Por: Arthur H. Herdy e Olívia Meireles - Revista Veja Brasília
No dia 21 de abril, aniversário da cidade, o sol nasce exatamente no meio das torres do Congresso Nacional.
(Foto: Madalena Leles)
Ricardo Melo, presidente do Clube de Astronomia de Brasília, pôde comprovar, na sua adolescência, que isso é uma lenda. “Fui com um grupo de amigos para assistir ao fenômeno tão propagado e nada aconteceu”, relembra. Quando a análise se restringe aos fatos, fica evidente que o astro-rei tem movimento pendular. Ou seja, o nascer do sol ocorre em diferentes posições ao longo da linha do horizonte, sempre oscilando em torno do ponto cardeal leste. Ora seu lugar varia para o norte, ora para o sul no intervalo de um ano. Isso acontece porque o plano do Equador da Terra tem inclinação de 23,5 graus em relação ao plano da órbita terrestre ao redor do Sol. Tal fenômeno cria os chamados solstícios e equinócios nos dois hemisférios do planeta. E provoca pequenos deslocamentos na posição onde nasce o sol. Em Brasília, por exemplo, ele aparece mais à esquerda do Congresso no inverno (para um observador no centro da Esplanada dos Ministérios). Já no verão, ocorre o contrário. Melo conta que nossa principal estrela pode, sim, surgir entre as torres do monumento, mas não exatamente no dia 21 de abril.
Toda vez que ocorre a cerimônia de troca da bandeira, uma inédita é hasteada no mastro.
(Foto: Carlos Namba)

A Praça dos Três Poderes recebe a cerimônia da troca da bandeira no primeiro domingo de cada mês, sempre às 8 horas. Sobre o palco montado no local são convocados representantes das três Forças Armadas e da Polícia Militar do DF — o rito também costuma ser observado por turistas e passantes. De acordo com a legislação nacional, o mastro não pode ficar sem uma bandeira. Por isso, a troca ocorre de maneira simultânea: enquanto uma desce, a substituta é hasteada. Depois que são utilizadas, as bandeiras são incineradas. O símbolo nacional que tremula no mastro projetado pelo arquiteto Sérgio Bernardes é produzido com náilon de paraquedas e tem 286 metros quadrados de área. Esse tamanho garante o título de maior bandeira nacional do mundo para Brasília.
Houve uma pajelança no Memorial dos Povos Indígenas para garantir seu propósito original.

O prédio desenhado por Oscar Niemeyer foi construído no ano de 1988 para ser o Museu do Índio. Antes mesmo da inauguração, porém, o local passou a ser considerado um espaço para mostras de arte contemporânea. Irritados, índios invadiram a construção, promoveram um ritual e impediram sua ocupação. Depois disso, nenhum projeto vingou no endereço. Somente em 1995 o edifício abriu as portas com o propósito inicial.
A Ponte do Bragueto foi batizada assim em homenagem a um operário pioneiro.
Essa é uma das histórias que Tino Freitas vai contar na edição atualizada do livro
Brasília de A a Z. “Quando a cidade ainda parecia um grande canteiro de obras, as construções eram associadas ao nome das empresas responsáveis pelos projetos”, explica o escritor. Assim, o monumento, inaugurado em 1961, ficou conhecido como Ponte da Braghetto, evocando a firma envolvida na sua realização. Com o tempo, o nome foi adaptado para Ponte do Bragueto.
O Parque da Cidade tem tamanho superior ao do famoso Central Park, em Nova York.
(Foto: Roberto Castro)

Considerado o pulmão da capital federal, o Parque da Cidade é o destino preferido de milhares de brasilienses em busca de lazer ao ar livre. Espaço para isso não falta: a área de um dos nossos principais pontos turísticos soma 420 hectares. Outro gigante verde do mundo, o nova-iorquino Central Park ostenta aproximadamente 790 000 metros quadrados a menos, o equivalente a 341 hectares.
O arquiteto Oscar Niemeyer nunca morou em Brasília.
(Foto: Luigi Mamprin)

“É claro que o meu avô viveu em Brasília”, afirma categoricamente Ana Lúcia Niemeyer, neta do arquiteto. Ela conta que ele se mudou para a cidade em 1956, quando começou a construção da capital, e se despediu do DF em 1972, após ser desvinculado da Novacap. “Obviamente ele sempre viajou muito para o Rio de Janeiro, mas Brasília era a sua residência nesse período”, conclui. No início, Niemeyer viveu no Catetinho. Depois, mudou-se com a família para uma casa na 709 Sul e, por fim, tirou do papel um projeto próprio, na quadra 26 do ParkWay
(foto). Lá morou até a mudança para o Rio. Hoje, seu último endereço brasiliense faz parte do Patrimônio Histórico e Cultural da Universidade de Brasília, mas não está aberto à visitação pública.
À época da construção de Brasília, a terra do seu solo era vendida como um suvenir.

Muito antes de se tornar um dos cartões-postais do país, a capital federal era ocupada não por asfalto ou belos monumentos modernistas, e sim por terra vermelha e barro. No fim da década de 50, pequenas garrafas cheias de poeira chegaram a ser comercializadas. Algumas delas, inclusive, levavam em seu rótulo o pomposo nome de “terra prometida”. Tratou-se do primeiro suvenir da nova cidade.
Se você percorrer a W3 a 60 quilômetros por hora, pode pegar todos os sinais abertos.

O Detran atesta que esse fenômeno, nomeado “onda verde”, ocorre apenas quando se adota o início da W3 Sul ou Norte, na região central, como ponto de partida. Para chegar à quadra 16 sem paradas, após cruzar o primeiro semáforo verde, é necessário manter a velocidade do veículo em 60 quilômetros por hora. O primeiro sinal de trânsito de Brasília, aliás, foi instalado na avenida, em 1974.
Nos anos 60, profissionais conhecidos como “graminhas” fiscalizavam a área verde das quadras, impedindo brincadeiras.

Tais episódios ganharam verbete próprio no livro
BrasíliA-Z — Cidade-Palavra, de Nicolas Behr. O poeta cuiabano atesta a veracidade desse fato, mesmo tendo chegado à cidade quando o serviço já havia caído em desuso. Integrantes do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, os fiscais patrulhavam as crianças para evitar danos na relva recém-plantada. Muitas vezes, eles até se escondiam debaixo dos blocos para os flagras — que rendiam bolas tomadas e muito choro da meninada.
O sonho profético de dom Bosco ditou as coordenadas exatas da construção da capital.
(Foto: Claudio Versiani)

De acordo com o professor José Galbinski, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do UniCEUB, esse é apenas mais um mito criado pela população e reforçado durante os anos. “Brasília foi construída em terras que possuíam condições geográficas para isso”, conta. A localização da nova capital do país seguiu as diretrizes do Relatório Belcher, elaborado nos anos 50. Antes disso, na última década do século XIX, a Missão Cruls já havia investigado a área com o mesmo objetivo. A medida cumpriu determinação da Constituição de 1891, que estipulava, entre outras coisas, o tamanho do terreno. “Se existe algum patriarca da capital, ele é José Bonifácio, um dos pioneiros da ideia de mudar o centro do poder para o interior”, sentencia o professor.
O Banco Central tem a maior pepita de ouro do mundo em exposição.

Chamada de Pepita Canaã, a pedra do precioso metal pesa 60 quilos, contém 90% de ouro e está à mostra no Museu de Valores do Banco Central. Ela foi descoberta em 1983 por Júlio de Deus Filho, na região de Serra Pelada, no Pará, notório polo garimpeiro da década de 80. No acervo, existem mais dezesseis exemplares da mesma região — três deles com peso superior a 30 quilos — e outros trinta menores, de outras áreas do país.
Na cidade, as placas azuis indicam a quadra em que se está, enquanto as pintadas de verde simbolizam os endereços adiante.

Esse uso de cores está previsto no Conselho Nacional de Trânsito. Ou seja, vale para a capital e para todo o Brasil. Além das tonalidades mencionadas, o marrom funciona como indicador de pontos turísticos. A única diferença entre as placas de Brasília e as do resto do país, registradas no Plano Diretor de Sinalização vigente no DF, diz respeito ao formato — em “T” ou como totem.
A 308 Sul foi a primeira quadra projetada em Brasília.
(Foto: Michael Melo)

Apesar de a superquadra 308 Sul ser considerada o desenho-modelo das áreas residenciais de Brasília, ela foi projetada após as quadras 105, 108, 113, 305, 409 e 410, todas na Asa Sul. Além disso, segundo o livro
Brasília 1960-2010, Passado, Presente e Futuro, organizado por Francisco Leitão, a planta da 308 não tem a assinatura de Oscar Niemeyer. Os responsáveis pela obra são os arquitetos Marcello Campello e Sérgio Rocha.
O comércio nas entrequadras não seguiu o plano original. As entradas das lojas deveriam ser voltadas para os prédios residenciais.

Originalmente, os carros atravessariam a pista entre as áreas de serviço dos comércios. “A inversão na Asa Sul foi espontânea”, afirmam Marcílio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz no livro
A Invenção da Superquadra. Para resgatar a ideia inicial, os prédios da Asa Norte foram construídos em formato quadrangular, com lojas voltadas para todos os lados.
O Conjunto Nacional foi o primeiro shopping do Brasil.
(Foto: Arquivo público do Distrito Federal)

Quase. Perdemos o título para o Shopping Iguatemi, de São Paulo, inaugurado em 1966. Brasília só ganhou um espaço do gênero — o segundo do país — em 1971, quando a primeira parte do Conjunto Nacional foi aberta ao público. Seguiram-se outras duas seções, em 1974 e 1977. O centro de compras faz parte do projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa para o Plano Piloto. Localizado no Setor de Diversões Norte, o Conjunto teve inspiração em famosos espaços públicos do exterior, como a Times Square, em Nova York, a parisiense Champs-Élysées e a Piccadilly Circus, em Londres.
Os apartamentos 602 e 603 do bloco A, na 208 Sul, foram construídos especialmente para Juscelino Kubitschek.

Brasília ainda estava em obras quando os dois apartamentos ficaram prontos, sem nenhuma divisória entre eles. Deveriam abrigar Juscelino e dona Sarah após o término do mandato dele na Presidência. Enquanto JK foi senador, entre 1961 e 1964, o casal morou no imóvel. Saiu de lá em 8 de junho, logo após o ex-presidente ser cassado pelo regime militar. Dona Sarah estava com medo, e a mudança foi feita em menos de 24 horas. À época, o endereço era funcional, mas foi colocado à venda nos anos 90. Em 2010, ergueu-se uma parede para separar as duas unidades.
O Balão do Aeroporto ficou conhecido como Bambolê da Dona Sarah porque a ex-primeira-dama tinha o costume de plantar flores por lá.

Hélio Queiroz esclarece o assunto em seu livro
1001 Coisas que Aconteceram em Brasília e Você Não Sabia. De acordo com o autor, o balão rodoviário ficou conhecido por esse nome porque a mulher de Juscelino era determinada a conservar florido o local até mesmo no período de seca — porém, nunca pôs ela mesma as mãos na terra. O apelido se espalhou rapidamente entre os pioneiros.
Brasília ostenta a maior área urbana do planeta tombada como patrimônio cultural da humanidade.

São 112,25 quilômetros quadrados de área tombada. Mas o documento protege apenas a concepção urbana da capital. Os prédios em si não fazem parte da preservação. O foco está no projeto de Lucio Costa, que descreve o Plano Piloto e seu arredores em quatro escalas: a monumental se referia aos espaços destinados ao poder; a gregária, ao centro urbano; a residencial, à parte doméstica; e a bucólica, às áreas de lazer.
Brasília apresenta várias semelhanças com uma antiga cidade egípcia.
(Foto: Reprodução)

Essa história virou tema da obra
Brasília Secreta — Enigma do Antigo Egito, de Iara Kern e Ernani Pimentel. O comparativo é feito com a cidade de Akhetaton, construída há mais de 3 000 anos na África, também em forma de pássaro e banhada por um lago artificial. Assim como a capital brasileira, Akhetaton foi erguida em pouco tempo, com o objetivo de ser um eixo político localizado em um centro geográfico. Outro ponto em comum eram as pirâmides. Na capital, são exemplos o Teatro Nacional e o prédio da CEB, na Asa Norte, hoje demolido. Há mais um detalhe curioso: tanto Juscelino Kubitschek quanto o faraó Akhenaton, responsável pelo antigo território egípcio, morreram dezesseis anos depois de fundar as respectivas cidades (o ex-presidente mineiro em um acidente de carro; o líder do Egito, assassinado).
O fogo da Pira da Pátria, na Praça dos Três Poderes, nunca se apagou.

O monumento representa o fogo simbólico da pátria. Por isso, deveria ficar sempre aceso. Mas ninguém contou isso para a natureza. A chama da Pira da Pátria já foi apagada por chuvas e ventos fortes. Quando isso acontece, o Corpo de Bombeiros entra em ação para reacender o fogo — mantido por meio de botijões de gás. O projeto do marco, inaugurado em 21 de abril de 1987, foi desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Corpos de candangos estão enterrados na estrutura dos prédios e monumentos de Brasília.
(Foto: Agência Brasil / Divulgação)

Ocorreram muitos acidentes de trabalho durante a construção da cidade. No livro
1001 Coisas que Aconteceram em Brasília e Você Não Sabia, Hélio Queiroz relata que as obras em que sucederam mais mortes foram as dos ministérios. Eram registrados dois ou três acidentes por dia em cada edifício. Muitas vezes, as vítimas morriam e os enterros ocorriam no próprio canteiro de obras. Em um dos casos, um operário se desequilibrou e caiu dentro da coluna de concreto que estava sendo enchida. “O mestre de obras não tinha autoridade para mandar abrir a coluna, e a concretagem continuou”, revela Queiroz.
A capital chegou a ter dois Catetinhos em certa época.

A edificação era praticamente idêntica à original, inaugurada em 1956 e até hoje mantida de pé na BR-040. Porém, a réplica contava com metragem um pouco maior e mais conforto nas instalações. Tanto esse quanto o primeiro prédio, residência do então presidente Juscelino Kubitschek, serviam como moradia e espaço para a recepção de visitantes ilustres. Nos anos 60, o segundo Catetinho foi desmontado e vendido a um empresário.
Parte da Universidade de Brasília está construída em cima de um lençol de água.

Nos anos 70, época da construção da Biblioteca Central da UnB, constatou-se a existência de um lençol freático no local. O edifício, que sofria com alagamentos, recebeu um sistema de drenagem para minimizar o problema e continua ativo. Mas funcionar sobre águas não é exclusividade da biblioteca: parte do Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão, também foi erguida sobre um córrego subterrâneo.
Os tradicionais bares Beirute e Libanus pertencem à mesma família.
(Fotos: Ligia Skowronski / Joédson Alves)

Os irmãos Francisco, Narciso e Bartolomeu Marinho saíram do Ceará para tentar a vida em Brasília. Trabalharam em diversas áreas até ser contratados, no fim dos anos 60, como garçons do Beirute. Quando os donos decidiram vender o bar da 109 Sul, o trio juntou dinheiro para comprá-lo. A parceria continuou até 1989. Nesse ano, Narciso brigou com os irmãos e largou a sociedade. Fundou o Libanus, na 206 Sul, com a mesma proposta: decoração simples, cerveja gelada e comida árabe. Atualmente, cada um dos bares conta com uma filial. Em 2007, o Beirute abriu na 107 Norte e, neste ano, o Libanus foi explorar Águas Claras.
O desenho do Plano Piloto foi inspirado em um avião.
(Fotos: Arquivo público do Distrito Federal / Divulgação / Map Box / Divulgação)

Para nativos ou forasteiros, a semelhança com uma aeronave é inegável. No entanto, Lucio Costa, autor do projeto, afirma no documento oficial que a intersecção dos eixos Rodoviário e Monumental simbolizava uma cruz. Mais tarde, ele refutaria a ideia do avião, deixando o projeto livre a interpretações. Poderia ser um arco e flecha, uma libélula e até mesmo uma nave espacial, dependendo de quem vê.