Por Leonardo Mota Neto,
O escritor inglês Oscar Wilde esculpiu
uma metáfora imortal com sua farsa A importância de ser Ernesto. Era um
personagem real daqueles tempos da rainha Vitória o qual se destacava por sua
prudência. Mais tarde, a peça foi transformada em filme, que ganhou um título
ainda mais real: A importância de ser honesto. Temos aí o nosso gancho: ser
honesto é a evolução de ser prudente. Aplica-se tanto à Inglaterra da era
vitoriana quanto ao Brasil nesses tempos desavindos de honestidade. Finalmente,
aplica-se a Brasília, capital derivada de um país à deriva.
Estamos no topo da montanha e não
enxergamos o horizonte de mudanças do país e de Brasília, prometido pelos
constituintes de 1988. Depois de 28 anos, a autonomia política da capital da
República vaga entre o pior e o péssimo, tal qual o bom é inimigo do ótimo. A
montanha pariu um rato ao vermos a autonomia política, transformada em eleições
diretas para governador e Câmara Legislativa, chafurdar na lama dos interesses
paroquiais, imediatistas, mesquinhos, corporativistas e cartelizados.
A Câmara Legislativa do DF está mais
uma vez no centro gravitacional desse dilema de Brasília com suas próximas
eleições para a Mesa Diretora. O futuro presidente, a ser eleito por seus
pares, será um marco divisório de um processo autonomista que poderá chegar ao
ápice da involução ou às faldas de um movimento de regeneração após os
escândalos que abalaram o Legislativo local.
Faz-se urgente um impulso reativo por
meio de um sopro corajoso de renovação. Precisamos de gente não só prudente,
mas, sobretudo, honesta. O governador Rodrigo Rollemberg é um eleitor
qualificado desse processo eleitoral. Deseja manter equidistância (que Marco
Maciel chamava de equipotência), mas a hora turva que o Brasil e Brasília
enfrentam não concede a ele o luxo de lavar as mãos numa escolha que definirá
se caminharemos para o topo ou se voltaremos ao sopé da autonomia política, a
antes de 1988.
Entre a transparência e o embuste, a
ascensão e a queda, faça o seu jogo, governador, e tome à mão um candidato que
reflita o anseio da sociedade civil e militar também — para sair do torvelinho
das operações quase diárias, das delações, do vazamento de fitas gravadas sem
autorização da Justiça, das conduções coercitivas, das prisões que envergonham
vizinhos e amigos. E, ao escolher seu candidato, governador, pince um
representante do povo na CLDF que seja sério, trabalhador, que inaugure o
diálogo com todas as tendências político-partidárias e sociais, e que seja não
só prudente, mas honesto.
E que esse nome, eleito com o seu apoio
vital, a partir de janeiro possa contribuir intensamente para a governabilidade
do DF, até hoje em farrapos. Aos deputados distritais, não será menos espinhosa
a missão que se avizinha no dia 15. Irão votar no nome de seu novo presidente
como ceifeiros que escoimam o trigo, separando-o do joio. Será uma oportunidade
histórica para proverem uma virada no conceito derrisório que a opinião pública
do Distrito Federal nutre a respeito de seus representantes, com raras
exceções.
Existem bons nomes, desde os prudentes
aos honestos. Não se precisa da lanterna de Diógenes para identificá-los. Basta
os partidos e os blocos porem de lado a sedução do vício de se aninhar no
facilitário, procurando os que lhes darão mais vantagens, numa perversa
repetição da Lei de Gerson, que aflige todo o sistema político-parlamentar
brasileiro.
Com um presidente que paire sobre as
sombras das operações matutinas da Polícia e Receita Federal, porque tem
currículo e folha corrida limpa, a Câmara Legislativa será o símbolo do
reencontro de Brasília com a finalidade para a qual foi imaginada — uma cidade
de excelência, não de excelências. É uma exigência da sociedade, não um rogo,
não um reclamo, que o próximo presidente da Câmara Legislativa do Distrito
Federal não tenha apontado contra si nenhum processo criminal ou dolo
eleitoral, por mais leve que seja.
(*) Leonardo Mota Neto -
Jornalista