Após anunciarem o desligamento do PDT, o senador
Cristovam Buarque e a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão, assinaram
a ficha de filiação ao PPS, ontem, em evento na sede da legenda, no Conic. No
ato político mais concorrido da capital no ano, o presidente nacional da
legenda, Roberto Freire, deu boas-vindas aos novos correligionários e destacou
que a sigla ganha peso político com a chegada deles. No PPS, Cristovam pretende
disputar a Presidência da República e Celina, apesar de não descartar entrar
numa disputa majoritária, trabalha para concorrer à Câmara Federal (leia
Perfis).
Figuras
públicas de partidos das mais variadas ideologias participaram da cerimônia. O
governador Rodrigo Rollemberg (PSB) fez questão de marcar presença. Ele afirmou
que espera contar com o apoio do PPS ao Palácio do Buriti, além de ter
comemorado o “fortalecimento da esquerda”. Os distritais Raimundo Ribeiro, de
saída do PSDB, e Telma Rufino, que está sem partido, chegaram no mesmo ao lado
de Celina ao evento. Eles não admitem, mas também podem migrar para o PPS. Os
distritais Professor Israel (PV), Chico Leite (Rede), Sandra Faraj (SD) e
Agaciel Maia (PTC) prestigiaram a solenidade.
O senador
José Antônio Reguffe não discursou nem acompanhou o evento, mas passou no local
para desejar sorte aos dois na nova empreitada. Assim como Cristovam e Celina,
Reguffe deixou o PDT neste mês. Ele não concorda com a posição nacional da
sigla de integrar a base do governo federal, mas diz não se identificar com
nenhuma outra legenda no momento; por isso, decidiu ficar sem partido por um
período indeterminado.
Com a
saída dos três, o PDT perde força na capital. Antes partido mais forte do DF
com dois senadores e três deputados, agora fica apenas com os distritais
Reginaldo Veras e Joe Valle, licenciado da Câmara Legislativa enquanto responde
pela Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.
Cristovam
estava no partido havia 11 anos; Celina havia chegado à sigla em 2013. O
ex-governador do DF e ex-reitor da UnB não escondia a insatisfação com o apoio
do PDT à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) há anos. Ele, inclusive, a
contragosto dos trabalhistas, declarou apoio ao tucano Aécio Neves (PSDB) no
segundo turno das eleições de 2014. A chegada do ex-governador do Ceará Ciro
Gomes à sigla em 2015 para disputar o Palácio do Planalto no próximo pleito
melou de vez a relação de Cristovam com a direção nacional do PDT.
Ato tradicional
Todo
cenário de um ato político tradicional estava montado. Faixas com desejos de
boas-vindas aos novos filiados fixadas à beira da pista que dá acesso ao local
do encontro e cabos eleitorais vestidos com a camiseta da presidente da Câmara
ensaiavam gritos de apoio à Celina no novo partido. Depois de assinarem a ficha
de filiação em um auditório pequeno, ambos desceram para um espaço aberto no
Conic e continuaram os discursos.
Celina
rompeu com Rollemberg em junho do ano passado, mas seguiu como uma das mais
fiéis colaboradoras do GDF na Câmara. Além disso, os apadrinhados dela continuaram
nos cargos. Questionada sobre qual posição terá após a mudança de legenda, ela
afirmou que não mudará de postura. “Compromisso com a cidade em primeiro lugar.
Vou continuar com coerência na Câmara. Desde que anunciei a minha
independência, coloquei os cargos à disposição. Hoje, são de responsabilidade
do governador”, garantiu. Sobre concorrer a um cargo majoritário em 2018, ela
classificou como “muito cedo” para qualquer definição.
Amigo há
50 anos de Roberto Freire, Cristovam se disse emocionado por “assinar o
casamento enquanto comemora as bodas de ouro”. “A minha missão aqui é ajudar um
partido que tem história no momento em que o Brasil precisa de uma formulação
para o futuro e, ao mesmo tempo, precisa de uma maneira nova de fazer
política”, exaltou.
"A minha missão aqui é ajudar um partido que tem história no
momento em que o Brasil precisa de uma formulação para o futuro”
(Cristovam
Buarque, senador)
"Vou continuar com coerência na Câmara. Desde que anunciei a minha
independência, coloquei os cargos à disposição”
(Celina
Leão, deputada distrital)
Perfis
Cristovam Buarque
Como reitor da Universidade de Brasília (UnB) de 1985 a 1989, Cristovam
ganhou projeção no DF e se elegeu governador cinco anos depois, em 1994.
Naquele ano, Brasília e o Espírito Santo tornaram-se as primeiras unidades da
Federação a eleger para o Executivo um petista. No pleito seguinte, ele tentou
a reeleição, mas acabou derrotado por Joaquim Roriz. Em 2002, elegeu-se senador
e, um ano depois, foi convidado pelo então presidente Lula para assumir o
Ministério da Educação. Ficou um ano no posto, até ser demitido por Lula e
decidir se desligar do PT. Filiou-se, então, ao PDT, e disputou a Presidência
da República. Ficou na quarta colocação, com 2,6 milhões de votos — em 2010,
ele se reelegeu para o Senado Federal. Pernambucano, mora em Brasília desde
1979, quando começou a dar aula na UnB.
Celina Leão
Cria do
berço rorizista, Celina entrou na política por influência da mãe, Maria Célia,
secretária da Mulher no governo goiano peemedebista de Henrique Santillo, em
meados dos anos 1980. Em 2000, a distrital se mudou para Brasília, e, em 2005,
o então governador Joaquim Roriz a nomeou para chefiar a Secretaria de
Juventude. Muito próxima de Jaqueline Roriz, foi chefe de gabinete da amiga na
Câmara Legislativa entre 2007 e 2009. Em 2010, Jaqueline concorreu à Câmara
Federal e, em vez de fazer dobradinha com a irmã Liliane, decidiu apoiar Celina
para distrital. Com 7.771 votos e filiada ao PMN, naquele ano, a presidente do
Legislativo local conquistou o primeiro mandato. Depois, passou pelo PSD antes
de desembarcar no PDT, sigla pela qual foi reeleita.
Fonte:
Matheus Teixeira – Foto:Hélio Montferre/Esp.CB/D.A.Press – Correio Braziliense