A foice e o beijo
*Por Circe Cunha
Modelos de estratégias políticas para angariar apoio nas próximas
eleições se repetem, em todo país, com vistas às próximas eleições. No vale
tudo para cooptar adesões de outros candidatos e partidos para formação de
palanques e acréscimo de tempo em rádios e televisões, a única coisa que tem
ficado de fora dessas tratativas, feitas à meia-luz, é o anseio e as
expectativas dos próprios eleitores.
Nessa equação oportunista dos políticos brasileiros, o desejo, os
receios e o mau humor dos eleitores parece dar soma zero. Na visão desses
expertises em táticas políticas, o eleitor é um detalhe a ser considerado
apenas durante alguns momentos da campanha. Autossuficientes, e do alto de uma
arrogância que lhes é própria, alguns políticos parecem não se dar conta de que
os bons ventos não estão mais soprando a seu favor. Pelo contrário. Diversas
pesquisas de opinião têm apontado que o sentimento predominante entre os
eleitores é o de decepção e mesmo de revolta contra a classe política em geral.
O pior é que essas pesquisas indicam ainda que os legislativos federal e
distrital estão entre as instituições com o menor grau de credibilidade, é que
os eleitores estão descontentes e mesmo raivosos com o atual modelo político
que vem sendo perpetuado, e principalmente com seus protagonistas. Às vésperas
das eleições, há um divórcio político e litigioso entre eleitores e candidatos.
Não é para menos. As seguidas denúncias de corrupção, que vêm à tona a cada
instante, deixam mostram sinais evidentes de traição da classe política.
Indiferentes a esses sinais claros, os candidatos para 2018 prosseguem
na mesma toada, entabulando acordos e planos que, creem, renderão frutos
futuros. Aqui, no Distrito Federal, não é diferente. Quem assiste à dança das
cadeiras, em torno dos cargos para o Legislativo e Executivo local, verifica
que, mesmo depois de tantas denúncias, inclusive, com prisões de alguns desses
figurões, a maioria dos candidatos insiste ainda em buscar apoios junto a
políticos não só enroladíssimos com a Justiça, como também que perderam
qualquer respeito junto ao eleitorado.
O que o eleitor informado quer é que políticos em débito com a Justiça
fiquem de fora não só do pleito em si, mas que permaneçam longe das tratativas
para formação de chapas e outras estratégias para 2018. É preciso ficar bem
atento às manobras dessas cobras criadas que buscam, nas próximas eleições,
apenas o abrigo da prerrogativa de foro para fugir às agruras da primeira
instância, principalmente se colocando com suplentes em algumas chapas, com
pré-acordo, para vir a assumir a titularidade do mandato, tão logo o oficial de
justiça bata à porta.
São estratégias malandras, mas que têm livrado meliantes da lei. Ao
insistir em fazer ouvidos de mercador aos reclames dos eleitores, o máximo que
esses políticos espertalhões vão obter é o aumento no fosso separando o cidadão
de seus representantes, com prejuízos, óbvio para a democracia. De fato, aos
olhos do eleitor informado, tecer acordos com denunciados pela justiça, visando
a possíveis vantagens políticas e eleitorais para o futuro, equivale, isso sim,
a receber, como selo firmado, o beijo. O beijo da morte.
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A frase que foi pronunciada
“Por um voto em branco, você está dizendo que você tem uma consciência política, mas você não concorda com qualquer um dos partidos existentes.”
A frase que foi pronunciada
“Por um voto em branco, você está dizendo que você tem uma consciência política, mas você não concorda com qualquer um dos partidos existentes.”
(José Saramago, escritor português, Nobel de
Literatura de 1988)
Vira volta
»Vendo o alvoroço em torno da aula na UnB com a disciplina criada para
ensinar sobre impeachment como “O golpe contra Dilma Rousseff”, lembramos de um
detalhe: até agora, ao contrário de outros registros, no túnel do tempo do
Senado, não há o impeachment da Dilma exibido na linha presidencial.
Imperdível
»Atenção interessados no pioneirismo de Brasília. Nesta sexta-feira
(9/3), às 19h, Tania Fontenele fará uma palestra sobre as mulheres e a história
de Brasília. Em seguida, o histórico filme Poeira e Batom. No Instituto
Cervantes, SEPS 707/907.
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google