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O que houve com o trânsito? - “No meu tempo, não era assim. No meu tempo era assado”


O que houve com o trânsito?

*Por Jane Godoy

“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando sonhamos juntos é o começo da realidade!” – (Miguel de Cervantes para Dom Quixote)

Já li, em vários lugares, que a gente não deve nunca se apegar ao passado e, de preferência, nunca dizer a célebre e pouco recomendada frase: “No meu tempo, não era assim. No meu tempo era assado”.

Ao mesmo tempo em que concordo plenamente que “a fila anda”, que hoje as coisas mudaram, evoluíram (?), tenho certeza de que a gente não pode deixar completamente de lado as coisas boas que vivemos no passado e que tanto bem fizeram para as nossas famílias e para nós mesmos, para a comunidade no geral e para as pessoas no particular.

Estou convencida de que tudo aquilo que foi bom, que foi eficaz e que acarretou bons resultados, que funcionou, em todas as áreas, seja no âmbito familiar, seja coletivo, deve ser observado e aproveitado, sim. “Em time que está ganhando não se mexe!”. Deveria ser assim, não só no futebol, como em tudo nesta vida. Que a modernidade e a tecnologia nos perdoem mas é assim mesmo. Devemos aproveitar a sabedoria e o sucesso daquilo que deu certo no passado, sim!

Esse preâmbulo todo foi para falar, aqui, de um problema que centenas de leitores trazem para nós e pedem que façamos um comentário a respeito: o trânsito caótico que nivelou Brasília por baixo e a igualou às demais cidades, apesar de terem, muitas delas, centenas de anos. E a nossa só tem 58 anos.

Problemas mil à parte, o que daria um livro de 700 páginas com teorias, problemas, tentativas de soluções, elucubrações e palpites, hoje vamos, teimosamente, voltar ao passado, para tentar, daqui deste “espaço guardião” e, modestamente, citar o que dava certo nos tempos de antanho e, não sabemos por que ou por conta de quem, aboliram da rotina de nossa antes tranquila Brasília, que nos fazia contar papo sobre o quanto era desnecessário sair de casa com tanta antecedência para chegarmos ao aeroporto ou à rodoviária interestadual, por exemplo: onde estão ou o que fizeram com os fiscais de trânsito? Por que eles desapareceram do mapa e deixaram o caos acontecer e ficar por conta apenas dos motoristas que, aflitos, impacientes e, muitos deles mal-educados e sem civilidade, não entendem que devem dar chance para os outros também passarem.

Antigamente, (palavra necessária neste contexto) quando um semáforo ou vários deles entravam em colapso, fiscais do Detran se posicionavam naquele gargalo caótico e, altaneiros, apito na boca, braços abertos e cheios de autoridade, assumiam a catarse e controlavam o trânsito de forma organizada e justa. Ora era permitido descer, ora era a vez daqueles que estavam na transversal. Sem briga, sem impropérios, respeitosa e civilizadamente, sem esbarrões e arranhões, sem carros atravessados nas pistas. Cada grupo de motoristas sabia esperar a sua vez de passar.

Um lugar que me marcou muito foi o cruzamento do Eixo Monumental, na altura do Museu do Índio e do Memorial JK. A caminho do trabalho, eu não me preocupava com o fato de o semáforo estar intermitente, com aquela luz amarela nos garantindo que tudo estaria atrapalhado, se não estivesse alí, todo garboso e cheio de autoridade, um fiscal do Detran.

Tranquilos e nos sentindo protegidos, sabíamos que aquele homem fardado e com um apito na boca, não nos deixaria à deriva e aflitos para chegar ao nosso destino.

O que fizeram com eles? Por que os retiraram dessa tarefa tão importante, que vemos no mundo inteiro, quando necessários e indispensáveis? Será que a função deles agora é só multar, prender, resolver problemas de colisões, brigas no trânsito e mortes? E a prevenção? Não terá mais importância para a comunidade desta cidade que, a cada ano, triplica o número de veículos?

Essa é a maior prova de que o “antigamente” funcionava melhor e era mais eficiente do que o hoje, mesmo com a tecnologia, os cabos cibernéticos e a nuvem que, por sinal anda saturada.

Num pensamento filosófico e decepcionado, creio que o dia em que não precisarmos mais do ser humano para nos ajudar e organizar as nossas vidas, podemos fechar as portas, colocar um grande cadeado e desistir.

Vou deixar aqui um ensinamento do sábio Confúcio: “Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros”.


(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Foto: Bruno Peres/CB/D.A.Press – Correio Braziliense


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