, Ambrosina, morreu com mais de 100 anos.

Em 2005, você pegou o violão e cantou a música Eu quero ser você no programa La Noche del Diez, de Diego Armando Maradona. Aos 75 anos, qual craque em atividade você gostaria de ser?
Eu admiro muitos jogadores, cada um com sua especialidade, não quero citar nomes.

Nos últimos 75 anos, o mundo viu nascer, crescer e reinar soberano o Rei Pelé, considerado o maior jogador do século 20. Quem, na sua opinião, será lembrado um dia, aos 75 anos, como o craque do século 21: Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar?
Essa pergunta só Deus pode responder.

Quando você fez o milésimo gol, a mensagem foi direcionada às crianças. A quem se destina a sua mensagem aos 75 anos?
Eu só espero que algumas daquelas crianças não sejam hoje políticos e estejam envolvidos em tanta corrupção.

Quais foram o seu maior acerto e o maior erro em 75 anos?
Meu maior acerto foi sempre achar que eu sempre tinha que estar aprendendo. E o meu maior erro foi, algumas vezes, pensar que eu era perfeito.





Por:  Marcos Paulo Lima /Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Kleber/CB/D.A.Press

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