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DF: Elas decidem as eleições

As mulheres representam mais da metade do eleitorado da capital e, pela primeira vez, ultrapassam a marca do milhão em condições de votar. Segundo especialistas, as cidadãs brasilienses são mais sensíveis a discursos de família e criteriosas diante das urnas.
"As mulheres estão mais preocupadas com o futuro e, na hora de votar, escolhem com muito mais cuidado seus candidatos. A gente pensa como eleitora e também como mãe" Maria Sônia Fernandes de Sousa Araújo, 38 anos, funcionária pública e moradora da Asa Norte.
Por: Helena Mader - Correio Braziliense - 23/02


"Não dá para votar em corrupto ou em político de ficha suja. Temos de avaliar bem o que eles podem fazer pelo país, estudar as propostas e conhecer o passado" Juliana Pereira Gomes, 21 anos, pedagoga e moradora do Gama.

Nas urnas do Distrito Federal, elas têm a supremacia. As mulheres, que sempre desempenharam papel importante na política da capital, terão participação decisiva nas eleições deste ano. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) revelam que 53,6% do eleitorado de Brasília é formado por cidadãs. A diferença entre eleitores e eleitoras é de 145 mil pessoas — o suficiente para eleger três deputados federais. 

Pela primeira vez, o número de mulheres em condições de votar ultrapassou a casa do milhão: 1.071.231 estará com o título de eleitor em mãos e poderão participar do pleito em outubro. Os homens ainda não bateram essa marca. Ao todo, 926.230 cidadãos estão cadastrados na Justiça Eleitoral para escolherem seus representantes na Presidência da República, no Congresso Nacional e na Câmara Legislativa.

As informações fazem parte do último balanço do TRE no DF, feito com base nas informações repassadas pelos eleitores no momento do recadastramento biométrico. A maioria dos brasilienses regularizou a situação e retirou o novo título, mas 29,9% do eleitorado ainda precisa cadastrar as digitais e atualizar os dados no Tribunal. A 4ª Zona Eleitoral (Gama e Santa Maria) é aquela com o maior número de mulheres: 67.805.

Além disso, em nenhuma das 21 zonas eleitorais do Distrito Federal o total de eleitores supera o de eleitoras. O alto percentual de mulheres na composição do total de brasilienses que vão às urnas não é novidade: segue, por exemplo, o mesmo registrado em 2010. Do total de pessoas do sexo feminino, 22,12% têm curso superior, contra 20,22% dos homens. Na análise de faixa etária, 47% delas têm idade entre 26 a 45 anos.

O cientista político João Paulo Peixoto, professor da Universidade de Brasília (UnB), garante que os candidatos não podem mais pensar em estratégias de campanha para a capital federal sem considerar o eleitorado feminino. Segundo ele, elas são mais criteriosas na hora de irem às urnas, o que também causa impacto nos resultados. “Os políticos precisam levar em conta essa realidade e adequar o discurso. O voto feminino tem características peculiares, as mulheres julgam com parâmetros diferentes dos usados pelos homens. Elas dão muito mais importância à honestidade dos candidatos, por exemplo”, explica o especialista. “O aumento da presença feminina no eleitorado é muito boa. Embora sejam, em média, menos politizadas, elas são mais atentas na hora de escolherem os candidatos.”

A funcionária pública Maria Sônia Fernandes de Sousa Araújo, 38 anos, afirma que as brasilienses têm papel importante como eleitoras e como candidatas. “A gente vê cada vez mais mulheres se aventurando pela política e virando representantes do povo. Isso é muito positivo. Além disso, também acho que elas estão mais preocupadas com o futuro e, na hora de votar, escolhem com muito mais cuidado os candidatos. A gente pensa como eleitora e também como mãe, temos responsabilidade com a próxima geração”, comenta Sônia, mãe de um garoto de 8 anos.

A pedagoga Juliana Pereira Gomes, 21, vai votar pela segunda vez. Apesar da pouca idade, ela demonstra maturidade política e senso de responsabilidade. “Já comecei a pesquisar quem será candidato neste ano para poder fazer uma escolha bem pensada. Não dá para votar em corrupto ou em político de ficha suja. Temos de avaliar bem o que eles podem fazer pelo país, estudar as propostas e conhecer o passado”, justifica a pedagoga, moradora do Gama.

Protagonismo
A forte presença das mulheres no eleitorado influencia as campanhas. O senador Rodrigo Rollemberg, secretário-geral do PSB no DF e pré-candidato ao Palácio do Buriti, afirma que é impossível arquitetar programas eleitorais sem pensar nelas. “A participação das mulheres no processo político vem crescendo de forma significativa, refletindo o protagonismo cada vez maior que elas exercem na sociedade”, comenta. “Isso gera reflexos também no debate. As mulheres têm muito interesse em temas como saúde, acesso à educação e a creches, geração de renda e condições de trabalho, por exemplo. E sabemos que elas tendem a ser muito menos tolerantes com a corrupção”, avalia o senador.

A antropóloga Lia Zanotta, professora da UnB e especialista em relações de gênero, explica que o perfil das eleitoras é heterogêneo, apesar de elas se preocuparem mais com questões como combate à corrupção. “Na hora da eleição, muitas têm um perfil mais conservador e serão sensíveis a discursos eleitorais como os de manutenção da família. Outras se interessarão mais por candidatos que fizerem promessas sobre geração de emprego, renda e igualdade de salários”, afirma a especialista.

Para ela, as mulheres não tendem a votar exclusivamente em candidatas, até porque os homens ainda são maioria entre os que concorrem a cargos públicos. “Por conta da cumplicidade masculina, eles tendem a dar mais oportunidades na política para os seus iguais. Eles são mais acostumados a relações fisiológicas nesse mundo de favores e contrafavores”, acrescenta a antropóloga.

O presidente do PDT no DF, George Michel, lembra que a relevância da participação delas está dos dois lados do jogo: no eleitorado e nas candidaturas. “Tivemos a nossa cota de mulheres completada, vamos apresentar 14 candidatas a deputadas distritais. E não tivemos dificuldade, já que o nosso quadro de mulheres com perfil competitivo histórico de trabalho pelo DF é grande. Isso ajuda a desenvolvermos um programa de governo com enfoque mais humano, voltado para temas como combate à miséria e ao desemprego, que são duas grandes preocupações femininas”, afirma George. “Não fizemos uma concessão às mulheres, elas que conquistaram espaço dentro do partido”, acrescenta o líder partidário.

Garantidas
Até agora, 79,1% dos eleitores do Distrito Federal fizeram o recadastramento biométrico. Falta pouco para as eleições deste ano poderem ser realizadas com base nos novos dados. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fixou o patamar de 80% como meta. Caso o número de recadastrados não alcance esse percentual, o TRE no DF terá de fazer as eleições com o cadastro antigo.

Cota

A Lei nº 12.034, de 2009, obriga os partidos políticos a reservarem 30% das vagas e, no máximo, 70% para candidaturas de cada sexo. Na Câmara Legislativa, há 24 cadeiras. Cada partido ou coligação pode lançar até 48 concorrentes, sendo 14 mulheres.

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