Chega de pirotecnias e lero-leros
Já não esperamos 2021; é ele que espera por nós. No primeiro domingo do ano,
gostaria de falar sobre a única mudança possível a curto prazo: a pessoal.
Entramos o novo ano com a pandemia escorada nas costas, profissionais da saúde
exauridos, hospitais lotados, escolas ainda fechadas e sem previsão de volta e
a economia em sofrimento. Não, não dá para esperar o carnaval passar para
promover nossas pequenas grandes mudanças.
Caso não tenhamos a consciência de que todo esse colapso tem nossa parcela de
responsabilidade, atravessar o pântano que ainda virá será ainda mais penoso.
Pirotecnias não vão adiantar se cada um de nós não assumir sua parte e entender
que o planeta precisa de nossa generosidade e cuidado. Precisamos ser parceiros
com nossa morada e encarar de frente os desafios para torná-la mais acolhedora.
Se não houver uma transformação profunda no modo de viver e ver as coisas,
seremos reféns ainda de outras catástrofes e pandemias.
Acordemos para enfrentar a realidade com consciência e plena atenção. Vamos
aproveitar a onda de imunização, prima-irmã da esperança. Vamos fazer uma
faxina nos pensamentos e nas atitudes. Vamos entender de uma vez por todas que
há um vasto mundo entre o fatalismo e a esperança, entre as polaridades
extremas. Vamos deixar de lado as irmãs cizânia, desavença e encrenca. Vamos
ter a exata compreensão de que é preciso cobrar de quem é pago para servir: os
políticos. E assumir nossa responsabilidade de separar os bons e os maus
serviços.
De que lado você quer estar: junto a quem só espalha o ódio e o vírus ou de
quem semeia o bem? Só há uma forma de fazer o amor e a paz prosperarem:
entender que a raiz dos nossos problemas é profunda e não se arranca com
canetadas. Além do voto, temos a nosso favor a esperança realizadora, aquela
que convida à reflexão e ao despertar. Por um mundo melhor, devemos ser
melhores, capazes de reavaliar atitudes diárias que contribuem para tornar
ainda mais abissais as desigualdades e os preconceitos.
Assistimos absortos a uma pandemia devastadora, abrindo covas e feridas em
nossos corações, deixando família órfãs e grandes potências em perigo. O que
diferencia os povos não são as cores de suas bandeiras, mas a capacidade de
confrontar as dificuldades e de se reconstruir sobre novas bases. Ninguém faz
isso sozinho, mas se cada um fizer sua parte, o outro ser humano agradece.
Temos um ano inteirinho pela frente. Em 2021, vamos olhar com carinho, alegria
e mais esperança para nossas boas diferenças, que, no fundo, representam a
nossa riqueza cultural, social e até econômica. A fé no que virá só tem um
mártir: você e seu pensamento na coletividade.