"Ninguém vai mandar em mim" - Advogado rebate acusações do adversário, Rodrigo
Rollemberg, de que nomes da tradicional política do DF conduzem sua campanha
Ibaneis Rocha (MDB) garantiu ontem, em entrevista
ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — que terá
total autonomia para governar o Distrito Federal caso consiga vencer a disputa
pelo Palácio do Buriti. “Tenho autenticidade naquilo que faço e ninguém vai
mandar em mim de maneira nenhuma”, assegurou. As declarações foram uma resposta
às críticas feitas pelo adversário Rodrigo Rollemberg, que tenta a reeleição
pelo PSB e enfrenta o emedebista no segundo turno. O socialista foi entrevistado
pelo CB.Poder na segunda-feira e disse que nomes como o do ex-vice-governador
Tadeu Filippelli (MDB) estão por trás da candidatura do advogado.
Para Ibaneis, as críticas de Rollemberg são
motivadas pela alta rejeição ao governo. “Ele, sim, é um político do passado,
que já ficou no passado. Ele teve mandato de toda natureza e chegou ao governo
do DF e não conseguiu realizar aquilo a que se propôs”, disparou o advogado.
O ex-presidente da OAB-DF disse não ter definido
ainda se apoiará alguém para a Presidência da República. “Quero saber primeiro
qual é a proposta do candidato a presidente para a minha cidade.” Ibaneis, no
entanto, fez elogios a Jair Bolsonaro (PSL). “Eu me identifico com muitas das
propostas que estão colocadas no seu programa de governo. Ele foi um
parlamentar que manteve posição. Tem propostas claras em defesa da
família e da segurança que me agradam muito”, comentou. Confira os principais trechos da entrevista.
O senhor disse ser contra a reeleição. Caso eleito,
não vai tentar um segundo mandato?
Eu vou trabalhar durante todo o meu mandato com o
Congresso Nacional para que a gente acabe com a reeleição. Acho que o mandato
correto seria de cinco anos. Você recebe um orçamento do governador anterior e
muitas coisas terá de ajustar. Então, com essa mudança, você teria mais tempo
para trabalhar e depois seguir na política, se quiser, ou então se recolher.
Vou trabalhar muito para acabar com a reeleição, mas temos uma cidade que está
bastante abandonada e eu não quero assumir esse compromisso ainda porque tem
muita coisa para ser feita no Distrito Federal. Eu vou me esforçar o máximo
para não ter que ir para a reeleição. Eu não acredito nesse instituto.
Por quê?
Porque você passa a pensar muito mais na política
do que naquilo que você tem que realizar como governante. Fica muito mais
preocupado em fazer alianças, em vender uma imagem que não é a realidade.
Governar é governar mesmo. Você tem que assumir compromissos não com a sua
próxima eleição, mas sim com aquilo que tem de fazer durante o mandato.
O senhor foi considerado um fenômeno nacional por
esse crescimento, saiu de 2% nas pesquisas para 41,97%. A que atribui isso? Ao
tempo de televisão, aos recursos investidos?
Desde o ano passado, quando me propus a entrar na
política, eu trabalho muito com pesquisas. Gosto de sentir e ver o sentimento
das pessoas. Todas as pesquisas qualitativas apontavam que a população do DF
queria uma renovação. Então, consegui levar esse sentimento ao povo durante a
campanha. Para esse crescimento conta tudo. Conta a cobertura da imprensa, que
é muito maior do que o tempo de televisão. Conta minha história de vida, de uma
pessoa que vem de família humilde, não tradicional do DF. Conta o fato de ter
nascido aqui. Conta a minha trajetória como profissional liberal. Isso tudo
demonstra para população uma proposta nova que não vem da política tradicional.
A questão dos recursos ficou mais ou menos igualada porque vários candidatos
tiveram acesso a dinheiro dos partidos. Recurso em campanha só serve para levar
a mensagem ao eleitor. Fiz muito disso pessoalmente.
Rollemberg bate muito na sua proposta de se
apresentar como novo e lembrou de alianças suas com nomes como o do
ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB). Como o senhor responde?
A política de renovação está acontecendo no Brasil
todo. Tivemos grandes lideranças que perderam as eleições neste ano. O
governador está procurando esse ataque rasteiro diante da baixa popularidade
dele e da rejeição. Ele, sim, é um político do passado, que já ficou no
passado. Ele teve mandato de toda natureza, chegou ao governo do DF e não
conseguiu realizar aquilo a que se propôs. Faltou a ele competência. Ele não é
do ramo. Isso está mais do que comprovado.
Em 2014, o senhor defendeu a contratação pela
Polícia Civil de aprovados em concurso mesmo tendo condenação criminal. Na
época, o senhor defendia um dos envolvidos na morte do Índio Galdino. Como
governador, manteria a mesma posição?
Existe um equívoco muito grande. Esse rapaz era
menor e cumpriu medida socioeducativa. Ninguém é condenado até o fim da vida.
Eu vou defender, sim, o direito de todos se reinserirem. Temos 15 mil presos,
imagina se todos eles não tiverem trabalho? Se for para ser assim, vamos
colocar pena de morte e condenar todos até o fim da vida… Não fui advogado na
época do crime, uma das maiores violências no DF, mas não misturo isso com o
direito de ele ter uma vida normal depois de cumprida a pena.
O senhor defende que as delegacias fiquem abertas
24 horas. Qual será o custo e há necessidade para todas as regiões?
Vou sentar com os policiais civis e avaliar qual
região tem a situação mais grave. Conforme o orçamento for melhorando, vamos
reabrindo. Isso vai se dar ao longo do ano pegando primeiro aqueles locais onde
o crime é mais violento. Vamos fazer isso com a contratação de policiais civis
que aguardam ser convocados por concurso e criando gratificação para
trabalharem no dia de folga, já que eles têm escala de 24h por 72h. Precisamos
recompor também quadros de peritos. A previsão nossa — fechando as nossas
divisas e melhorando a eficiência tributária — é colocar entre R$ 2
bilhões e R$ 3 bilhões no orçamento. Vamos também captar recursos federais, ao
contrário do que o governador vem fazendo.
Como o senhor avaliou a composição da nova Câmara
Legislativa?
Vi muita gente boa sendo eleita. Alguns, mesmo fora
da nossa coligação, já haviam declarado apoio a nós. Calculo que, com um
relacionamento direto e honesto, vamos conseguir fazer um trabalho muito
interessante para o DF. Mas os deputados não precisam imaginar que vão chegar
pedindo cargos nas administrações e nas secretarias, porque não vamos trabalhar
assim.
O senhor vai apoiar alguém para a Presidência?
Quero saber primeiro qual é a proposta do candidato
a presidente para a minha cidade. Brasília precisa de investimento. A gente
abriga aqui todos os poderes. Temos um problema seríssimo de segurança, a gente
gasta muito da nossa segurança para manter todos os órgãos aqui. Temos o
Entorno também, que capta muito dos nossos recursos da saúde. Estou conversando
com as equipes dos dois candidatos e quero saber quem tem a melhor proposta
para Brasília.
Jair Bolsonaro (PSL) teve votação expressiva aqui
no DF. Politicamente é muito difícil declarar oposição a ele...
Não tenho problema de ser a favor ou contra nenhum
candidato. O DF escolheu seu candidato a presidente da República no primeiro
turno, com essa votação que deu para o Bolsonaro. Eu me identifico com muitas
das propostas que estão colocadas no seu programa de governo. Ele foi um
parlamentar que manteve posição. Tem propostas claras em defesa da família e da
segurança que me agradam muito. Falta um pouco para a questão da geração de
emprego e renda. E eu preciso de um projeto para o DF, que tem sido maltratado.
Como está a costura com adversários como Alberto
Fraga, Eliana Pedrosa, com quem houve embates no primeiro turno?
Alberto Fraga já disse que se aposentou da política
e acho que deveria ter se aposentado há mais tempo. Eliana fez uma opção
errada. Ela se uniu ao pior que tem nesta cidade, a pessoas que trouxeram muito
atraso. Ela se aliou ao mal. Ela terminou o primeiro turno assim porque deixou
de fazer a política que ela aprendeu a fazer para fazer essa política ruim. A
minha aliança é com o povo. A nossa população quer renovação. Os eleitores de
Eliana e Fraga não querem Rollemberg. Eles não querem o atraso. Vou ser
governador de todos. Já fiz isso quando fui presidente da OAB-DF.
Seus adversários entraram com uma representação
contra o senhor por uma declaração sua de que construiria casas derrubadas pela
Agefis com o próprio dinheiro. O senhor mantém essa promessa?
Isso foi um compromisso meu. Todos os meus
adversários disseram que as casas foram derrubadas de forma ilegal. Vou abrir
um processo administrativo, verificar se foram ilegais — e pelo jeito
foi. Se forem, vou usar meus recursos, tenho muitos precatórios para receber.
Sei o que é crime eleitoral, porque sou advogado. Não me dirigi à casa de
nenhum desses eleitores, não fiz oferta em dinheiro, não sei nem quem são essas
pessoas. O crime eleitoral tem bases muito claras na legislação, se fosse assim
ninguém poderia prometer nada. Isso que eles não quiseram entender. E eles não
entenderam porque não querem. Você não vai ensinar quem não quer.
Essa área (26 de setembro) fica ao lado da
Floresta Nacional. Isso não acaba estimulando a ocupação de uma área tão
sensível do ponto de vista ambiental?
A área já está ocupada. A floresta já foi
destruída. Lá existem famílias. A gente tem que chamar os órgãos ambientais e
providenciar as medidas para barrar crescimento ilegítimo. Mas vamos ter que
trabalhar para legalizar isso. Não dá para passar o trator em 4 mil casas e
devolver a floresta. Não fui eu que deixei construir. Temos que combater a
ilegalidade. O que os governantes do DF fizeram? Deixavam acontecer para depois
se beneficiar da miséria dos outros.
Qual a sua opinião em relaçaõ ao Uber?
Os aplicativos vieram para ficar. Sou e fui
favorável, quando era presidente da OAB-DF, mas acho que os motoristas
empobreceram pela forma indiscriminada com que as empresas cadastraram todos. O
aplicativo era para ser a complementação da renda, mas virou a primeira renda,
devido ao desemprego. Vamos ter que conversar com todas as categorias e arrumar
uma maneira com que eles trabalhem, atendam a população e consigam ter renda
que garanta a sobrevivência. Não se pode ter 24 mil carros cadastrados. Temos
que ver quem está desde o início e chamar as empresas para negociarem.
Mas não vai subir o preço?
Não precisa subir o preço, temos que ver a
quantidade que atende a cidade. É muito melhor que eles atendam e tenham uma
boa remuneração do que todos ficarem brigando por uma corrida. As concessões de
táxis são feitas através de estudos. Queremos regular o mercado para todos
sobreviverem.
Alexandre de Paula - Foto: Ana Rayssa/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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ELEIÇÕES 2018