Danilo Vale
Depois de se destacar no rock, no chorinho, no
samba e nas artes plásticas, Brasília passou a ser uma referência no design.
Uma das minhas peças preferidas é a Cadeira Athos Bulcão, criação do
brasiliense Danilo Vale, 33 anos. Não é mera cópia, é uma releitura, que, no
entanto, mantém o espírito de síntese, simplicidade e despojamento de Athos. É
todo um campo experimental que se abre para a arte brasiliense.
No fim de semana, fui conhecer a cadeira criada por
Danilo na Fundação Athos Bulcão. E, depois, quis conversar com ele. Danilo
nasceu em Brasília, passou alguns anos fora da cidade, mas voltou para ficar.
Todo brasiliense tem uma relação intensa com Athos Bulcão. Danilo recorda vir
de viagem das férias e se deparar com o mural do Athos já na chegada no
Aeroporto de Brasília ou de passear pelo Parque da Cidade com a família e
apreciar a beleza requintada das paradas de ônibus ou dos painéis de azulejos.
Então, quando teve a oportunidade de fazer um
designer autoral, quis produzir peças que tivessem alguma relação com a cidade.
Quis homenagear Athos, que era um ícone para ele, pois democratizou a arte na
cidade, fez uma arte acessível a todas as pessoas, enquanto muitos artistas
permanecem limitados ao espaço limitado das galerias. Permitiu, generosamente,
a interação pública do brasiliense com sua arte.
É uma obra gráfica de um peso muito forte, enfatiza
Danilo. Fica fácil utilizar por conta dos aspectos geométricos, dos contrastes
e das cores simplificadas. Com certeza, se fosse construir uma cadeira a partir
da obra de outros artistas não teria a mesma facilidade de fazer.
Apesar de todos os problemas da instituição, o
curso de designer da UnB é um espaço de conhecimento e experimentação. “É
diferente de um aluno que estuda em São Paulo”, comenta Danilo. “A UnB tem o
minhocão desenhado por Oscar Niemeyer ou um painel do Athos no Instituto de
Artes. Isso tem um efeito”.
Antigamente, quem se destacasse em Brasília no
campo das artes precisava se transferir para o Rio ou São Paulo para se
desenvolver. Mas Danilo faz parte de uma geração que abraçou Brasília e foi
abraçado por ela. Sobrevive do trabalho de design, criou uma firma, vende
móveis e faz projetos especiais para empresas ou para pessoas que queiram um
mobiliário exclusivo. Desenhou óculos para a empresa Rever. Está aumentando a
linha dos produtos. Estamos começando a entender e aprender a viver em
Brasília”.
Danilo se comove quando fala de Athos Bulcão: “É
muito doido falar do Athos, é um ídolo e tive a oportunidade de atrelar meu
nome ao dele.” Danilo pergunta: “Quando retiraram os blocos feitos pelo Athos
para a reforma da pirâmide do Teatro Nacional senti uma falta enorme. Já
imaginou se não existissem os painéis do Athos no Parque da Cidade ou nas
escolas? Ele agrega valor estético e emocional às obras públicas e paisagens de
Brasília. Poucos artistas tiveram esse impacto na cidade. Estamos começando a
aprender a viver em Brasília.”
Por Severino Francisco – Jornalista, colunista do
Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog - Google