O prédio da CEU foi inaugurado em dezembro de 2014, mas já apresenta
problemas como infiltrações e mofo
Moradores de alojamento universitário reclamam de problemas estruturais
recorrentes, como falta de luz e água, apenas dois anos após reforma no local. Instituição
mudará atuação dos terceirizados para melhorar atendimento
quebrados, infiltrações, falta de luz e de água.
Esses são alguns dos problemas enfrentados pelos moradores da Casa do Estudante
Universitário (CEU), na Universidade de Brasília (UnB), menos de dois anos após
a reforma de mais de R$ 9 milhões (leia Memória). A prefeitura da instituição é
responsável pelos reparos e pela manutenção do local, mas os alunos reclamam
que o órgão não consegue atender toda a demanda.Um dos principais problemas é a
queda constante de energia. No último domingo, faltou luz por mais de 24h. O
problema no fornecimento começou às 5h, quando choveu forte no fim da Asa
Norte. “Eu acordei na hora em que acabou e, no início, a Asa Norte toda ficou
sem energia, mas logo voltou. E a CEU seguiu com o problema por horas”,
denuncia a estudante de letras Ingrid Souza, 24 anos.
No fim de
semana, uma dificuldade dos universitários foi o contato com a Companhia
Energética de Brasília (CEB), só possível por meio da prefeitura. Apenas no fim
da tarde de domingo, a estatal constatou que a falha era interna, e a UnB não
tinha funcionários para fazer o reparo. Cansados da falta de providências,
alguns estudantes estiveram na reitoria em busca de solução na segunda-feira
pela manhã. Após muita insistência, o reitor recebeu-os e autorizou uma
licitação em caráter emergencial para a contratação de uma firma privada, que
fez a troca do transformador danificado por volta das 18h do mesmo dia. O
equipamento, no entanto, é provisório.
As quedas
no fornecimento, porém, são antigas. A estudante de sociologia Doralice Assis,
21 anos, queixa-se que, depois da inauguração da CEU, em dezembro de 2014, a
prefeitura da UnB insistia que os apagões ocorriam porque a rede estaria
sobrecarregada no local. Mas a jovem, a segunda a chegar ao novo prédio,
incomoda-se desde o começo da estada. “Tive de chamar o plantão da elétrica
três vezes, e só havia eu e outro morador aqui”, reclama.
A jovem,
que deixou São Paulo para estudar em Brasília, também esperou cinco meses pela
troca do chuveiro queimado. E isso só aconteceu porque ela comprou o aparelho
com dinheiro do próprio bolso. Para ela, a falta de comunicação entre os
setores da universidade dificulta a melhoria. “Nós não temos recursos, estamos largados.
Faltou energia aqui e não tínhamos contato com quem é o responsável. Também não
temos um bom diálogo com a coordenação da Casa. Ficamos à mercê”, queixa-se.
O morador
da CEU Daniel Vieira, 20, diz que já foi solicitado que a Casa fosse tratada
com prioridade. “Não somos um departamento, um instituto, uma faculdade ou uma
sala de aula, que são usadas durante 1h30 e, depois, não têm mais ninguém.
Sempre nos informam que não tem como, porque a demanda da universidade é grande
e não há técnicos suficientes”, conta.
O aluno
de geografia relata, ainda, que, em maio do ano passado, o local ficou 15 dias
sem água. Para tomar banho, os moradores se deslocavam para o Centro Olímpico
ou para prédios da universidade com chuveiro. “Para resolver a situação
temporariamente, a UnB conseguiu duas bombas emprestadas. A compra foi feita
agora em 2016, mas não tem mão de obra para instalar. Quando falta energia,
provavelmente falta água, pois não tem força para levar até a caixa d‘água”,
lamenta.
Para a
estudante de geologia Nathália Almeida, 24 anos, a UnB peca no planejamento. O
banheiro do apartamento onde ela vive apresenta mofo no teto por causa da falta
de ventilação. Além disso, segundo ela, o prédio ficou duas semanas sem
porteiro nos dois blocos porque o contrato dos terceirizados acabou. “Isso aqui
à noite é escuro, várias pessoas que não são moradoras subiam e tudo ficou uma
bagunça, não havia controle de nada. Tivemos vários casos de vandalismo, como
paredes pichadas”, relata.
“Sem
dificuldades”
Diferentemente
do que dizem os alunos, a UnB nega que a Casa do Estudante Universitário tenha
problemas estruturais. Em nota, a instituição alega que as infiltrações e os vazamentos
não são generalizados nos dois blocos da CEU. Ao contrário, ocorrem em alguns
locais específicos e são tratados e corrigidos sempre que identificados.
A UnB
informa, ainda, que passa por uma mudança nos modelos de contratação dos
serviços terceirizados de natureza continuada, visando reduzir os custos, bem
como melhorar a eficiência e o atendimento. Entre o término de um contrato e o
início do novo, podem ocorrer curtos períodos em que a prefeitura não dispõe de
mão de obra. Atualmente, o órgão passa pela transição de alguns desses acordos.
Mas a previsão é de que todos estejam regularizados até a próxima semana. Em
conclusão à nota, a UnB resume que “ao longo de 2015 atendeu satisfatoriamente
a grande maioria das demandas de manutenção sem dificuldades”.
Assistência
A
Casa do Estudante Universitário atende alunos em situação de vulnerabilidade
socioeconômica, com renda familiar mensal de até um salário mínimo e meio per
capita, regularmente matriculados em disciplinas dos cursos presenciais de graduação,
cujas famílias residam fora do Distrito Federal (ou em regiões de difícil
acesso) e não tenham imóveis no DF. As unidades são mobiliadas com camas, sofá,
televisão, escrivaninhas, cadeiras, fogão, geladeira, micro-ondas e filtros de
parede. Dois apartamentos contam com acessibilidade para atender deficientes.
Memória - Negociação atrasos
Segundo um relatório da UnB, até o 2º semestre de
2010, a instituição oferecia aos alunos selecionados para o Programa de Moradia
Estudantil 368 vagas lotadas em dois blocos da CEU. A obra, que deveria ter
sido iniciada em julho de 2011, sofreu atrasos em razão da negociação
estabelecida entre estudantes e a Administração da Universidade para viabilizar
os trabalhos. A desocupação da Casa, prevista para fevereiro de 2011, só foi
concluída em setembro. À época, os universitários puderam escolher entre
auxílio-moradia — de R$ 510, naquele ano, mas com aumento em 2012 para R$ 530 —
ou vagas em apartamentos locados pela Fundação Universidade de Brasília. Com
orçamento de R$ 9 milhões, a entrega da obra estava prevista para março de
2011, mas, com os atrasos, o processo de licitação começou em novembro de 2011
e a construção teve início em janeiro de 2012, com previsão de entrega para
janeiro de 2013, de acordo com o decanato. Mas só foi entregue em dezembro de
2014. Hoje, a CEU conta com 360 vagas.
Fonte: Correio Braziliense –
Foto: Carlos Moura/CB/D.A.Press