Com a promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº
182/2007, no último dia 18, a chamada janela partidária foi escancarada de les
a les por 30 dias, permitindo que os candidatos às eleições deste ano e que
exercem mandato no Legislativo mudem de legenda sem o risco de cassação. O que,
a princípio, serviria como bálsamo para a falta de personalidade e identidade
dos partidos, depuração daqueles filiados poucos ajustados dentro das legendas,
na verdade, esconde modelo que se molda, com muita precisão, ao perfil dos
próprios políticos brasileiros, na sua grande maioria, distanciados anos-luz
das bases eleitorais.
Na
realidade, o que faz dos partidos siglas insípidas e amorfas é justamente o
fato de dar acolhimento a indivíduos que não conseguem olhar além do próprio
umbigo. Fechadas as urnas, o caminho natural da maioria das legendas é o da
composição com o novo governo empossado. É na coalizão com a maioria vencedora
que está a boa vida das agremiações partidárias.
Mesmo as
generosas verbas públicas que ajudam a sustentar os partidos não são capazes de
garantir a independência de cada um. Somente a partir apoio dado aos detentores
da chave dos cofres é que os partidos pavimentam o caminho para aquilo que mais
almejam além do poder: dinheiro. Muito dinheiro.
No
troca-troca das legendas, que deve durar até 19 março, entre 10% e 15% dos
políticos com assento no Congresso deverão migrar para outros partidos, num
processo de acomodação que nada tem de ideológico ou programático. Aliás é
sabido que grande parte dos políticos filiada às legendas sequer conhece o
estatuto do partido a que pertence.
No geral,
essa situação decorre principalmente do adiamento sine die de verdadeira
reforma política que, entre outras medidas, deveria pôr fim ao grande número de
legendas. O ideal, para aqueles eleitores mais bem informados, é que houvesse,
no máximo quatro partidos, sendo um a direita, um a esquerda e dois de centro,
contrabalançando os demais.
É preciso
atentar que no atual modelo político reside grande parte das causas que levaram
o país à maior crise da sua história. No atual modelo partidário, está não só a
raiz da crise atual, como o adubo dessa e de outras futuras que virão. Diante
do caos a que assistimos, melhor do que escancarar as janelas partidárias,
seria abrir as comportas e deixar sangrar, até a última gota, o modelo que já
não serve ao cidadão e ao eleitor há muito tempo.
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A frase que não foi pronunciada
A frase que não foi pronunciada
“Chegamos à bolacha com água. Do jeito que vai, em pouco tempo, a
companhia aérea Gol vai distribuir só goma de mascar.”
(Alguém da turma da terceira idade em excursão)
Por: Circe Cunha
– Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google