A Petrobras do DF
Por Circe Cunha
Com o anúncio, publicado no Diário
Oficial do DF, no qual faz uma consulta pública para a cotação de preços, a
Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) revelou que está em
busca de um empréstimo urgente de R$ 35 milhões para garantir liquidez
financeira e, com isso, cobrir gastos com infraestrutura e ações judiciais
pendentes com a construção do bairro Noroeste.
O que acontece com essa empresa não é
novidade e já vem sendo anunciado pela imprensa desde 2014. A crise que se
abateu sobre a Terracap, a ponto de quase levá-la à completa falência, decorre
dos mesmos fatores que têm vitimado a maioria das empresas públicas país afora:
a utilização das estatais para fins políticos, o que pode ser traduzido por
ingerência duvidosa de agentes políticos nos negócios das empresas,
obrigando-as a financiarem negócios nebulosos que, ao fim ao cabo, rendem
lucros bilionários apenas para esses grupos.
Observado de um ponto vista geral, o
que acontece com as finanças da Terracap não é muito diferente do que ocorreu
com a Petrobras. Submetida aos caprichos e à falta de ética de muitos
políticos, a Agência, que foi a maior financiadora de obras de infraestrutura
do DF, passa por uma crise sem precedentes, o que fez com que a arrecadação
desabasse de R$ 1,6 bilhão para R$ 360 milhões.
Deduzidos impostos e taxas, o lucro
líquido baixou de R$ 778 milhões para apenas R$ 19 milhões. Para alguns
analistas, a persistir o balanço negativo, a empresa chegará ao ponto em que a
receita será insuficiente para cobrir os custos fixos e ela poderá ser fechada.
Desde que se viu obrigada a investir R$
1,5 bilhão na construção do Estádio Mané Garrincha, a obra mais polêmica e
desnecessária de toda a história da capital e que rendeu um prejuízo estimado
hoje em R$ 1,36 bilhão, a Terracap nunca mais se equilibrou. Ao contrário,
entrou num redemoinho de dificuldades de tal ordem que mesmo as medidas
adotadas de afogadilho para sanear seus rendimentos ainda estão longe de trazer
de volta os bons anos de bonança.
Para uma empresa que ainda é a maior
proprietária de lotes do Distrito Federal, embora não se conheça até hoje a
lista de imóveis sob seu controle, fica até difícil explicar aos possíveis
credores, como foi que ela entrou no vermelho. O fato é que, desde a
emancipação política da capital, com a instalação de uma custosa, ineficiente e
desnecessária máquina administrativa, os políticos locais, em diversas
ocasiões, miraram os negócios da Terracap, principalmente quando se descobriu
que o loteamento desordenado de terras públicas poderia render bons resultados
para os diversos grupos que tinham trânsito livre entre o Palácio do Buriti e a
Câmara Legislativa. Transformado em moeda de troca política, dentro da lógica
que se estabeleceu de “um lote por um voto”, a Terracap virou joguete nas mãos
da elite política local. Deu no que deu.
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A frase que foi pronunciada
“Há três coisas que só se faz uma vez:
nascer, morrer e votar no PT”.
(Ex-senador Mão Santa)
(*) Circe Cunha – Coluna ¨Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google