test banner

Brasília-DF: As diferentes motivações do rolezinho

Dois eventos estão marcados para amanhã no DF. No Lago Norte, alunos e ex-alunos universitários protestam contra a discriminação. Em Taguatinga, adolescentes se reúnem para paquerar e se divertir.

ANDRÉ SHALDERS AMANDA ALMEIDA - CORREIO BRAZILIENSE - 24/01
Yuri e Caio, ligados a partidos de esquerda, farão parte do rolê no Iguatemi para lutar contra o preconceito social.
Quem for ao Shopping Iguatemi amanhã à tarde provavelmente não ouvirá os refrões de MC Da Leste, Bonde do Sheik, Os Avassaladores e outras estrelas dos chamados “funk da ostentação”, que marcaram os primeiros “rolezinhos” em São Paulo. Os funkeiros não frequentam as playlists da maioria dos organizadores do evento. Provavelmente, também estarão ausentes os tênis coloridos e as roupas de grifes. A maioria dos participantes é de alunos e ex-alunos da Universidade de Brasília (UnB), e muitos deles são grupos militantes de esquerda. “Mas temos estudantes de classe média e de baixa renda, pessoas que não cursam universidade”, diz o aluno de artes cênicas da UnB Caio Sigmaringa, 19.

“Fui muito ao shopping quando era mais novo. A gente ia para matar aula, passear, tentar entrar escondido no cinema, paquerar. Mas, como éramos gente branca e de classe média, nunca fomos repreendidos”, comenta Caio, que é militante do Juntos!, organização da juventude do Partido Socialismo e Liberdade (PSol). “É bem diferente do que observamos agora com os rolezinhos: a dita ‘nova classe média’ é bem-vinda para consumir, desde que fique quietinha e imite o comportamento dos frequentadores tradicionais dos shoppings. Cantar funk, expressar a cultura da periferia, aí não pode”, critica Caio.

O historiador e servidor público Yuri Soares Franco, 28, acredita que a maioria dos participantes do evento no Iguatemi entende a diferença entre o rolê de protesto e o rolezinho original. “É um evento em solidariedade aos rolezeiros. O objetivo é protestar contra essa visão preconceituosa, cujo objetivo é segregar os jovens da periferia”, diz. “Quando eu era mais novo, havia encontros de adolescentes roqueiros nas portas de shoppings. A gente ia para fazer barulho, zoar, se divertir. E, assim como os “rolezistas” de São Paulo, acabávamos reprimidos”, lembra ele, que é militante da juventude do Partido dos Trabalhadores.

Repressão
Mesmo compreendendo essa diferença, os organizadores do evento no Iguatemi se esforçam para aproximar-se dos moradores de cidades de renda mais baixa. Na tarde de ontem, o estudante Franklin Rabelo, um dos idealizadores, afirma ter sido abordado por policiais militares enquanto distribuía panfletos no Varjão. “Tomaram o meu material e me mandaram ir embora. Disseram que eu estava organizando uma baderna”, reclamou.

“A dita ‘nova classe média’ é bem-vinda para consumir, desde que fique quietinha. Expressar a cultura da periferia, aí não pode”
Caio Sigmaringa, estudante da UnB, 19 anos

Fãs do cantor Justin Bieber, Luís Fernando, Kauane, Kathleen e Evellyn se encontrarão em Taguatinga para se divertir.
“Cara, ser swag é ter estilo. Ter uma marra. Na verdade, é ‘se achar’, porque assim as outras pessoas também vão ficar te admirando”, explica o estudante Luís Fernando Soares, 14 anos, ao ser questionado sobre o que significa a palavra usada por ele para definir a turma que irá ao Taguatinga Shopping no sábado. Já há mais de 1,5 mil participantes com presença confirmada no evento, marcado por uma rede social. Em bate-papo com o Correio, ele e outros três “swagueiros” recriminam o termo “rolezinho” para denominar o encontro deles. Dizem que o “povo do rolê arruma confusão”, enquanto eles só vão se divertir.

 Luís Fernando é um dos organizadores do encontro, junto da estudante Kauane Oliveira, 12. Eles dizem que, embora os rolezinhos tenham ganhado holofotes em dezembro, os encontros de jovens entre 11 e 16 anos nos centros comerciais e espaços públicos de Taguatinga já ocorrem desde o início do ano passado. “A gente se encontra para conversar, tirar foto, paquerar”, relata Kauane. Segundo ela, nunca houve confusão nesses eventos. “Não tem bebida ou droga. Não vamos para quebrar os shoppings ou parques”, garante.

O estilo dos swagueiros tem uma referência: o cantor canadense Justin Bieber. “Ah, porque ele é tudo”, derrete-se Kauane, resumindo o amor pelo ídolo, que foi detido ontem depois de ser flagrado dirigindo em alta velocidade e bêbado em Miami. “A mídia só mostra as imperfeições dele. Mas ele é um cara que é exemplo”, defende a estudante. Os encontros reúnem os garotos boylibers e as garotas belibers. São jovens que ganham fama na internet, multiplicando seguidores. Eles não cantam, não dançam, não escrevem… O sucesso deles é ser marrentos. “Tem encontro que esses meninos ficam com uma mulher de um lado e outra do outro. Acabam ficando metidos”, diz Kauane.

Preocupação

As estudantes Kathleen Oliveira, 12, e Evellyn Brandão, 14, também marcarão presença no encontro. Elas dizem, porém, que, depois dos rolezinhos, os pais estão mais preocupados com os encontros. “Eles perguntam como vai ser, o que vamos fazer, se não vai ter confusão”, afirma Kathleen. Os jovens temem que, agora, os shoppins proíbam as reuniões. “Estamos achando ótimo que vai ter um rolezinho no Iguatemi Brasília (Lago Norte). Assim, reunimos só a nossa galera”, comenta Kauane.

“A gente se encontra para conversar, tirar foto, paquerar. Não tem bebida ou droga. Não vamos para quebrar os shoppings”
Kauane Oliveira, estudante, 12 anos

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem