Carlos Chagas
Nos remotos tempos de colégio que um dia frequentamos, havia um estribilho cantado todo ano, sempre no último dia de aulas, antes das férias: “É hoje só, amanhã não tem mais!”
Vale buscar nas sombras do passado aquele grito de suposta felicidade dos meninos. Hoje realiza-se o último debate de uma série de quatro verificados na campanha pelo segundo turno. Felizmente ficará para daqui a quatro anos o sacrifício a nós imposto pela ditadura das principais redes de televisão, às quais se rendem covardemente os candidatos e seus partidos. Porque se são quatro as empresas que detém as preferências do telespectador, dá-se às quatro a oportunidade de repetir os mesmos confrontos, conflitos e exposições incompletas dos pretendentes à presidência da República, numa enfadonha repetição de muitas mentiras e poucas verdades. Fossem dez as redes mais assistidas, teríamos dez debates, já que nenhum candidato ousaria contestar o poder dos barões televisivos, empenhados, é claro, em aumentar seu faturamento e até, com certa parcimônia, os índices de audiência.
O resultado é que do lado de cá das telinhas, ninguém aguenta mais. Menos pelas baixarias, mais pela falta de pudor dos candidatos quando prometem realizações e mudanças mirabolantes, que todos sabemos fajutas e irreais. Só em bissextos momentos algum eleitor mudará de voto por conta da performance dos candidatos. Como regra, quem se inclinava por um não deixará de concluir ter ele “vencido o debate”. Vale o mesmo para o outro, quando são apenas dois, como agora no segundo turno. No caso dos debates anteriores, com onze candidatos, o mais que se viu foram histriônicos cidadãos buscando dez minutos de alta exposição, cientes da inocuidade de suas candidaturas e interessados em inflar seu ego doentio.
Os embates entre os candidatos, em especial na segunda votação, teriam seu valor junto ao eleitorado se fossem apenas um. E jamais organizados pelas redes, envolvidas em seus múltiplos interesses. Deveria caber à Justiça Eleitoral regulamentar sua realização, estabelecendo regras gerais sem deixar ao arbítrio de empresas privadas estabelecer e conduzir espetáculos sempre deficientes em qualidade e esclarecimento. Para não atentar contra a liberdade de informação, entrariam na transmissão desse debate único as redes que quisessem, mas sem poder de condicioná-lo de acordo com seus pontos de vista.
Fica a sugestão para as próximas eleições presidenciais, valendo enfatizar que os múltiplos debates, de acordo com o número de empresas televisivas de primeiro nível, esgotaram sua razão de ser. A repetição que hoje nos é oferecida, em cenários diferentes mas eivada dos mesmos vícios, só faz lembrar a antiga celebração nos colégios: “É hoje só, amanhã não tem mais!”