Vista geral de Valparaíso: município goiano deve
protagonizar uma das disputas mais acirradas para a prefeitura local, pois o
PSDB investe para acabar com a hegemonia do PT
Disputa nos municípios vizinhos mobiliza os
principais partidos da capital federal, interessados em quem deve comandar as
prefeituras na próxima legislatura. Lentidão e falhas no recadastramento
biométrico provocam revolta na população
Enquanto os políticos goianos se movimentam para
disputar as eleições no Entorno, a população dos municípios vizinhos à capital
federal enfrenta enormes filas para votar em outubro. O Tribunal Regional
Eleitoral (TRE) recadastra os eleitores de 98 localidades, várias delas no
Entorno; por isso, muitos cidadãos dormem na fila para atualizar o Título de Eleitor.
O prazo acaba no fim do mês, mas, em algumas cidades, apenas 30% dos eleitores
se recadastraram. Não haverá eleições no Distrito Federal neste ano, mas as
lideranças partidárias de Brasília estão engajadas na corrida eleitoral na
região.
Uma das disputas mais acirradas deve ocorrer em Valparaíso, atualmente
sob o comando do PT, com a prefeita Lucimar Nascimento. O PSDB, partido do
governador de Goiás, Marconi Perillo, quer acabar com a hegemonia petista no
município. “Vou trabalhar pelos nossos candidatos do Entorno com o mesmo
empenho que daria à minha própria candidatura”, conta o presidente do PSDB-DF,
deputado federal Izalci Lucas. “Conversei com o governador Perillo e com os
deputados federais do PSDB de Goiás e me comprometi a dar total apoio”,
acrescenta. Ele diz que, com a janela para troca partidária que será aberta a
partir de 18 de fevereiro, o PSDB tentará trazer mais potenciais candidatos
para o partido.
O presidente do PDT no DF, Georges Michel, revela que a sigla acompanha
com atenção a movimentação eleitoral nos municípios vizinhos ao DF. “O trabalho
é conduzido pelo PDT de Goiás, mas também estamos empenhados. Queremos reeleger
o prefeito de Santo Antônio do Descoberto, Itamar Lemes, e também estamos
trabalhando pela candidatura de Ricardo Viana, em Valparaíso”, explica. Em
parceria com os pedetistas de Goiás, ele vai organizar um evento para
vereadores e pré-candidatos. “A fundação do partido quer dar uma orientação
sobre direito eleitoral aos candidatos, com informações sobre o que é permitido
e o que é proibido em uma eleição.”
O tesoureiro do PSB-DF, Daniel Cunha, foi incumbido de acompanhar com
atenção o desenrolar da corrida eleitoral no Entorno. Em parceria com a
senadora socialista Lúcia Vânia, que comanda o PSB em Goiás, ele tem discutido
candidaturas de nomes fortes do partido. “É lógico que damos sugestões e
acompanhamos tudo, por conta da proximidade do Entorno com o DF. Como a pressão
desses municípios na capital é muito grande, é de interesse do partido e do governador
Rodrigo Rollemberg que essas prefeituras sejam comandadas por pessoas dispostas
a fazer um trabalho conjunto”, justifica Daniel.
Espera longa na Justiça Eleitoral de Planaltina de
Goiás: cena recorrente
Filas
As eleições de 2016 em algumas cidades goianas devem ser as primeiras
com o cadastramento biométrico. Os cartórios eleitorais de Santo Antônio do
Descoberto, Planaltina de Goiás e Valparaíso, por exemplo, fazem os registros
das impressões digitais dos cidadãos, mas a falta de estrutura causa filas
gigantescas.
O Correio esteve em Planaltina de Goiás e encontrou eleitores que
dormiram no prédio da Justiça Eleitoral para conseguir uma senha. Na fila de
espera para o serviço, muita reclamação e cidadãos impacientes. Alguns
aguardavam atendimento havia cinco dias. A contadora Eliane Pereira Costa, 34
anos, chegou ao local às 2h de quarta-feira, mas, até as 13h da última
quinta-feira, não havia sido atendida. “Isso é um absurdo, um desrespeito com a
população. De madrugada, as famílias dormem aqui, com crianças e idosos. A fila
chega até a rua e ficamos sujeitos a assaltos, sem nenhum policiamento por
perto”, reclama.
Segundo a dona de casa Idalene Reis Rodrigues, 54 anos, a falta de
organização dos funcionários é o principal fator de indignação dos que estão na
fila. “Pegamos senha e voltamos no dia seguinte, mas eles estavam atendendo
gente que chegou depois. Isso não tem lógica. Se tiver de dormir aqui outro
dia, vamos invadir esse lugar”, alega.
O casal Renato Rodrigues Pereira, 24, e Luciene Guedes da Silva, 38,
aguardava na fila havia 11h quando conversou com a reportagem. “O sistema cai,
e eles não avisam. Ficamos sem saber e muito tensos com medo de voltar a
funcionar sem percebermos e perdermos a nossa vez. Ninguém quer voltar para o
fim da fila”, diz Renato, com a filha de 1 ano e 6 meses nos braços. A
costureira Benilte Pereira Costa, 58, também questiona a justificativa dada
pela demora. “Eles não informam nada direito, só dizem com má vontade que o
sistema caiu.”
Além disso, há muita desinformação entre os eleitores. Muitos ficam na
fila, pois temem multas altas ou o cancelamento do CPF. “Eu só estou aqui
porque tenho medo de ter algum problema com o meu CPF, caso não faça o
recadastramento. Se fosse por político, eu nunca perderia duas noites de sono”,
completa Benilte. Quem se cadastrar depois do prazo, está sujeito a multa de R$
3,51.
O chefe do Cartório Eleitoral de Planaltina de Goiás, Guilson Netto,
pediu ao TRE que dobre o número de máquinas cedidas para o serviço. Na semana
passada, a Corte ampliou o horário de atendimento, que será feito também aos
sábados. “Pedimos também a prorrogação do prazo para até 31 de março. O
atendimento começou há mais de três meses, mas, de outubro a dezembro, quase
ninguém compareceu. A maioria deixou para o fim”, revela. Dos 53,6 mil
eleitores de Planaltina, só 15,6 mil se recadastraram — o equivalente a 29% do
total.
Em Cidade Ocidental, 19 mil dos 36 mil cidadãos aptos a votar ainda não
procuraram a Justiça Eleitoral. Em Valparaíso, só 38% dos 72,9 mil eleitores
regularizaram a situação. “Estávamos fazendo o atendimento apenas em um turno,
mas agora estamos abertos das 8h às 18h, ininterruptamente. Atendemos mais de
600 eleitores por dia”, conta o chefe do cartório da cidade, Alberto Brambila.
"O sistema cai, e eles não avisam.
Ficamos sem saber e muito tensos com medo de voltar a funcionar sem percebermos
e perdermos a nossa vez. Ninguém quer retornar ao fim da fila”
(Renato Rodrigues Pereira, com a mulher, Luciene
Guedes da Silva, e a filha de 1 ano e 6 meses)
Fonte: Helena Mader – Fotos: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A.Press – Rodrigo
Nunes/Esp-Correio/D.A.Press – Correio Braziliense