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NOVO GOVERNO » Polêmica na sanção da Luos


Polêmica na sanção da Luos - Depois de uma década de discussões, a Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) entra em vigor detalhando regras para imóveis da capital. Autorização de escritórios de advocacia em bairros nobres, no entanto, provoca críticas

*Por Helena Mader 

Além do governador, a solenidade no Palácio do Buriti contou com a presença de representantes do setor produtivo, deputados distritais e federais e administradores regionais
Moradores do Lago Norte reclamam da liberação de escritórios em áreas residenciais: emenda de última hora

A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) foi sancionada ontem pelo governador Ibaneis Rocha, com normas detalhadas para 360 mil terrenos do Distrito Federal. Após uma década de debates, que se estenderam por três governos, o texto que simplifica o arcabouço legal da cidade entra em vigor a partir de hoje. O chefe do Executivo vetou apenas quatro dispositivos do projeto aprovado pela Câmara Legislativa no mês passado, entre eles detalhes técnicos, como a cobrança de outorgas. Ibaneis manteve na lei uma emenda parlamentar que autoriza o funcionamento de escritórios de advocacia em áreas residenciais de bairros como lagos Sul e Norte e Park Way. Durante audiências públicas, a comunidade dessas regiões manifestou oposição à liberação de escritórios nas casas.

O governador garantiu, entretanto, que a liberação dessa atividade em residências não provocará transtornos à comunidade. “A maior reclamação era em relação ao impacto que isso poderia causar, mas houve a aprovação de regras que garantem que essas atividades tenham o menor impacto possível para a comunidade, possibilitando a aplicação de multas àqueles que desrespeitarem esse regramento”, explicou o governador.

Segundo o prefeito comunitário do Lago Norte, Cláudio Viegas, os moradores se sentiram “traídos” com a aprovação e a posterior sanção da emenda. Ele lembra que, em todos os debates e audiências públicas organizadas pelo governo e pela Câmara Legislativa, a comunidade demonstrou contrariedade à medida. “Profissionais que desenvolvem outras atividades vão se sentir à vontade para atuar nas residências, como os advogados, ou vão recorrer à Justiça para ter o mesmo benefício”, afirma Viegas.“Deputados que deveriam representar a sociedade traíram a população com essa proposta indecente. Foi acertado com o governo que a autorização para escritórios de advocacia não aconteceria”, acrescentou o prefeito comunitário.

O texto original da Luos, elaborado pela gestão de Rodrigo Rollemberg, não trazia esse dispositivo, incluído por uma emenda do então deputado distrital Raimundo Ribeiro (MDB). O secretário de Gestão do Território e Habitação, Mateus de Oliveira, lembrou que outras atividades funcionam em áreas residenciais sem causar transtornos à comunidade. “Os escritórios de advocacia estão equiparados a representações diplomáticas, escritórios de representação de municípios e governos”, alegou o secretário, acrescentando que a lei prevê mecanismos de controle, como multas, para impedir incômodos a vizinhos.

Empresariado
A cerimônia de sanção da Luos contou com a participação de representantes do setor produtivo, de deputados distritais e federais e de administradores regionais. O secretário Mateus de Oliveira explicou que a sanção é importante para “destravar a aprovação de projetos e o licenciamento de atividades. “Muitos processos enfrentavam dificuldades de licenciamento por causa da legislação obsoleta. As leis têm de acompanhar os anseios da sociedade e do setor produtivo”, argumentou Mateus.

O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF, Paulo Muniz, classificou a sanção como “um marco para Brasília”. Ele lembrou que o debate sobre a Luos começou no governo de José Roberto Arruda, teve continuidade na gestão de Agnelo Queiroz e foi concluído na administração de Rodrigo Rollemberg. Eleito, Ibaneis também articulou em favor da aprovação da proposta no fim do ano passado. “Toda a sociedade ganha com essa lei, que é muito importante para o setor produtivo”, reforçou Paulo.

O governador afirmou que a sanção da Luos é um avanço para o desenvolvimento da cidade. “O empresariado sempre reclamou da falta de segurança jurídica. Eu disse muito na campanha e repito: ‘Governo é para pobre; empresário, basta não atrapalhar’. Essa lei dá tranquilidade para que os empresários toquem seus projetos sabendo que vão receber o habite-se”, acrescentou o chefe do Palácio do Buriti. “Chegou a hora de demonstrar que a cidade é um lugar sério para investir”.

O que muda - Entenda a Luos e relembre a tramitação do projeto: » A Luos não cria lotes, mas define as regras para a ocupação de cerca de 360 mil terrenos em todo o Distrito Federal » O projeto define as regras de uso dos imóveis, como altura e utilização permitida » Estão fora do projeto os bairros incluídos na área tombada, como Plano Piloto, Sudoeste, Cruzeiro e Candangolândia — as cidades terão uma lei própria, o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUb) » Áreas em processo de regularização, como condomínios irregulares, não entraram no texto. A Luos só trata de terrenos registrados em cartório » O projeto da Luos foi enviado à Câmara Legislativa em novembro de 2017 e tramitou na Casa por mais de um ano, até ser aprovado por unanimidade » Antes disso, em outubro de 2017, o texto foi aprovado por unanimidade pelo Conselho de Planejamento Urbano e Territorial (Conplan) » A aprovação da Luos contou com apoio do setor produtivo, que vê na norma um instrumento para simplificar e facilitar o licenciamento de empreendimentos

360 mil: Total de terrenos da capital federal que seguirão as normas da Luos

Pressão por convocação extraordinária
O governador Ibaneis Rocha marcou uma reunião hoje para que os deputados distritais deixem o recesso

Diante da falta de mobilização dos deputados distritais para realizar uma convocação extraordinária, o governador Ibaneis Rocha pressionou ontem os parlamentares para se reunirem no recesso. Ele quer que a Câmara aprecie com urgência projetos como o que altera o modelo de gestão do Instituto Hospital de Base, o que cria gratificações para policiais aposentados ou de folga, além de propostas que reduzem tributos. Hoje à tarde, o chefe do Buriti deve se reunir com deputados distritais para debater o tema.

“Quero que os deputados tenham a sensibilidade de ver que são projetos importantes para a cidade. A urgência existe. Temos 200 leitos fechados no Hospital Regional de Santa Maria e não existe a possibilidade de abrirmos sem esses instrumentos legais”, argumentou. “Fizemos o projeto da segurança que trata da gratificação de policiais e, se ela não for criada, não vamos conseguir reabrir delegacias no prazo de 30 dias. E isso é urgente, porque as pessoas estão morrendo assaltadas”, ressaltou.

Entre os projetos do pacote estão propostas para assegurar a redução da alíquota de tributos, como os impostos sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCD). Outra proposta emergencial de Ibaneis é a que autoriza o governo a negociar R$ 32 bilhões em débitos de pequenos e grandes devedores. A ideia é criar um programa de negociação de dívidas de cidadãos e empresas com a Fazenda.

O presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente (MDB), aguarda o encontro de hoje entre Ibaneis e os parlamentares para tomar uma decisão. “Vamos esperar essa reunião para que haja o convencimento dos deputados. Temos muitos trabalhando, alguns em viagem, vamos aguardar para ver o quorum da reunião”, disse.
"Quero que os deputados tenham a sensibilidade de ver que são projetos importantes para a cidade. A urgência existe” - (Ibaneis Rocha, governador)


(*) Helena Mader – Fotos: Barbara Cabral/CB/D.A.Press – Fábio Setti/CB/D.A.Press – Antonio Cunha/CB/D.A.Press - Correio Braziliense

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