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Mantega e a rebelião

Por: Eliane Cantanhêde - Folha - 09/09/204

 "Não queremos mais o tipo de governabilidade que temos, amorfa e mesquinha. Não queremos tampouco o governo autoritário. Queremos, sim, uma nova forma de fazer política. (...) Queremos um governo de pessoas sensatas, eleitas por votantes sensatos."

Começa assim o esboço de um manifesto que passa de mão em mão entre ex-ministros de Lula, inclusive ex-petistas. Termina assim: "Com Marina Silva, por um país melhor!"

Um detalhe que não é detalhe: quem tenta botar de pé o manifesto pró-Marina são colegas de ministério tanto dela (então ministra de Meio Ambiente) quanto de sua principal adversária, Dilma Rousseff (ex-Minas e Energia e ex-Casa Civil).

Outro detalhe, que talvez também não seja tão detalhe, é que essa onda surge exatamente quando Dilma cria uma situação surreal no seu governo e no próprio país. Ela demitiu Guido Mantega pela imprensa, faltando quatro meses para terminar o governo. Um morto-vivo.

Ok, a demissão foi para um segundo mandato, mas só com muita boa vontade ou sendo muito alienado (a) alguém pode achar que Mantega tem mínimas condições de tocar a economia e de ser levado a sério até o próximo governo. Ele mantém a cadeira, não a autoridade.

Marina, claro, aproveitou para uma boa sacada irônica. Disse que a demissão pode ter sido tarde demais, quando o eleitor brasileiro já está se encarregando de trocar não apenas o ministro, mas a presidente e o governo todo.

A sério, sem ironias: Dilma demitir Mantega agora, depois de quatro anos de erros em cima de erros na economia, soa não só eleitoreiro –ou marqueteiro, se preferirem– como hipócrita e injusto.

Alguém tem dúvida de quem manda na economia? Aliás, de quem manda em tudo no governo? É Dilma, Dilma e Dilma. O que é bom usa-se a favor dela na campanha. O que é ruim usa-se contra o Mantega. Ele é um bode expiatório. Haverá outros?

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