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ELEITOR DE RESULTADOS

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João Bosco RabelloEstadão
Em qualquer sistema político, eleição é uma etapa essencial do processo e movida a competitividade. Debate sobre reformas à parte, portanto, o que explica o desordenado cenário de alianças este ano, que conseguiu agravar a geléia geral partidária brasileira, é essencialmente o declínio da candidata oficial nas pesquisas.
Dele decorre, em parte, a prevalência das alianças regionais sobre a nacional, sinal da perda de capital político do PT, detectada pelas bases dos partidos que formam a aliança que elegeu a presidente Dilma , hoje com menos fôlego para repetir a dose.
O governo não tem o mesmo poder impositivo de antes, o que já estava sinalizado na perda gradual do controle sobre sua extensa base congressual. Esta foi confortável enquanto os índices de aprovação do governo eram altos, mas passou a ser problema desde a instalação do processo descendente nas pesquisas.
A percepção do político antecede em muito a do cidadão e, mesmo, a dos observadores profissionais. Mesmo contrariado, o parlamentar aliado não investe contra o governo quando este se mostra forte junto à opinião pública. Ao contrário, quando constata o declínio como processo, materializa a dissidência.
O efeito contrário, nessas circunstâncias, é devastador, pois à extensão da base parlamentar do governo corresponde alto potencial de infidelidade, oculto nos tempos de ventos positivos. Sem leito ideológico, está assentada em solo movediço, sujeito às intempéries e aos erros de gestão com impacto no humor do contribuinte.
DESCONFIANÇA EM DILMA
No caso do governo Dilma, a desconfiança política começou em 2012, quando lideranças experientes se deram o prazo de 2013 para avaliar as condições de seu governo em entregar resultados, expressão utilizada pela própria presidente em reunião com seus ministros no início daquele ano.
Foi também o momento em que o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos,começou a acenar com a possibilidade de sua candidatura pelo PSB, hoje consolidada. O governo registrava ainda altos índices de aprovação, mas a dificuldade em obter investimentos, a sinalização de mudança no modelo econômico e o projeto hegemônico do PT, entre outros indicadores, apontavam para um cenário futuro de risco.
Possivelmente embalados pelas pesquisas positivas, o PT manteve-se indiferente aos sinais negativos já perceptíveis e abraçou-se à ilusão de que fala o ministro Gilberto Carvalho, “de que o povo pensa que está tudo bem”. Apostou que conseguiria administrar os maus resultados sem que eles afetassem o cotidiano do cidadão, sustentado apenas num programa assistencialista.
Os resultados do governo alimentam as bases parlamentares de seus aliados e determinam a continuidade e a intensidade de seu apoio – ou a retirada deste. As bases dos parlamentares, portanto, lhe são mais caras do que o governo, porque delas depende o que lhe é mais essencial: a preservação do mandato.
Como assinala o cientista político Fernando Lattman-Weltman, da Fundação Getúlio Vargas (O Globo, 25/06), o eleitor é indiferente à incoerência ideológica das alianças, importando-lhe os benefícios produzidos pelos governos, especialmente nos serviços públicos. É o que ele chama, respaldado pelos fatos, de “pé no chão”.
BASE ALIADA DESUNIDA
As deserções na campanha de Dilma, formais ou informais, crescem na mesma proporção de sua queda nas pesquisas, indicando que o favoritismo de que já desfrutou não existe mais , o que remete novamente à crítica do ministro Gilberto Carvalho, que flagra o PT em um recorrente e ultrapassado discurso ideológico, com o qual tenta alinhar de um lado os progressistas e, de outro, os conservadores – tendo-se os primeiros como aqueles que apoiam incondicionalmente o partido e os últimos como profissionais do pessimismo , de espírito impatriótico. Ou de má-fé, como acaba de acusar o ex-presidente Lula.
Não é uma estratégia que comova mais o eleitor e sua aplicação serve apenas para evidenciar que o líder máximo do partido percebe que o desgaste alcançou a militância, cujo ânimo, historicamente vital para as conquistas eleitorais, precisa ser resgatado.
O apoio fragmentado nos Estados já autoriza a previsão de que Dilma não obterá o mesmo desempenho de 2010 em regiões estrategicamente importantes para a sua meta de reeleição. No chamado Triângulo das Bermudas, que reúne os três maiores colégios eleitorais – São Paulo, Minas e Rio -, estima-se que perderá para a oposição.
Nas demais regiões, poderá vencer, mas sem o mesmo volume de votos da última eleição, casos do Norte e Nordeste. Ainda que tais previsões possam se mostrar bem menos contundentes, é certo que já não se pode mais falar em favoritismo, o que está explícito no reconhecimento, pelos líderes do PT, de que a eleição será a mais dura de quantas o partido enfrentou.

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