"A Câmara Legislativa é um ambiente para discussão. E eu não espero
que o projeto saia da forma que entrou. Espero que eles, como deputados, façam
o debate com a sociedade" - (Governador Ibaneis Rocha (MDB)
Ibaneis volta a pedir urgência - Governador modera o
tom sobre convocação extraordinária, diz que não pretende mais responsabilizar
deputados por eventuais mortes nos hospitais públicos, mas reafirma pressa na
aprovação de projeto de ampliação do Instituto Hospital de Base
*Por Caroline Cintra - Marina Adorno - Walder Galvão
Depois das declarações sobre a convocação
extraordinária da Câmara Legislativa que deixaram deputados distritais
incomodados, Ibaneis Rocha (MDB) passou a manhã ontem em compromissos em
hospitais públicos e pisou no freio no discurso. O governador disse que não
pensa mais em processar parlamentares para responsabilizá-los por eventuais
mortes provocadas pela demora no atendimento na rede pública. E garantiu
acreditar que tanto os deputados da base quanto os da oposição querem o melhor
para os brasilienses.
Ibaneis, no entanto, não vai recuar na disposição
de ressaltar a necessidade de aprovação urgente de várias medidas,
especialmente as relacionadas à saúde. Na pauta da convocação extraordinária, está
a ampliação para outras unidades do modelo de gestão do Instituto Hospital de
Base, tema que deve despertar muito debate entre os distritais. “A Câmara é um
ambiente para discussão. E eu não espero que o projeto saia da forma que
entrou”, disse. “Espero que eles, como deputados, façam o debate com a
sociedade e indiquem as modificações que acharem necessárias. Em um ambiente
democrático é isso que acontece”, acrescentou.
Sobre a relação com os sindicatos, que são críticos
à ampliação do Instituto Hospital de Base, o governador deixou claro que não
quer confronto. “É uma proposta do governo, mas estou aberto a todo tipo de
discussão. Conheço os dirigentes sindicais, conto com a confiança de todos.
Que, em vez de vir para a greve, venham para a negociação. Tragam suas
propostas”, sugeriu.
Ibaneis garantiu que vai acatar as sugestões que
aperfeiçoem o projeto. Ressaltou ainda que as declarações da véspera não
foram uma ameaça aos deputados, mas que diante da situação da saúde no DF, “é
uma irresponsabilidade não tratar o tema como urgência”.
Ibaneis havia dito que entraria com ações contra
deputados e não faria mais nenhuma nomeação para cargos, enquanto a Câmara
Legislativa não votasse as propostas do Executivo.
O tom do governador repercutiu bastante entre
deputados distritais. Até então, havia uma negociação fechada para que a
convocação ocorra na próxima quinta-feira, quando 17 dos 24 deputados estarão
em Brasília, o que garantirá um quórum para votação das matérias.
"Após os ânimos se arrefecerem, o governador vai voltar atrás e vai
dialogar com os deputados" Rafael Prudente (MDB), Presidente da Câmara
Legislativa
Desabafo
A 11 dias para início oficial das atividades na
Câmara, Ibaneis tenta convocar sessão extraordinária. Mas enfrenta resistência
de deputados da oposição e agora terá de vencer animosidade que surgiu entre os
integrantes da base, que se sentiram cobrados.
O presidente da Câmara, Rafael Prudente (MDB),
ressalta que o embate entre os poderes não resolverá problemas. “Se o ambiente
não for para construção, vamos reavaliar se manteremos ou não a possibilidade
da convocação”, destacou.
Sobre as alegações do colega de partido, Rafael
disse que Ibaneis exagerou nas palavras em um momento de exaltação. “Após os
ânimos se arrefecerem, o governador vai voltar atrás e vai dialogar com os
deputados”, acredita, como, de fato, ocorreu ontem.
O vice-presidente da Câmara, Rodrigo Delmasso
(PRB), acredita que as manifestações do governador demonstram a urgência em
aprovar projetos em benefício da sociedade. “Defendo o modelo do Instituto
Hospital de Base desde a última gestão. A única alteração que faria, seria
manter a contratação de servidores por concurso público”, ressalta.
O distrital, que está em viagem aos Estados Unidos,
diz que não poderá participar da sessão extraordinária, caso ocorra, mas que
apoia a convocação.
Em nota, o líder do governo na Câmara, Cláudio
Abrantes (PDT), frisou que a convocação dos parlamentares é necessária.”Há
pontos importantes a serem discutidos, que afetam a vida da população”, disse.
Para Abrantes, é necessário dar “um choque na saúde, que está em
colapso”.
"Ibaneis está criando um constrangimento com a Câmara para passar
essa aprovação. Acho a convocação desnecessária, mas se houver convocação,
estarei lá" Deputada Arlete Sampaio (PT)
Oposição
Integrante da oposição, o deputado Chico Vigilante
(PT) considera a convocação desnecessária. “O governador está
atrapalhado. Falta uma semana para a Câmara voltar normalmente e não temos nada
de urgente para ser votado. Ele (Ibaneis) quer acabar com uma estrutura que
existe há anos e colocar algo novo que não deu certo em nenhum estado”, afirma
se referindo ao Instituto Hospital de Base.
Para Arlete Sampaio (PT), os parlamentares têm
dever de participar de emergências, porém, a intenção do governador é de que os
deputados votem a toque de caixa. “Ibaneis está criando um constrangimento com
a Câmara para passar essa aprovação. Acho a convocação desnecessária, mas se
houver convocação, estarei lá”, garante. A distrital também critica a expansão
do Instituto Hospital de Base. Para ela, a medida desmontará o Sistema Único de
Saúde (SUS).
O deputado Fábio Félix (Psol) considera as matérias
encaminhadas por Ibaneis à Câmara complexas e, por isso, demandam um debate
maior. “A Câmara precisa ouvir ao menos a população e os servidores”, disse.
Leandro Grass (Rede) garante que vai participar da sessão, caso seja convocado.
Segundo Grass, é sua responsabilidade e tarefa do deputado comparecer às
sessões, sejam elas ordinárias, sejam extraordinárias. Entretanto, acredita que
uma sessão extraordinária é “absolutamente insuficiente” para votar as propostas.
“São temas de alta complexidade ”, criticou.
(*)
Caroline Cintra - Marina Adorno - Walder Galvão – Fotos: Barbara
Cabral /CB/D.A.Press – Minervino Junior/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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