O que mais se temia começa a ocorrer. A perspectiva de um segundo ano de
recessão, com recuo de mais de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), fato inédito
na história recente do país, o preço a pagar pelo trabalhador começou 2016
dando sinais de que, além da chaga social do desemprego, vai provocar
correção para baixo dos salários em geral.
É,
infelizmente, um daqueles ajustes que a economia acaba impondo às pessoas e às
empresas, depois que os governantes se recusam — para evitar desgaste político
— ou não são capazes, por inépcia, de fazer o dever de casa, apesar de todos os
sinais de que viria período de vacas macras.
A geração
de deficits fiscais pelo governo brasileiro por três anos seguidos (2014/2016)
terá consequências desastrosas para a economia do país e, se nada for feito,
vão sobrar para as famílias sacrifícios que poderiam ser evitados. Para as
empresas e o próprio governo, a perda de credibilidade no mercado de crédito
internacional, com o consequente aumento do custo do dinheiro a ser tomado, já
vem ocorrendo desde o ano passado, com o rebaixamento da nota brasileira pelas
agências de rating.
No plano
interno, a perda da confiança dos agentes econômicos na capacidade do governo
de tirar o país da crise se reflete na falta de investimentos na expansão dos negócios
e na baixa tomada de crédito pelas empresas. O consumidor, por sua vez, não se
sente seguro para se endividar no crediário, já que o desemprego bate à porta e
a inflação vem comendo parte do poder de compra que ele ainda tem.
Com a
virada do ano, sem qualquer sinal convincente de que o governo vai superar a
crise política em que se meteu e que o impede de agir, as empresas são cada vez
mais forçadas a reduzir os custos fixos. O primeiro resultado disso foi o
desemprego de milhões de pessoas.
O segundo
veio mais cedo e mais contundente do que se previa: as negociações salariais de
2016 estão mais difíceis e tendem a aceitar a redução do salário real em troca
da manutenção do emprego. Levantamento feito pela plataforma de salários da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), dos 374 dissídios negociados
em janeiro a mediana dos resultados foi de reajuste salarial de 10%, ou seja,
perda de 1,3% em relação à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor
(INPC).
Com isso,
a mediana dos pisos salariados fechados no mês baixou dos R$ 1.032 obtidos em
dezembro para R$ 940, valor que supera em apenas 6,8% o salário mínimo de R$
880, em vigor desde 1º de janeiro. Especialistas temem que essa queda configure
tendência para a maior parte do ano, já que a conjuntura está impondo a demanda
pela correção de uma inflação alta em meio a uma recessão da economia e um
severo aperto nas margens de ganho das empresas.
Outra
preocupação é que essa perda dos salários para a inflação vai pesar na redução
da massa salarial do país, já comprometida pelo desemprego em geral e, em
particular, pela redução dos postos de trabalho de melhor qualificação,
sobretudo na indústria. Como discurso e conversa fiada não movem a economia, é
hora de o governo priorizar a recuperação da confiança perdida, com menos
marketing e mais ação. Para começar, que reconheça seus erros e, em vez de
pedir aumento de impostos, adote austeridade e abra diálogo sincero com a
oposição e a sociedade.
Fonte: “Visão”
do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google