Importa insistir em tema apenas de leve referido ontem. Refere-se ao vazio das campanhas eleitorais, de ano para ano mais falsas, pálidas e sem conteúdo capaz de empolgar o eleitorado. Sem propostas em condições de mudar e melhorar a vida do cidadão comum. Daí a pasmaceira do processo eleitoral em curso, que breve será tido como supérfluo, desnecessário e pernicioso.
Por acaso algum candidato já prometeu que, se eleito, buscará dobrar o salário mínimo, essa merreca que hoje não permite ao trabalhador sobreviver, quando mais prover sua família de meios de alimentação, habitação, transporte, vestuário, educação, saúde e até lazer? Mas é isso o que determina a Constituição, objetivo impossível de ser alcançado, mesmo com o dobro do que recebe mais da metade da população brasileira. Será crucificado o candidato que se proponha a tanto.
Vão acusá-lo de comunista, quando o comunismo não existe mais. Também de maluco, perdulário, retrógrado e inimigo da Humanidade. Tanto faz se o candidato é do PT, do PTB, do PMDB ou do PSDB. Para todos, assemelha-se a uma grande heresia e até a um crime pregar a real melhoria do padrão do semelhante, acomodados que estão pelo medo de despertar a ira das minorias responsáveis pela injustiça salarial, mas canhestramente também interessados em participar da farra da exploração do vizinho do lado. Aconteceria o quê, se a economia do país fosse obrigada a distribuir algumas migalhas a mais para os necessitados? Claro que não aconteceria nada, exceção de menos agruras para a maior parte dos brasileiros. E de menos vantagens para os donos do poder.
O grave nessa castração continuada dos direitos sociais é que nem os atuais governantes, ditos defensores do trabalhador, ousam levantar proposta tão simples quanto lógica. Alguém ouviu o Lula ou a Dilma sustentarem a duplicação do salário mínimo? Qualquer dos pretendentes aos governos estaduais do PT fala nisso? E os candidatos ao Congresso? Virão todos com a fajuta argumentação do desarranjo da economia, da volta da inflação, da falência do mercado e de outras bobagens parecidas, alinhadas para a preservação dos privilégios pelos que dominam as instituições. E olhem que só referimos a insuficiente hipótese de multiplicar por dois a miserável remuneração do trabalho hoje verificada entre nós.
O que dizer da participação dos empregados no faturamento das empresas, da cogestão, da limitação dos lucros do capital especulativo, da proibição de se viver de renda e ganhar sem trabalhar, da abusiva propriedade da terra e do domínio dos meios financeiros – além de quantas outras iniciativas que só beneficiam as elites? Não há nem haverá quem se disponha sequer a levantar esse debate, sob o argumento da destruição da ordem econômica.
Daí a adaptação do conselho do saudoso Stanislau Ponte Preta: “Ou implante-se um regime de justiça social ou locupletemo-nos todos”. No caso, todos os que conseguirem preservar ou conquistar vantagens e benefícios nas urnas de outubro, em detrimento das necessidades de uma vida digna por parte das maiorias. Vale à pena votar nessa cambada de vigaristas?
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