Capivaras, carrapatos e mortes
*Por Circe
Cunha
Não passa um dia sequer sem que a
polícia florestal e mesmo os bombeiros são chamados para capturar capivaras
dentro de residências, em plantações, hortas, piscinas e até dentro das casas.
Os moradores da orla d Lago Paranoá são os que mais vêm sofrendo com a
proliferação acelerada desses grandes roedores. Esse não é um problema que vem
crescendo e tomando proporções alarmantes apenas no Distrito Federal. Em
algumas regiões do país, como no interior de muitas cidades paulistas,
mineiras, goianas e do Mato Grosso, a multiplicação desses mamíferos já
apresentam um sério problema de saúde pública e com implicações diretas também
na economia de muitos municípios.
A situação chegou a um tal estágio
que, em muitas localidades com grande concentração de capivaras, os terrenos,
alguns com centenas de hectares, vêm progressivamente perdendo valor no mercado
imobiliário. Muita gente tem deixado de comprar e vender terras onde existe a
ocorrência desses roedores nas redondezas, por medo dos prejuízos causados à
lavoura e à criação de pequenos animais que também são atacados.
As enfermidades transmitidas pelas
capivaras precisam ser conhecidas pelos governantes. A unidade da Embrapa
Pantanal produziu um livro sobre todos os detalhes do assunto. Um perigo
registrado é a febre maculosa. Os sintomas da febre maculosa, transmitida pelo
carrapato estrela infectado pelo animal, podem ser confundidos com diversas
doenças. Dores nas articulações, apatia, perda do apetite, anemia, dor de
cabeça, manchas avermelhadas na pele podem confundir no momento do diagnóstico.
Existe a vacina contra a febre
maculosa, mas os resultados não são satisfatórios. Exames sorológicos podem não
diagnosticar a doença no início dos sintomas. Há necessidade de notificação
compulsória nas instâncias da vigilância epidemiológica. O atraso no
diagnóstico pode trazer graves complicações que afetam desde o sistema nervoso
central até os rins, pulmões, lesões vasculares, podendo levar a óbito.
Aqui no Distrito Federal, a
multiplicação desses animais em toda a orla do Lago preocupa não só os
moradores como todos aqueles que usam esse espelho d’água para o lazer. O
problema atinge também os frequentadores dos clubes sociais situados nessa
região. Além da transmissão de doenças já conhecidas, esses roedores, principalmente
as fêmeas com crias novas, são extremamente agressivos quando sentem a
aproximação de estranhos. Trata-se, para quem já teve a triste experiência de
ser agredido, de um animal selvagem e que, dependendo da situação, pode até
matar suas presas, com o poder de pressão das mordidas e com o corte
afiadíssimo de sua dentição.
O mais assustador é que esse
problema parece crescer no sentido inverso da preocupação das autoridades
responsáveis. As medidas adotadas até agora, segundo informam, se limitam à pulverização
de venenos contra os carrapatos do tipo estrela e ao mapeamento das populações.
Moradores dessas áreas confessam, contudo, que nunca presenciaram qualquer
dessas ações. Para alguns biólogos que acompanham esses casos, trata-se agora
de adotar medidas visando a castração de grande parte desses bichos e o abate
de muitos outros, antes que essa invasão ganhe proporções de uma calamidade
pública.
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A frase que foi pronunciada: “A
barriga cheia de lombrigas e cabeça vazia de ideias e de sonhos, os males
históricos de nossas crianças são como uma marca indelével de nosso
subdesenvolvimento” (Monteiro Lobato, escritor e ativista brasileiro)
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Fotos: Gabriel Luiz/G1 – Blog – Google –
Correio Braziliense