Dá tristeza ler nas páginas do Correio a agonia do
Touring Club, pequena joia do tesouro modernista erguido a céu aberto no centro
de Brasília. O prédio, que integrou os tempos pioneiros da nova capital, foi
engolido pelo esquecimento, mal que acomete boa parte da região tombada da
capital federal. Há de se lamentar o ocaso de uma das importantes sedes da
instituição fundada em 1923 e com importantes serviços prestados em favor do
turismo e do desenvolvimento no país. O Brasil não valoriza a história, esquece
os registros do passado, abandona os alicerces de uma civilização.
Meu lamento maior em relação ao Touring, porém, é como brasiliense.
Adolescente morador da Asa Sul, lembro-me de caminhar pelas frondosas árvores
das superquadras 303 e 302, atravessar a Rua das Farmácias, observar o
imponente edifício do Hospital de Base, admirar a sequência de prédios no Setor
Comercial Sul, chegar até o Conic. Mais alguns passos e já era possível entrar
nas instalações do Touring e estender o olhar por um ângulo menos convencional
da Esplanada dos Ministérios. Em dias úteis, lembro-me de ter feito lá o exame
de vista para aquisição da Carteira Nacional de Habilitação. Essas memórias
afetivas do Touring perderam-se nos escombros do prédio, que possivelmente deverá
ressurgir como uma igreja.
Tão jovem aos 55 anos, a região
tombada de Brasília apresenta sinais cada vez mais evidentes dos efeitos do
tempo e do descaso. O abandono do Teatro Nacional, as condições decrépitas da
Rodoviária, as fachadas destruídas de antigos edifícios comerciais subtraem de
forma lamentável o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Próximo à
região central, outros ícones da cidade perdem o viço, a originalidade, a
ousadia: o Instituto Central de Ciências da UnB, o Museu de Arte de Brasília, a
Concha Acústica, a Escola de Música.
Ruínas de uma antiga civilização só fazem sentido
em cidades milenares, como Cairo, Roma e Machu Picchu. A capital construída por
Juscelino Kubitschek nasceu para simbolizar a inovação, a mudança de rumo, o
despertar de uma nova consciência contra o atraso e o subdesenvolvimento. O
tombamento de Brasília significa o registro de uma época fundamental para a
evolução brasileira, de inestimável valor histórico e cultural. Temos o
privilégio de morar em um museu ao ar livre, mas não queremos preservá-lo. Brasília
está pequena, cada vez menor.
Por: Carlos Alexandre – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google