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Tecnologias para mapear: "Caminhos digitais"

Brasilienses sem formação em cartografia usam as novas tecnologias para mapear desde itinerários de ônibus até trilhas alternativas de mountain bike

Christian Tadeu e Paulo Santana, integrantes do Rebas do Cerrado: roteiros para bicicletas podem ser impressos ou utilizados em smartphones (no detalhe) (Foto: Beto Barata)

Por: Paulo Lannes - Veja Brasília.

Fazia algum tempo que a designer Anna Mendes guardava essa ideia. Frequentadora assídua dos restaurantes do Plano Piloto, ela queria reunir seus endereços preferidos em um mapa para compartilhar com outras pessoas. Em dezembro, a brasiliense recorreu a programas de computador e criou duas ilustrações em que apontava seus locais favoritos na cidade. Divulgados através do site www.theydrawandtravel.com, no qual artistas destacam pontos de interesse público em regiões de todo o mundo, as obras fizeram tanto sucesso que já foram compartilhadas mais de 21 000 vezes só no Facebook. A consultora em gestão de pessoas Janice Pereira usou outras ferramentas digitais. Integrante do grupo Rebas do Cerrado, ela faz parte da equipe que elabora planilhas de navegação alternativas para os praticantes de mountain bike. Atualmente, estão disponibilizados 39 roteiros na página eletrônica do grupo (www.rebasdocerrado.com.br), que podem ser impressos ou utilizados em smartphones por qualquer um. “Todos os domingos fazemos um dos roteiros mapeados”, diz a ciclista. Sem nenhuma formação na área de cartografia nem conhecimento extra de geografia, Anna e Janice estão longe de ser exemplos isolados. Com um tema bem específico em mente e a ajuda de dispositivos virtuais, cada vez mais brasilienses estão se aventurando na criação de mapas e desenhos que reúnem atrações, sugestões de passeios e soluções para problemas da cidade.
 
 
Esses novos cartógrafos amadores conseguem boa repercussão em redes sociais com traçados que revelam serviços menos óbvios, desprovidos de interesses de governos ou de grandes corporações e, o melhor, grátis. É o caso do mapa de árvores frutíferas espalhadas pelo Plano Piloto, que faz parte do trabalho de conclusão de curso da estudante de arquitetura Gabriela Bandeira, da Universidade de Brasília (UnB), e dará origem a um guia turístico da cidade. Com a notoriedade que o mapa ganhou no Facebook, muitos moradores descobriram os pés de pitanga no começo da Asa Norte, por exemplo, além de áreas repletas de abacateiros, amoreiras e goiabeiras.
 
 
Mobilidade urbana: o aplicativo MapeiaDF exibe linhas de transporte público e desenha rotas (Imagem: Reprodução)
 
 
 
Pomar gigante: aluna da UnB identificou os pontos onde são encontradas árvores frutíferas nas regiões mais centrais da capital (Imagem: Gabriela Bandeira)
 
Outro caminho para fazer sucesso na rede é oferecer soluções para questões que trazem transtornos ao cotidiano dos moradores. Foi assim que, cansados da falta de dados sobre a trajetória das linhas de ônibus, cinco amigos juntaram forças para tentar solucionar a questão. Utilizando um plano cartográfico parecido com o Google Maps, eles reuniram em um aplicativo números, rotas e preços dos transportes públicos do Distrito Federal. “Pensamos em facilitar a vida de quem, muitas vezes, se vê perdido ao chegar a uma parada de ônibus”, diz o estudante de engenharia de redes Danilo Filgueira, um dos responsáveis por desenvolver o MapeiaDF, que está disponível para testes no portal www.mobee.io e deve ser lançado ainda neste mês na plataforma Android.
 
Os primeiros mapas conhecidos, criados pelos gregos, surgiram no século VI a.C. para registrar os contornos do que se imaginava ser o nosso planeta. Cerca de dois milênios depois, na época dos grandes descobrimentos, as projeções cartográficas significavam a vida ou a morte para os que desbravavam oceanos. Por isso, a tarefa de elaborar plantas era desempenhada por especialistas. Hoje, com a evolução da tecnologia, o trabalho de representar determinadas áreas numa superfície de papel, ou na tela de um computador, deixou de ser atribuição exclusiva de craques da geografia ou especialistas em ferramentas digitais. Tanto que o designer Marcus de Oliveira, funcionário de uma agência de cooperação internacional, criou um esquema para tornar a lógica das quadras brasilienses mais amigável, depois de encontrar com muitos estrangeiros perdidos por aí. Usando apenas linhas horizontais, organizou as principais vias da zona central – entre elas, o Eixão, a L2 e a W3. “Durante a Copa, esses traçados serão um instrumento muito útil para os turistas”, diz o cartógrafo Daniel Andrade, formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). De acordo com o especialista, no entanto, os projetos deveriam ir além. “Divulgar na internet atinge apenas parte do público. O ideal é distribuir esse material em hotéis e nos aeroportos para que os visitantes também se beneficiem dos trabalhos”. De qualquer forma, com tanta gente dedicada a traçar mapas, a sensação é que se perder por aqui ficou mais difícil.

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