Ídolo de barro
*Por Circe Cunha
Desastre. Esta, talvez, seja a palavra que melhor defina e resuma o depoimento prestado pelo ex-presidente Lula à Justiça Federal, em Curitiba. Durante quase três horas, coube ao ex-presidente exercer sua defesa de forma autônoma, sob o olhar congelado de seu advogado, acuado com a tática imposta pelo seu cliente parlapatão. Aos limites intelectuais conhecidos, Lula, como sempre, buscou interpor sua retórica de palanque, na tentativa que enredar a jovem juíza no seu raciocínio circular. Não deu certo. Ao assumir a própria defesa, desde o primeiro depoimento, Lula imaginara, do alto de sua arrogância, que com sua diatribe poderia, facilmente, dar um nó no processo, inviabilizando o prosseguimento de toda a acusação contra ele, sob o argumento de perseguição política.
Ocorre que uma coisa é a narrativa criada para dar dinâmica à vida
política. Outra é narrativa que se busca para contornar as penalidades da lei.
Nas ruas, a narrativa é feita de imaginação. Nos tribunais, valem as provas e
overedito do juiz. Os antigos diziam que não basta ter dignidade para viver. É
preciso dignidade também para morrer. Quando, lá atrás, reconheceu que “quem
conta uma mentira passa a vida inteira mentindo”, Lula não sabia que essa seria
exatamente sua sina, diante das muitas evidências reunidas pelas investigações
do Ministério Público contra ele.
Com isso, o ex-presidente segue sua ladainha emendando narrativas por
cima de narrativas e, pior, envolvendo um número sempre crescente de pessoas,
esticando um roteiro que, a princípio, era só seu. Mal assessorado,
mal-aconselhado e cercado de fanáticos, Lula não enxerga sua própria existência
e as ruínas que vai deixando atrás de si.
Praticamente todos aqueles que cruzaram seu caminho foram arrastados
para o labirinto. Como fauno ou minotauro, Lula tem aprisionado em seu mundo a
família, os amigos, o partido, o país e a própria vida. Trata-se de um
personagem complexo. Talvez o mais complexo a passar pela Presidência da
República. De fato, Lula e seu governo simbolizam exatamente o oposto do que a
população almeja.
Liberta do labirinto bolivariano, o que a sociedade busca agora é se
distanciar do pesadelo mitológico. Após os episódios do mensalão, os deuses do
Olimpo deram uma segunda oportunidade ao ex-presidente de renascer das cinzas.
Recomposto, Lula, ascendeu ao ponto mais alto da fama e da glória. O mundo lhe
rendeu homenagens. Os pés de barro do grande ídolo não resistiram ao peso das
muitas culpas. Lula é hoje apenas uma sombra melancólica de si mesmo.
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A frase que foi pronunciada
“O PT é como uma galinha que cacareja para a esquerda, mas põe os ovos para a direita.”
(Leonel Brizola)
“O PT é como uma galinha que cacareja para a esquerda, mas põe os ovos para a direita.”
(Leonel Brizola)
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(*) Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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JUSTIÇA