"O nosso investimento em tecnologia nos últimos três anos foi perto
de R$ 200 milhões, seja em melhoria de processos internos, seja na estabilidade
de rede"
"A gente investe bastante"
Na esteira do maior lucro da história do Banco de
Brasília - R$ 260 milhões - , o presidente da instituição reforça ao Correio o
caminho cercado de otimismo. Entre as novidades estão a expansão da carteira de
crédito, a melhoria dos serviços e o investimento em tecnologia
*Por Flávia Maia
O Banco de Brasília (BRB) registrou o maior lucro
da história da instituição: R$ 260 milhões. Os números foram publicados ontem e
apresentados na segunda-feira pelo presidente do banco, Vasco Cunha Gonçalves,
para uma plateia formada por funcionários, acionistas e integrantes do
Executivo local, como o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. O
evento ocorreu no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), no Setor
de Clubes Sul. Antes de começar a apresentação, o valor de R$ 260 milhões foi
projetado para o público, que gritou e aplaudiu o resultado.
O índice positivo traz impactos econômicos e
políticos. O bom desempenho deve ajudar o banco estatal a subir a classificação
em agências internacionais, como a Standard&Poor’s e a Fitch Ratings. A
nota dessas agências melhora a visão da instituição em relação ao mercado
financeiro. As duas agências chegaram a rebaixá-la em 2014 e 2016. “Na semana
passada, elas tinham colocado o BRB em perspectiva positiva. Então, quando a
gente publicar o resultado, entendemos que eles podem fazer uma melhoria do
rating”, avalia Vasco.
Do ponto de vista político, o resultado deve
amenizar o discurso da oposição de que a troca do dinheiro do fundo do
Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev-DF) por
papéis do BRB era um negócio ruim para o funcionalismo. Esse é o primeiro
balanço divulgado tendo o Iprev como o segundo maior acionista do banco. O
instituto detém 16,52% das ações e, a partir deste ano, terá direito a uma
cadeira no Conselho de Administração do BRB. O colegiado tem oito cadeiras. O
GDF continua como o principal acionista, com 80,33% das participações.
Em entrevista ao Correio, Vasco analisa a situação.
Comemora a alta de 42% do resultado operacional do banco, ou seja, no negócio.
Comenta ainda a queda da inadimplência e diz que, mesmo com o decréscimo de
7,8% na carteira de crédito, a instituição está mais sólida. Diz também que o
BRB continuará investindo na micro e pequena empresa e no crédito imobiliário.
Quanto à crítica da aquisição de ações do BRB pelo Iprev, é categórico: “Foi político-ideológica”.
A que o BRB atribui os bons resultados apresentados pelo balanço 2017? Vocês creditam a reestruturações internas ou à tímida recuperação da economia nacional?
A que o BRB atribui os bons resultados apresentados pelo balanço 2017? Vocês creditam a reestruturações internas ou à tímida recuperação da economia nacional?
O resultado não é só o trabalho de 2017. É um
trabalho que a gente vem traçando desde 2015. Eu atribuo o resultado ao
controle de despesas, tanto operacionais quanto administrativas. Ainda não
saímos da crise. Efetivamente, a gente vê um movimento de melhoria na economia
a partir do terceiro trimestre de 2017, que vem ajudar também. Mas o resultado
do BRB foi um processo mais longo.
Que ações foram feitas nesse processo?
A gente vem focado em controle nas despesas. Outro
ponto importante foi o saneamento da carteira de crédito. Nós focamos em
crédito de boa qualidade. Tanto é que, se você olhar o número de 2016 para
2017, a nossa carteira de crédito (em volume) diminuiu. A gente preferiu não
trabalhar com um risco maior.
O que seria essa carteira de melhor qualidade?
Quem paga?
Isso. O cliente pagador. Tecnicamente, a gente tem
alguns conceitos, notas de clientes. Então, a nossa carteira está muito
concentrada nas operações do rating (nota) bom.
O banco passou a ser mais criterioso?
Exatamente. Mais seletivo nas operações com os seus
clientes.
Essa seletividade tem dado resultado?
O resultado permitiu que a nossa inadimplência, que
chegou a 4,3% no ano de 2016, caísse para 2,8%. Nós estávamos com índices de
inadimplência acima do nível do mercado, hoje, nós somos um dos melhores. Com a
inadimplência menor, quer dizer que você está recebendo melhor.
Neste ano, o Iprev tornou-se o segundo
maior acionista do BRB. Muda alguma coisa na gestão?
Eu acho isso bom. Hoje, ainda ficam concentradas
80% das ações em poder do GDF e, mais ou menos, 16% na mão do Iprev. Em
governança, o Iprev vai ter uma cadeira no conselho. Na próxima assembleia,
será possível eles terem um assento no Conselho de Administração do banco. Como
o maior minoritário, ele pode requerer esse assento. Isso é participar da
gestão, conhecer os assuntos mais importantes e defender a instituição —
acionista tem de defender a instituição, porque os dividendos vão para ele.
Há perspectiva de que mais ações do BRB sejam
vendidas para o Iprev ou para o mercado?
Se o GDF tiver a disponibilidade de vender mais
ações, não precisa ser necessariamente para o Iprev. Nós temos 3% de ações que
estão no mercado, na bolsa, que a gente chama de free float. É pouco, o ideal é
que tivesse mais. Tem outros bancos, a exemplo do Banrisul, que têm muito mais
ações em poder das pessoas. Em termo de governança, a gente amplia a
transparência da gestão.
Houve uma certa resistência dos sindicatos e
da oposição em trocar o dinheiro do Iprev por papéis do BRB…
Foi mais por uma questão político-ideológica. Para
nós, eu vejo como positivo.
Tendo uma cadeira no conselho, o
representante do Iprev tem algum tipo de poder de veto?
Ele tem um voto. O Conselho tem oito cadeiras e,
entre essas cadeiras, o maior minoritário tem direito a um assento. Não
necessariamente ele veta alguma coisa, mas se posiciona, registra e coloca a
sua posição. Isso é registrado em ata. Ao longo do tempo, as pessoas entenderão
que isso é bom. O fundo precisa ter uma cesta maior de investimentos. Para
eles, é positivo. A gente vai mostrar que o banco tem um resultado importante e
que esse resultado será convertido para os acionistas.
Os investidores internacionais devem subir as
notas do BRB?
Isso. Na semana passada, a Standard&Poor’s —
que não conhece o resultado consolidado, apenas o trimestral — tinha colocado o
BRB em perspectiva positiva. Com o resultado, entendemos que eles podem fazer
uma melhoria do rating. Se eles colocaram em perspectiva positiva, é porque vêm
acompanhando os números.
Um dos novos focos do BRB seria o crédito
imobiliário. Como isso se desenvolveu? Com a retração a Caixa, foi
possível crescer nesse segmento?
O crédito imobiliário vem crescendo bem. Em
momentos em que a Caixa, que é o maior banco do país em crédito imobiliário,
restringe um pouco mais, a gente tem demanda maior. Como funding para o crédito
imobiliário é poupança e a nossa carteira de poupança veio crescendo mesmo na
crise, temos crédito a oferecer. A gente continuou com as mesmas condições, não
mudamos as regras. Então, a carteira de crédito imobiliário vem crescendo
sistematicamente. Não tem boom nem retração.
O BRB também atua no empréstimo para
a construção de habitação?
O que a gente está vendo a partir de 2017 é que as
empresas estão colocando os projetos em prática. Quem financia para fazer a
obra. Muitos tinham recuado. A construção civil estava com muito estoque,
agora, baixaram. O setor começou a demandar mais crédito, e a gente acha que
essa carteira crescerá significativamente agora em 2018. Nós temos recursos e
disponibilidade para esse segmento. Esse segmento é bom porque na cadeia é o
primeiro que emprega.
A queda na taxa de
juros também contribuiu para essa procura por crédito?
Sim. Quando os juros caem, o investidor começa a
olhar outras formas de ganhar dinheiro. Ele deixa de aplicar na taxa de
mercado, que estava alta, de 14% ao ano. O investidor vai começar a tomar
crédito e ir para a linha de negócio. Esse segmento da construção civil vai
crescer.
Vocês estão querendo diversificar a
clientela? Não ficarão tão focados no funcionalismo público.
Isso. Todos os produtos e serviços do banco são
para um banco de varejo, de rede. Para atender todos os segmentos e clientela
vasta. A gente está diversificando a carteira e indo para o cliente espontâneo,
que é o geral, que não necessariamente está no governo, ele não é o funcionário
público. A gente vem há algum tempo ampliando isso.
Essa busca pelo cliente espontâneo também
está ligada à crise que o setor público — tanto distrital quanto
federal — vem passando?
Nos últimos anos, o setor público não cresceu como
em anos anteriores. Empregava mais, dava aumentos. Naturalmente, o BRB pegava
esse boom junto. Como o governo parou de contratar, de dar aumento, estacionou,
isso fez também com que nós nos movimentássemos mais em outros segmentos. O que
é bom para médio e longo prazo. A gente investe bastante.
Como?
Investindo em tecnologia. Até 2015, a gente não
tinha o mobile. Em 2016, começamos e, em 2017, está em 95% do que os outros
bancos têm.
Essa reclamação da tecnologia do
BRB era uma constante entre os clientes...
Sim. O nosso investimento em tecnologia nos últimos
três anos foi perto de R$ 200 milhões, seja em melhoria de processos internos,
seja na estabilidade de rede. Nós tivemos problemas sérios no passado. A gente
teve episódio de o banco ficar uma semana fora do ar, isso é ruim. Ficar fora
do ar tem de ser em casos pontuais, por minutos, aí, acontece em qualquer
banco. Nós trocamos também todo o parque de autoatendimento. São máquinas mais
modernas, com maior segurança para o cliente.
E para o próprio banco… No ano passado o BRB
foi vítima de estelionatários e de explosão de caixas eletrônicos.
Segurança é o maior gasto em todo o sistema
financeiro. A gente tem cooperação com todas as polícias. Todos os bancos têm.
Nesse ponto, os bancos não concorrem, todos se ajudam. Nós tivemos fraudes em
boletos, mas as explosões em caixas eletrônicos diminuíram por causa das novas máquinas.
Nas novas, os caras não sabem onde colocar o explosivo. Houve uma tentativa no
ano passado, aí eles recuaram. Aí, eles vão para sistemas mais frágeis, até
eles identificarem novas formas. É uma briga de gato e rato.
Quantas máquinas novas?
Mais ou menos 750 máquinas foram trocadas, o parque
todo.
E para 2018? O que o BRB espera?
A gente quer expandir a carteira de crédito,
prestar serviços — muitas empresas precisam de serviços de cobrança bancária,
nós estamos aí. Nós temos a nossa máquina, que é parceria com a Global
Payments, que é aquela máquina que paga com o cartão. Estamos divulgando BRB
Pay, estamos lançando agora. Nós temos a nossa área de seguros, que está
crescendo. A gente quer atender todas as especialidades, que hoje é um banco de
rede, de varejo, que tem todos os produtos, que o cliente possa necessitar.
(*) Flávia Maia – Foto: Bárbara
Cabral/CB/D.A.Press - Correio Braziliense