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TRANSIÇÃO 2018 » Entrevista Laerte Bessa, futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional - Ibaneis criará o GSI apesar da reação da PM


Ibaneis criará o GSI apesar da reação da PM - O anúncio da extinção da Casa Militar e a criação do Gabinete de Segurança Institucional, a ser comandado pelo delegado aposentado Laerte Bessa, provocou a primeira polêmica do futuro governo. Mesmo com a pressão, o próximo governador ratificou a decisão

*Por Ana Maria Campos 

Na segurança pública, o governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), enfrenta a primeira grande polêmica da transição. A decisão de extinguir a Casa Militar, órgão que reúne grande poder na estrutura da máquina administrativa, causou reação entre oficiais da Polícia Militar. Há duas controvérsias na questão: a criação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado por um civil, e o nome escolhido, o deputado Laerte Bessa (PR/DF), ex-diretor da Polícia Civil. Mas Ibaneis mantém a aposta. Em entrevista ao Correio, o emedebista deixou claro que não cogita voltar atrás. “Não vou ceder a pressões”, assegura Ibaneis.

Pela disciplina militar, PMs têm reagido reservadamente à extinção do espaço de poder. Nos grupos de comunicação, no entanto, oficiais ameaçam com paralisações das rondas e com operações-tartaruga. Estão incomodados com a possibilidade de perderem benefícios e terreno para a Polícia Civil. A equipe de transição estuda retirar da folha de pagamentos do Fundo Constitucional os contracheques de PMs na reserva, o que pode significar o fim da paridade com os vencimentos de quem está na ativa. Mas, se isso ocorrer, policiais civis também serão atingidos. Alguns militares reclamam, ainda, da escolha da coronel Sheyla Sampaio para o comando da PM. Ela é da terceira turma da Academia de Polícia e deixou para trás duas gerações de oficiais.

Coronel da PM na reserva, o deputado Alberto Fraga (DEM/DF) virou porta-voz das insatisfações. Em um discurso enérgico, afirmou, na tribuna da Câmara dos Deputados, na noite de segunda-feira, que coronéis vão parar se a Casa Militar for extinta. “Se ele insistir com essa ideia maluca, de jumento, pode preparar a cadeia para todos os oficiais, porque ninguém vai para as ruas. Ninguém vai trabalhar”, discursou. Ibaneis foi categórico: “Não acredito que PMs vão seguir um deputado condenado por corrupção”.

Bessa o retrucou no plenário. Quase houve agressões físicas. Os dois integrantes da Bancada da Bala se estranhavam desde a campanha. Fraga e Bessa eram da mesma coligação, mas o delegado preferiu apoiar Ibaneis, quando o emedebista ainda estava longe da vitória. Bessa tem um estilo que esquenta desavenças. PMs da equipe de Rollemberg lembram que o deputado, na campanha salarial da Polícia Civil, xingou, em 2016, o então chefe da Casa Militar, coronel Cláudio Ribas, considerado inimigo por defender reajuste igual a PMs e bombeiros.

Um dos argumentos de Ibaneis e de Bessa para extinguir a Casa Militar é a composição do órgão. Eles sustentam que há mais de 400 policiais designados para trabalhar no órgão, fora da atividade-fim. Mas o atual chefe da Casa Militar, coronel Márcio Pereira da Silva, contesta os dados. “Hoje, o meu efetivo é de 178 PMs e 52 bombeiros”, afirma (leia entrevista na Eixo Capital, na página 22).

A Casa Militar é um espaço para a alta cúpula da PM e dos bombeiros. Os policiais que atuam no órgão são responsáveis pela segurança do governador e de seus familiares. Lá, também se decide o destino de oficiais e praças em investigações disciplinares, promoção e redução de interstícios e graduações. Eleito pela PM, o deputado Hermeto (PHS) divulgou vídeo ontem em que afirma ter conversado com Ibaneis, e este teria lhe assegurado respeito e manutenção de benefícios para a corporação. 

Os nomes da Segurança Pública
Sheyla Soares Sampaio, comandante-geral da Polícia Militar

A coronel será a primeira mulher a assumir o comando-geral da PMDF. Na corporação há 27 anos, ela chefia o Policiamento Regional Sul II, responsável por Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas e Riacho Fundo 1 e 2. Passou no curso de formação de oficiais como primeira colocada em 1994.

Anderson Torres, secretário de Segurança Pública
Delegado da Polícia Federal, Anderson é chefe de gabinete do deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR), parlamentar ligado ao futuro presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). O futuro titular da pasta também passou pela Polícia Civil, onde exerceu a profissão de papiloscopista.

Carlos Emilson Ferreira dos Santos, comandante-geral do Corpo de Bombeiros
Oficial do Corpo de Bombeiros desde 1989, o coronel assumiu diversos cargos na corporação. Chefiou a Seção de Planejamento Operacional e o Centro de Formação de Praças. Foi diretor de Orçamento e Finanças, subcomandante operacional, chefe do Estado-Maior Geral e comandante operacional dos bombeiros.

Robson Cândido, diretor-geral da Polícia Civil
Delegado-chefe da 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), Robson Cândido liderou a lista tríplice elaborada por delegados, com 242 votos. A exemplo de governadores anteriores, Ibaneis Rocha respeitou a vontade da categoria para a direção-geral da corporação.

Entrevista Laerte Bessa, futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
Laerte Bessa 
Natural de Goiânia (GO) e diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal por quase 8 anos, Laerte Rodrigues Bessa foi deputado federal por duas vezes e, na Câmara dos Deputados, presidiu a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. O último mandato foi de 2015 a 2018. Ele não conseguiu se reeleger.

A criação do GSI tem sido criticada pela Polícia Militar. O senhor e o deputado Alberto Fraga chegaram quase às vias de fato no plenário da Câmara. O que muda com a criação desse gabinete e isso prejudica de alguma forma a PM, como afirmou Alberto Fraga?
Não acredito que a PM nem o Corpo de Bombeiros serão prejudicados. Porque a criação do GSI vem para enxugar o quadro. O quadro hoje da PM e dos bombeiros na Casa Militar é um pouquinho exagerado.

Quantas pessoas?
Mais de 400 cargos. Acredito, a grosso modo, que é um pouco de exagero para cuidar da segurança do governador, do vice-governador, do prédio do Buriti e mais algumas atribuições.

Os militares podem compor essa nova equipe? Haverá alguma mudança nas atribuições do GSI em relação à Casa Militar?
Com certeza, vamos contar com os militares. Não vai ser formado somente por policiais civis. Vai ser formado por policiais civis, militares e bombeiros. É isso o que o governador quer. Não quer prejudicar ninguém.

O que o senhor tem a dizer sobre a declaração de Alberto Fraga de que, se isso acontecer, os militares parariam e deixariam a cidade insegura como nunca foi visto no DF?
Não acredito nisso. Ele foi muito acintoso ao se referir ao futuro governador. Isso aí, realmente, eu não gostei, e ninguém no plenário gostou da forma que ele tratou nosso futuro governador. Mas ele não tem poder nenhum de decisão.

Mas ele tem influência na Polícia Militar para provocar essa paralisação? Ele chamou o governador de jumento, disse que a PM vai mesmo cruzar os braços. Ele tem esse poder de comando na PM do DF?
Não acredito que tenha. A PM, agora, tem o comando de uma mulher, que foi escolhida dentro de um critério muito importante, e vai trazer para ela esse comando.

O deputado Fraga o acusou de ter mudado de lado. O senhor fazia parte de uma coligação e, depois, acabou apoiando o governador Ibaneis. O que o levou a tomar essa decisão?
A condenação dele. O Fraga foi condenado. Quando ele foi condenado, eu falei para a presidente da nossa coligação que a condenação dele inviabilizaria a candidatura dele. E por isso eu saí. Não concordo com candidato com a condenação daquele porte.

Essa discussão representa um pouco essa rivalidade entre a PM e a Polícia Civil? 
Pra mim, não existe essa rivalidade.

Na prática, ela existe.
Não existe. Essa rivalidade é esporádica. Não é normal no DF. Vemos que os policiais civis, os militares e os próprios bombeiros se dão muito bem no dia a dia.

Ela se deve a que, essa rivalidade?
No Brasil todo. É por salário, proteção de uma mais do que a outra. É questão financeira e de trabalho. As funções. Por mim, já tinha unificado as polícias.

O senhor poderia explicar o que é exatamente o GSI?
É um gabinete de segurança institucional que vai cuidar da segurança do Estado, do DF. Vai cuidar da segurança do governador, do vice-governador, do secretário de Estado, de investigações que envolvam pessoas ligadas diretamente ao governo, inteligência. As informações vão ter de ser imediatamente atribuídas dentro desse contexto. Vai ter o serviço de dignitário, no qual teremos policiais para dar segurança para pessoas de outros estados, outros governadores que venham visitar, pessoas de outros países que mereçam trabalhado a segurança. Vai ser uma Casa Militar mais enxuta.


(*) Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A.Press - Arthur Menescal/CB/D.A.Press - Minervino Junior/CB/D.A.Press - Ed Alves/CB/D.A.Press - Correio Braziliense


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