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#VAITRABALHARDEPUTADO: REGALIAS ALÉM DA CÂMARA

Com salário de 20 mil e verba indenizatória e de gabinete que chegam a R$ 200 mil mensais, distritais ainda contam com o direito de indicar apadrinhados para cargos no Executivo. Dos 31 administradores regionais, 14 são nomes que vieram dos parlamentares.
Administração de Taguatinga: antigo gestor, Carlos Jales foi preso e exonerado após denúncia envolvendo a liberação de alvarás.
Além do salário de R$ 20 mil, da verba indenizatória no mesmo valor e da cota para contratação de pessoal de cerca de R$ 200 mil mensais, boa parte dos deputados distritais conta ainda com outra regalia: o direito de indicar aliados para cargos públicos. Parlamentares governistas têm um quinhão no Executivo, especialmente nas administrações regionais. Entre os 31 gestores das cidades, 14 (45%) foram indicados pelos parlamentares. Até Raad Massouh (PPL), cassado no ano passado, manteve espaço político no segundo escalão do Executivo. Ao todo, os distritais têm ingerência sobre mais de 1,7 mil cargos nas regiões administrativas. Alguns dos mais rumorosos escândalos do governo envolveram apadrinhados de distritais.

As administrações são grandes cabides de emprego para aliados e indicados políticos: 84% dos funcionários comissionados desses órgãos não têm vínculo com a administração pública. O percentual é quase o dobro da média em todo o governo. No GDF, 48,2% dos funcionários com cargos em comissão não passaram por concurso. O Executivo promete fazer concurso este ano e destinar boa parte dos aprovados para as administrações. A estimativa é que pelo menos 1 mil novos funcionários concursados trabalhem na gestão das cidades para minimizar o impacto das indicações políticas.

“São estruturas inchadas e caras, que servem para acomodar interesses políticos. Os cargos são usados como instrumento de troca entre o Executivo e o Legislativo. Elas nem sequer têm autonomia administrativa e orçamentária. Penso que o mais democrático seria que houvesse participação popular na escolha desses gestores, com a comunidade definindo uma lista de nomes para encaminhar para escolha do governador, por exemplo”, diz o economista Gil Castelo Branco, fundador e secretário-geral da organização não governamental Contas Abertas.


Historicamente, as administrações servem como moeda de barganha do governo com os distritais. Exemplo recente ocorreu na atual gestão. O distrital Washington Mesquita foi eleito pelo PSDB, legenda adversária do PT, partido do governador Agnelo Queiroz. Ainda em 2011, o deputado ganhou o direito de indicar o administrador de Taguatinga. Em troca, saiu da oposição e deixou de ser tucano. Filiou-se ao PSD e, por último, ao PTB.

Cristiano Araújo (PTB) tem um histórico de idas e vindas no governo. Ele próprio já teve cargo no GDF: foi secretário de Desenvolvimento Econômico e também comandou a pasta de Ciência e Tecnologia. No fim de 2012, rompeu com Agnelo Queiroz, depois de articular uma candidatura alternativa a Wasny de Roure para a Presidência da Câmara. Tio de Cristiano, Artur da Cunha Nogueira, que era administrador do Riacho Fundo, foi exonerado do cargo na época. Em setembro de 2013, quando Cristiano voltou às boas com o Buriti, Artur Nogueira retomou o posto.

Dr. Michel emplacou dois nomes: na Fercal e em Sobradinho II

Prioridade
Em Planaltina, cuja administração conta com 193 cargos, Nilvan Pereira de Vasconcelos é uma indicação do deputado Cláudio Abrantes (PT). Ele recomendou a nomeação de Nilvan quando ainda era do PPS. O distrital deixou o partido em 2012, pouco depois de a sigla romper com o governo Agnelo Queiroz. Abrantes manteve assim o apadrinhado no posto.

A maioria dos distritais dá prioridade para indicar os gestores de suas bases eleitorais. Dr. Michel (PP), por exemplo, conseguiu emplacar dois nomes. Ele é padrinho dos administradores da Fercal, Alexandre Ianez, e de Sobradinho II, Salomão de Vasconcelos (confira quadro). As cidades são os locais onde o distrital concentrou a maioria de seus votos. Nessa linha, Rôney Nemer (PMDB) escolheu Recanto da Emas, e Agaciel Maia (PTC) fez questão de indicar o administrador de São Sebastião, Erivaldo Pereira. 

Até mesmo quem já deixou a Câmara Legislativa ainda mantém a influência no segundo escalão do governo. Raad Massouh, cassado pelos colegas em outubro do ano passado, por denúncias de desvios de recursos de emendas parlamentares, não perdeu o espaço que tinha. Seu indicado para a Administração do Sudoeste e da Octogonal, Marcelo Ciciliano, não foi exonerado e permanece no posto. Partidos aliados, como o PP, cobraram a entrega da administração e dos cargos, mas até hoje não houve mudanças. A Administração do Sudoeste e da Octogonal é o local com maior percentual de comissionados não concursados: 98,3% dos 59 servidores chegaram ao posto por indicação.

Raad foi cassado justamente por problemas numa administração regional. No fim de 2010, uma emenda do distrital, no valor de R$ 100 mil, destinada para um evento rural na área de Sobradinho II foi supostamente desviada. O responsável pela região administrativa era indicado pelo parlamentar. Raad acabou cassado em 2013 por conta desse episódio.

Quem é indicado por quem:

Taguatinga – RA III
Administrador
Marco Aurélio Souza Bessa
Indicação: Washington Mesquita (PTB)
Cargos*: 258

Planaltina – RA VI
Administrador 
ilvan Pereira de Vasconcelos
Indicação: Cláudio Abrantes (PT)
Cargos: 193

Paranoá – RA VII
Administrador
Caio Werter Frota Filho
Indicação: Robério Negreiros (PMDB)
Cargos: 95

Guará – RA X
Administrador
Antônio Carlos de Santana Freitas
Indicação: Alírio Neto (PEN)
Cargos: 176

Santa Maria – RA XIII
Administrador
Erivaldo Alves Pereira
Indicação: Wasny de Roure (PT)
Cargos: 176

São Sebastião – RA XIV
Administrador
Erivaldo Alves Pereira
Indicação: Agaciel Maia (PTC)
Cargos: 97

Recanto das Emas – RA XV
Administrador
Leonardo Sampaio de Oliveira
Indicação: Rôney Nemer (PMDB)
Cargos: 103

Riacho Fundo I – RA XVII
Administrador
Artur Nogueira
Indicação: Cristiano Araújo (PTB)
Cargos: 129

Sudoeste/Octogonal – RA XXII
Administrador
Marcelo Ciciliano
Indicação: ex-distrital Raad Massouh (PPL)
Cargos: 97

ParkWay – RA XXIV
Administrador
Eliana Rodrigues dos Santos Santana
Indicação: Chico Leite (PT)
Cargos: 68

Varjão – RA XXIII
Administrador
Francisco Carlos de Sá Freitas
Indicação: Paulo Roriz (PP)
Cargos: 67

Jardim Botânico – RA XXVII
Administrador
César Trajano de Lacerda
Indicação: Wellington Luiz (PMDB)
Cargos: 75

SIA – RA XXIX
Administrador
José Tenório da Silva Neto
Indicação: Benedito Domingos (PP)
Cargos: 66

Sobradinho II – RA XXVI
Administrador
Salomão Gomes de Vasconcelos
Indicação: Dr. Michel (PP)
Cargos: 91

Fercal – RA XXXI
Administrador
Alexandre de Jesus da Silva Ianez
Indicação: Dr. Michel (PP)
Cargos: 51

(*) Cargos de cada administração 


Por: Almiro Marcos - Helena Mader - Correio Braziliense - 11/04/2014

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