
Carlos Chagas
Nem tudo está perdido. Depois de dois dias de trabalho, no que tinha de ser uma semana inteira de esforço concentrado, o Congresso fechou a temporada com um dos mais importantes pronunciamentos da presente Legislatura. O diploma de honra ao mérito coube ao senador Pedro Simon, analisando o período eleitoral.
Para ele, as campanhas foram desencadeadas, mas não se vê povo na rua, nem qualquer interesse pelos candidatos, em todos os níveis. A causa desse vazio deve-se ao péssimo desempenho do Congresso e dos partidos que o dominam.
Lembrou que até quatro anos atrás, as Comissões Parlamentares de Inquérito eram coisa séria. A CPI do PC Farias levou ao afastamento do presidente Fernando Collor. A CPI dos anões do orçamento limpou a Câmara do que tinha de pior. A CPI do mensalão abriu espaço para o Judiciário mandar para a cadeia potentados de altíssima influência política. Através das CPIs o Congresso transformava-se, com deputados e senadores comportando-se acima e além dos interesses partidários, todos fixados na busca da verdade. Era assim. Hoje, não é mais.
Assistimos, na atual Legislatura, o vexame da CPI do Cachoeira, que deu em nada. Oposição e situação se arreglaram. Agora, a CPI da Petrobras fez pior, começando por excluir por acordo dos partidos as oitivas dos fornecedores. Precisamente aqueles que contribuem com fartos recursos para as principais legendas. Sem esquecer que governo e oposição combinaram perguntas e respostas para as inquirições, até que um parlamentar equivocou-se e respondeu a questão que não lhe fora indagada, era do próximo participante, que reclamou…
Vivemos o fim de um ciclo, afirmou Simon. Os partidos estão completamente desmoralizados. O último foi o PT, que perdeu o patriotismo e a garra dos tempos de sua fundação. Esvaziaram-se todos, dedicando-se ao troca-troca e ao “toma lá, dá cá”. Hoje são 33, mas dentro deles, grupos variados e incapazes de pensar no país. Só em seus interesses. Por isso existem 40 ministérios. Repartiu-se o poder, com a conivência do governo.
DILMA CRITICADA
Sem poupar a presidente Dilma, que em seu entender compactua com a farra dos partidos, o senador declarou importar menos quem vencerá as eleições presidenciais. Dará no mesmo. O eleito governará como e com quem? Que acordos precisará fazer? Não adianta, porque vai entregar-se, da mesma forma como agora.
Saída tem, completou Simon. Sua sugestão foi para que os três principais candidatos se reúnam o quanto antes, celebrando um pacto no sentido de o vencedor, apoiado pelos demais, comprometa-se em escolher um ministério de notáveis, os mais competentes, os melhores em cada setor, sem barganhas partidárias. Será necessário promover ampla reforma política, bem como acirrado combate à corrupção, hoje o fator responsável por tudo o que acontece. Acima de tudo, o empenho dos partidos em dedicar-se ao país.
Impossível esse pacto? O senador respondeu que não. Já foi feito, anos atrás, quando Itamar Franco assumiu a presidência da República. Sem o menor apoio, sem força política, ele reuniu os partidos e dividiu com eles a responsabilidade por tirar o Brasil do atoleiro em que se encontrava. Deu certo, veio até o Plano Real. Por que não daria agora?