Professor Israel (PV) - Deputado Federal eleito » "Precisamos
resgatar o prestígio do professor"
Eleito para o primeiro mandato como deputado federal, o professor Israel
Batista (PV) concedeu entrevista ontem ao CB. Poder — parceria do Correio
Braziliense com a TV Brasília — e comentou sobre educação, principal bandeira
levantada para ele em dois mandatos como distrital. Ele criticou as propostas
do “Escola Sem Partido” e o formato do sistema de educação integral aplicado
hoje. “Estamos falando de verdadeiros depósitos de crianças. O governo
apressadamente tenta implantar as escolas em tempo integral, e a maioria delas
é um fiasco” afirmou.
Como o senhor tem avaliado as medidas anunciadas por Ibaneis Rocha na
transição?
Eu penso que a primeira característica que me chamou a atenção no
governador eleito é a capacidade de diálogo. Parece que ele pretende governar
ouvindo vários setores da sociedade, e isso me agradou bastante. A dinâmica da
eleição é diferente da dinâmica do exercício do mandato. Durante a eleição, ele
assumiu muitos compromissos, e eu não vejo possibilidade da execução de todos
eles.
Quais, por exemplo?
Especialmente compromissos com reajustes das categorias de servidores
públicos. Creio que ele vai ter alguma dificuldade. Se ele fez esses
compromissos que são tão difíceis de cumprir, ele está seguindo no caminho
correto, que é o de formar uma grande união na cidade para solucionar os
problemas.
Jair Bolsonaro anunciou algumas medidas em relação à educação. Queria
que o senhor comentasse um pouco sobre elas.
Não podemos tratar educação como um prisma binário de esquerda, direita,
sou a favor, sou contra. Cada assunto tem que ser tratado de maneira separada.
Sobre os temas tratados neste governo, eu considero alguns muito conservadores.
Nós precisamos discutir o futuro da educação em um mundo informatizado,
hiperconectado, com big data e inteligência artificial.
A declaração de que ele gostaria de ver a prova do Enem antes preocupa?
É algo descabido. O presidente da República não pode se preocupar com
esses assuntos. Pareceu muito Jânio Quadros, com todas aquelas atitudes
exageradas. Sobre o Escola Sem Partido, eu considero um tema mais moral do que
de educação. A gente tem certos professores que se excedem, mas, a meu ver, a
solução para isso é liberar o debate para doenças da liberdade em doses ainda
maiores de liberdade. Mas, em vez de discutirmos Escola Sem Partido ou esses
temas, creio que a gente deveria discutir quando vamos implantar nas escolas as
aulas de programação, deveríamos estar discutindo o avanço da inteligência
artificial.
Há apelos em relação ao investimento em escola em tempo integral. Não
ter o ensino integral dificulta muito a vida dos pais que precisam ter emprego
e não conseguem porque não têm quem cuide dos filhos.
Quando falamos de escola em tempo integral, hoje nós estamos falando de
verdadeiros depósitos de crianças. O governo apressadamente tenta implantar as
escolas em tempo integral, e a maioria delas é um fiasco. Os estudantes não têm
sequer um refeitório. Eu sou professor de história, eu acompanho essa realidade
no meu cotidiano.
Como é possível fazer isso tendo sido aprovado o limite do teto? É
possível reverter?
Nós precisamos reverter. É essencial. A imposição do teto tem uma boa
intenção, mas estabelece um teto de gastos e eu tenho defendido que os gastos
precisam ser separados dos investimentos. Cada real que você investe em
saneamento básico significa R$ 4 economizados em saúde. Então, isso é gasto ou
investimento? Cada dólar investido em educação, eu economizo R$ 3 em sistema
penitenciário. É gasto ou investimento?
A condição do professor também passa por mudança com investimento maior
nas escolas, no ensino básico?
Podemos reverter esse quadro com investimento na educação básica?
É a nossa única chance. Precisamos resgatar o prestígio social do
professor. Isso passa por salário e pela forma como autoridades tratam o
professor. Quando uma autoridade trata o professor com desdém, essa autoridade
passa uma mensagem à sociedade. Quando nós temos um protesto de professores, há
uma ação truculenta da polícia, e isso aparece na televisão, isso é uma
mensagem muito ruim.
Que perfil deveria ter o novo ministro da Educação?
De diálogo, respeitoso. Nós temos profissionais de educação que estão
adoecidos, que não têm apoio extrassala. Temos professores que trabalham em
escola sem orientação pedagógica, não tem orientador pedagógico. Nós temos
professores, que, muitas vezes, precisam mandar estudante para atividade
extraclasse, fora do horário de aula e não tem para quem mandar na escola.
Então, o ministro que vier a assumir tem de entender que jogar pais contra
professores é o pior dos caminhos. Tem de entender que a família é aliada do
professor.
O senhor conhece bem os rankings na educação. Como estamos aqui no DF?
O DF, nos últimos anos, tem ficado em 5º ou 6º lugar nos rankings
nacionais, no Ideb, Enem. A nossa curva está descendente, precisamos tomar
providências. Tivemos momentos melhores. Brasília cresce muito rápido, então,
temos novos assentamentos sem escola. Temos estudantes da Cidade Estrutural
que, todos os dias, precisam vivenciar o sofrimento de pegar um ônibus para
estudar no Guará.
E a junção do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente?0 O
senhor é do Partido Verde. Como vê essa possível união?
Eu fico muito feliz com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de não
fazer a unificação dos ministérios. À época, eu fiquei preocupado, mas hoje eu
só tenho elogios. Eu acho que um governante precisa também saber recuar, voltar
atrás, porque ele está ouvindo. Eu percebi que ele ouviu. Entendeu que o
Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Agricultura são pastas que precisam
estar separadas, porque se equilibram mutuamente.
Fonte: CB.Poder – Foto: Arthur Menescal/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense