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Um mar… de mangas podres

Foto ilustrativa -  Google

Uma pequena mostra da situação da EPDB - Desde que os brasileiros souberam da transferência da capital do Brasil para o interior, sonho de JK, ao ouvir a palavra “cerrado”  assustavam-se, achando que iríamos nos transferir para uma terra árida, seca, sem vida e, pior, sem recursos. Pelo menos, quando eu era criança, esse tipo de comentário era constante.
Lembro-me de um professor que dizia: “Naquele lugar até o pau nasce torto!”, referindo-se às contorcidas árvores encontradas aqui, as autênticas árvores do cerrado, nativas, as quais podemos admirar até hoje, quase 58 anos depois.

Ledo engano. Quando tudo se consolidou e, do nada, surgiu essa maravilha de cidade que tanto amamos, todos conheceram um manancial de nascentes, águas que formam a principal bacia hidrográfica do país, terra fértil, onde, parafraseando Pero Vaz e Caminha, “em se plantando tudo dá”. Uma beleza, onde frutas de incontáveis qualidades e tipos brotam pelo chão hoje sabidamente fértil de nossa Brasília.

Principalmente as jacas e as mangueiras. O homem do campo costuma dizer que “onde existem mangas podem existir todas as outras frutas que alimentam e nutrem a população”. E como temos mangas! Por todos os lados, em todos os canteiros e até, para ser mais precisa, na magnífica Praça do Buriti.

Mas… Pena sempre haver um “mas” como se fosse uma pedra em nosso caminho.

Para piorar, detritos e água empossada...
Estou realmente envergonhada com o que estamos presenciando na nossa cidade, principalmente onde há maior concentração de mangueiras, como no Buriti e na pista do Lago Sul, por exemplo, que é o caminho da minha casa.

Mangas, aos milhares e milhares que, quando ainda nas mangueiras enfeitam tanto a cidade, quando amadurecem e caem ou são derrubadas pelas pessoas que lhes atiram pedras e pedaços de pau, tornam as pistas e gramados uma verdadeira lixeira que, com o passar do tempo, a água das chuvas e o sol escaldante, apodrecem e enchem as ruas com aquele odor fétido de frutas em decomposição. E vão se acumulando, se acumulando, tanto as derrubadas quanto as chupadas pela população que, sem o menor senso de educação e civilidade, levando em conta o desleixo dos órgãos responsáveis pela limpeza, contribuem, ainda mais, para o caos e a sujeira.

Numa cidade que abriga mais de 150 representações diplomáticas, de todo o mundo, sinto muita vergonha diante do quadro dantesco daquele mar de mangas esmagadas, apedrejadas, chupadas e descartadas ao leo, numa poluição sem medida e que denota o descaso e a inoperância de quem deveria ser responsável pela ordem, manutenção e limpeza de nossas vias e gramados.

Os nossos diplomatas, assim como as pessoas que costumam viajar para o exterior, estão acostumados a ouvir, todas as noites, quando o trânsito fica mais calmo, aqueles pequenos tratores, com grandes escovas e recipientes que recolhem o lixo, idealizado especialmente para essa tarefa.

A caminho dos bueiros
Lixo? Que lixo? Sempre que ouço, lá fora, o barulho daquelas máquinas espetaculares e eficientes, de onde estou, abro a janela, encantada, fico a observar o trabalho delas e de seus condutores. Aí, me pergunto: que lixo estão recolhendo? Acostumada com o que vejo no Brasil, não considero um papelzinho aqui outro lá longe, uma folhinha caída aqui outra ali, como lixo. Mas, assim mesmo, eles estão lá. Firmes. Todas as noites. E, pela manhã, quando todos saem de casa, lá estão aquelas sarjetas limpas e bem cuidadas, que estimulam a população a zelar por elas e nunca jogar lixo no chão. Que inveja!

Aqui no Brasil, começaram a importar jet skis, carros, lanchas, eletroeletrônicos, robôs e tudo o mais. Por que será que nunca pensaram em importar aquelas maravilhosas máquinas de limpar as sarjetas? Eu acho que as pessoas que conhecem o que é civilidade e boa educação sabem muito bem a resposta. Portanto, reservo-me o direito de não mencioná-la aqui.

Além e acima de tudo isso que foi dito aqui, me preocupo muito com aqueles caroços e cascas de mangas que, empurrados pelas fortes chuvas, estão a caminho dos bueiros e bocas de lobo. Inchadas e avolumadas pelo efeito das chuvas e, levadas pela correnteza, podem causar um desastre sem medidas.

Ninguém pensa nisso. Ninguém se preocupa com isso. Ninguém se importa com isso. Basta sair às ruas e caminhar por onde nós caminhamos. É só perguntar a quem anda a pé sobre a lama misturada com as frutas abatidas, nos trilheiros nas saídas dos pontos de ônibus, sobre os canteiros centrais, para o que já sugerimos tanto aqui, que transformem em calçadas seguras e descentes, sob as árvores, possibilitando uma travessia tranquila, sem estragar os sapatos ou escorregar. O próprio pedestre indica onde construir essas calçadas. É só seguir as centenas de trilheiros que eles fazem todos os dias.

Este artigo foi escrito e fotografado no último dia 17, no auge da sujeira das sarjetas, calçadas e gramados do Lago Sul, onde existem mangueiras. Se foi limpo depois dessa data (esperamos), não importa. O que vale é o alerta e a prova de que leitores e a população em geral estão atentos, o que pode servir para as próximas safras dessa deliciosa fruta. Nunca é tarde para trabalhar e sonhar com uma cidade bem cuidada e que nos encha de orgulho.


(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Fotos – Jane Godoy – Google – Correio Braziliense

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