Apaixonada por Brasília, Siglia descobriu a
exposição por acaso
Uma mostra, em cartaz até o fim do mês, reúne obras
pouco conhecidas do artista que é a cara de Brasília. Nada de painéis em
azulejo, mas, sim, imagens produzidas em aquarela, bico de pena e gravuras
Enganam-se os brasilienses que pensam
que a arte de Athos Bulcão é limitada a esculturas e aos famosos azulejos que
decoram vários monumentos da capital federal. Para surpreender os curiosos, a
fundação do artista reuniu obras especiais em uma mostra. Em Recortes II, todas
as peças foram retiradas do vasto acervo pertencente à Fundação Athos Bulcão.
Elas têm uma característica em comum: são figurativas. Imagens que revelam o
quanto o trabalho do artista carioca pode ser inusitada.
A curadora e coordenadora de pesquisa
da Fundação, Rafaella Tamm, 33 anos, selecionou as obras do acervo. Ela conta
que a escolha das obras foi baseada na variedade de técnicas artísticas do
autor. “Uma das nossas funções aqui é divulgar o trabalho do Athos. Trazer
coisas que o público não conhece é algo muito interessante.” A exposição, em
cartaz até 25 de junho, traz diferentes técnicas e a exploração de novos
materiais por parte do artista.
Em intercâmbio na cidade, Daniela foi à mostra por
indicação de amigos
Siglia Zambrotti, 73 anos, é carioca e
se encantou por Brasília assim que colocou os pés aqui, há 30 anos. “Amo esta
capital. Logo que cheguei, eu me apaixonei pelo Planalto Central. Athos Bulcão
é uma expressão forte, que tem muita ligação com a cidade. É a cara de
Brasília.” A aposentada, que entrou na fundação para comprar um presente, ao se
deparar com a pequena exposição, ficou encantada. “As peças são lindas. Essa
exposição é mais que interessante. Conheço a obra dele em geral, mas não tinha
ideia que ele fazia coisas tão bonitas”, afirma.
O pintor, escultor e desenhista Athos
Bulcão deixou a sua marca pela capital com os famosos painéis de azulejos. Eles
encantam os brasilienses e os visitantes que passam pelo Instituto Rio Branco,
pelo Brasília Palace Hotel, pelas paradas de serviço no Parque da Cidade, pelo
Congresso Nacional, pela Torre de TV, pelo Instituto de Artes da Universidade
de Brasília e, finalmente, pela Igrejinha Nossa Senhora de Fátima.
A secretária executiva da Fundação,
Valéria Cabral, 61, não esconde o orgulho de trabalhar há mais de 30 anos no
local. Ela, que tem o artista como mestre, conta que a mostra está sempre bem
movimentada. “Todas as pessoas que passam por aqui, mesmo que seja para comprar
uma lembrança, param e dedicam um tempo à exposição. As obras estão sendo muito
bem recebidas.” E acrescenta: “Athos está por todos os lados. No lazer, na
arte, nas escolas, na cidade. Todos passaram por ele em algum momento da vida”.
Trilogia
Recortes II é a segunda parte de uma
série de três exposições. A primeira, que ocorreu há dois meses, Recortes I,
integrou a obra de Athos Bulcão com a arquitetura da capital. Quem passou pela
fundação pôde conferir diversos estudos feitos pelo artista e sua evolução —
desde desenhos em pequenas peças de papel cartão, no qual esboçava os azulejos,
até um painel completo. “Apesar do espaço pequeno, as coisas novas são muito
bem-vindas. Athos é a cara da nossa cidade. As pessoas procuram as exposições
por isso”, valoriza Rafaella.
As obras estão espalhadas em um local
pequeno. Ressaltadas por uma parede azul, mostram aos visitantes um lado ainda
pouco conhecido do artista. Na mostra, é possível observar o trabalho de ateliê
de Bulcão, com algumas técnicas de gravura em metal, desenhos e outros
materiais. A estudante e intercambista Daniela Rezende, 22, veio do México para
uma visita à capital e não deixou de passar pela fundação para conhecer as
obras. “Recebi a indicação de amigos e estou maravilhada com a exposição.
Impossível vir até a cidade e não ter curiosidade em conhecer um pouco sobre
Athos Bulcão.”
As obras, que contam com técnicas em
aquarela e bico de pena, além de gravuras, são vistas por aproximadamente 50
pessoas por dia. A série terá continuidade em 2 de julho, com a terceira e
última fase da exposição Recortes. Desta vez, em homenagem ao aniversário do
artista.
Trabalho
Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro,
em 1918, mas passou a infância em Teresópolis. Perdeu a mãe antes dos 5 anos e
foi criado com o pai, o irmão 11 anos mais velho e as irmãs adolescentes.
Tímido, costumava misturar fantasia e realidade. Athos foi amigo de alguns dos
mais importantes artistas brasileiros modernos, que, aos 21 anos,
apresentaram-no a Portinari, com quem trabalhou como assistente no Mural de São
Francisco de Assis, na Pampulha. Antes de pintar, planejava as cores que
usaria. Não acredita em inspiração. Para ele, o que existia era o talento e
muito trabalho.
Programe-se - Exposição: Acervo:
Recortes II
Visitação: até 25 de junho de 2016, de
segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e sábado, das 10h às 17h - Local: AB
Galeria — Fundação Athos Bulcão - Endereço: CLS 404, Bloco D, Loja 1, Asa
Sul - Informações: (61) 3322-7801 ou www.fundathos.org.br - Entrada
gratuita
Fonte: Correio Braziliense – Fotos: Marcelo
Ferreira/CB/D.A.Press