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#EleiçõesDF: Milhões para ser deputado

Por: Helena Mader - Almiro Marcos - Correio Braziliense - 27/07/2014 
R$ 1,5 milhão para ser deputado federalEssa é a estimativa de quanto um candidato vai tirar do bolso para tentar ser eleito. Uma vaga na Câmara Legislativa pode custar R$ 500 mil. Dinheiro voltado para produção gráfica deve ser maior este ano. Especialista aponta exagero nos gastos para o pleito.
Para conquistar um mandato na Câmara Legislativa ou no Congresso Nacional, os candidatos terão que gastar muito mais do que sola de sapato. Além de rodar o Distrito Federal no corpo a corpo com o eleitorado, os concorrentes vão precisar investir alto na campanha. A estimativa do custo de um mandato de deputado distrital este ano supera R$ 500 mil. No caso de desconhecidos da população, o valor será ainda maior. Na corrida por um mandato de deputado federal, o valor individual necessário deve passar de R$ 1,5 milhão. As cifras são bem maiores do que a média gasta pelos eleitos em 2010. Na última disputa no DF, cada distrital eleito gastou, em média, R$ 332,6 mil. Os federais que chegaram ao Congresso há quatro anos desembolsaram uma média de R$ 1 milhão cada um. 

Durante a campanha, os candidatos precisam de combustível, material gráfico, pagamento de cabos eleitorais e aluguel de imóveis e de veículos, como carros de som. Alimentação, produção de jingles, manutenção de páginas na internet, contas de telefone, gastos de energia nos comitês e até o pagamento de multas por descumprimento da legislação eleitoral têm que entrar na lista de gastos.

Para conseguirem os recursos necessários de forma legal, os candidatos recorrem a doações de pessoas físicas e jurídicas, doações pela internet, fundo partidário, comitês de campanha e, na maioria das vezes, colocam a mão no bolso para usar recursos próprios. Também há casos de candidatos que ajudam outros, na maioria das vezes concorrentes a cargos distintos.

Na semana passada, o financiamento de campanhas ganhou ares de polêmica por causa de um embate interno no DEM. O presidente regional do partido, Alberto Fraga, registrou ocorrência contra a candidata a distrital Denise Leitão Rocha por calúnia e difamação. Segundo Fraga, Denise teria cobrado R$ 400 mil para pagar os custos da campanha e, diante da negativa, teria agredido o correligionário em redes sociais. Ela nega ser a autora dos xingamentos, mas garante que ouviu de Fraga a promessa de ajuda financeira ao ser convidada a se filiar no DEM. “Só posso oferecer um kit com santinhos e adesivos, como é com os outros concorrentes a distrital”, afirma Fraga.

O presidente do PT, Roberto Policarpo, segue a mesma linha e afirma que a legenda só financia a estrutura básica de alguns candidatos. “Ajudamos aqueles com menos condições, estruturando minimamente a campanha e cedendo um pouco de material gráfico e combustível. O partido não tem condições de financiar a campanha inteira de todo mundo”, afirma. Isso ocorre também com siglas do mesmo porte do PT, como PMDB e PSDB, de médio porte (PR e PSB), e mesmo menores (PSol e PCO). O fundo partidário não é suficiente para atender todos os candidatos. Esse ano, no DF, são 1.171 postulantes a todos os cargos eletivos, quantidade um pouco superior aos 1.057 da sucessão passada.

Custo por voto
Na eleição de 2010, o deputado distrital Cristiano Araújo (PTB) foi o que mais gastou na campanha. Ele teve a 17ª melhor votação entre os 24 eleitos. Segundo a prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral, ele aplicou R$ 901,9 mil para conseguir seu segundo mandato na Câmara Legislativa. Desse montante, R$ 861 mil foram recursos próprios, dinheiro que saiu da contas pessoais e de empresas do parlamentar diretamente para a campanha. O custo médio de cada voto conquistado por Cristiano foi de R$ 52,90. Já Israel Batista, hoje no PV, gastou R$ 49 mil para conquistar 11,3 mil votos — o equivalente a R$ 4,32 por voto. 

Ja disputa para deputado federal, quem mais gastou em 2010 foi Luiz Pitiman, hoje no PSDB. Ele recebeu 51 mil votos e declarou despesas de R$ 2,4 milhões, sendo R$ 1,5 milhão do próprio bolso. Das empresas de propriedade do parlamentar, vieram mais R$ 180 mil. Ele ainda ajudou na campanha de outros candidatos com doações que somam R$ 396 mil. Ele foi o último colocado entre os eleitos. 

Na outra ponta, aparece o deputado Reguffe (PDT), que gastou R$ 143 mil, mas obteve 266 mil votos e acabou o pleito como o mais votado do país, proporcionalmente. Do montante, R$ 100 mil saíram do diretório nacional do PDT. O custo por voto da eleição de Pitiman bateu R$ 47,38, enquanto a média de Reguffe foi de R$ 0,54.


Palavra de especialista // Gil Castelo Branco, economista e fundador da ONG Contas Abertas

“Corrida desenfreada”
“Desde a década de 1960, já existe a previsão na lei de estabelecimento de um teto legal para gastos de campanha. Isso limitaria e diminuiria a gastança. Mas nunca foi aplicado. Temos observado, ao longo das últimas campanhas, uma corrida desenfreada de recursos. Como ainda não existe impedimento legal, as empresas continuarão doando. E elas não doam por amor à democracia. Elas enxergam isso como investimento. Depois, chega a hora de cobrar a conta. Um estudo recente da Fundação Kellog’s mostra que, de cada R$ 1 investido em campanha, a empresa chega a conseguir R$ 8,50 em contratos. Existe ainda aqueles casos de candidatos que investem dinheiro do próprio bolso nas eleições. Essa é uma situação complicada. Como ele terá esse dinheiro de volta? Com o simples recebimento de salário é que não. A maior parte das pessoas que entra hoje na política não é levada por interesses públicos nobres. Os valores das campanhas comprovam que a política se torna, cada vez mais, um grande negócio.”




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