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Uma ponte para o PMDB

Por: Luiz Carlos Azedo e Júlia Chaib
Correio Braziliense - 30/10/2015
 



“Essas são as nossas propostas para o país fazer o ajuste fiscal e voltar a crescer.  Não estamos olhando para o passado, mas para o futuro” (Michel Temer, vice-presidente)

Pisando em ovos para não agravar suas tensas relações com a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) divulgou ontem o documento “Uma ponte para o futuro”, elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, sob a coordenação do ex-ministro Moreira Franco. O documento faz uma análise da situação do país e apresenta propostas de saída para a crise que são, ao mesmo tempo, a negação do projeto de Dilma e do PT e uma clara tentativa de posicionar o PMDB como alternativa de poder.

“Essas são as nossas propostas para o país fazer o ajuste fiscal e voltar a crescer. É o início de um grande debate no partido. Vamos distribuí-los para os militantes e discuti-lo até 17 de dezembro. O que o PMDB quer é ter um projeto para o Brasil. Não estamos olhando o passado, estamos olhando para o futuro”, justifica Temer. O vice-presidente garante que o partido terá candidato a presidente em 2018. O documento também servirá para posicionar o partido em relação às propostas enviadas pelo governo ao Congresso.

Como tudo que envolve o vice-presidente da República, a divulgação do texto num almoço com jornalistas no Palácio do Jaburu foi motivo de fricção com o Palácio do Planalto. Temer chegou a ligar para o ministro de Comunicação Social, Edinho Silva, e para o presidente do PT, Rui Falcão, para desmentir trechos atribuídos ao documento com duras críticas ao governo e ao PT que foram divulgados pela Folha de S. Paulo. “Esse texto não passou pela minha mesa, é apócrifo”, disse o ex-ministro Moreira Franco. No fim da tarde, Temer encaminhou o documento oficial à presidente Dilma Rousseff.

O PMDB faz um contraponto às propostas do PT e uma crítica aberta às concepções econômicas de Dilma. “A presente crise fiscal e, principalmente, econômica, com retração do PIB, alta inflação, juros muito elevados, desemprego crescente, paralisação dos investimentos produtivos e a completa ausência de horizontes estão obrigando a sociedade a encarar o seu destino”, afirma. E conclui: “Não temos outro caminho a não ser procurar o entendimento e a cooperação.”

Redigido após consultas a economistas, cujos nomes não foram divulgados, o texto é um programa de governo para enfrentar a crise na eventualidade do impeachment da presidente Dilma, muito mais do que uma plataforma eleitoral para 2018. Com isso, Temer reposiciona o PMDB programaticamente em relação aos agentes econômicos e se coloca como alternativa de poder, mesmo que não assuma publicamente essa posição. Também sinaliza a necessidade de um governo de união nacional. Diz que o país “clama por pacificação” porque a disseminação “do ódio e dos ressentimentos” inviabiliza consensos políticos, “sem os quais nossas crises se tornarão cada vez maiores”. Diz que o Brasil está em “grave risco”, “profunda recessão” e “tudo parece se encaminhar para um longo período de estagnação”.


“Sem um ajuste de caráter permanente, que sinalize um equilíbrio duradouro nas contas públicas, a economia não vai retomar seu crescimento, e a crise deve se agravar ainda mais. Nosso desajuste fiscal chegou a um ponto crítico e sua solução será muito dura para o conjunto da população”, acrescenta o PMDB. Algumas propostas confrontam toda a estratégia do PT desde a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Por exemplo, o partido quer desindexar a economia do índice da inflação, inclusive o salário mínimo e as aposentadorias. Quer também promover uma reforma trabalhista, atribuindo aos contratos coletivos a regulação das relações entre trabalho e capital, exceto quanto aos direitos básicos. Para reduzir o deficit na Previdência Social, o PMDB sugere impor uma idade mínima para a aposentadoria de 60 anos para mulheres e 65 para homens. “Isso já está na Constituição”, garante Temer.

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