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PARQUE DA CIDADE » E o espaço das bikes?

Ciclistas reclamam da lentidão nas obras da ciclovia do centro de lazer. A três meses do prazo prometido de entrega, o caminho se resume a terra e brita. A administração do local diz que as chuvas atrasaram o trabalho, mas mantém a meta de concluir o caminho até fevereiro


Por: Luiz Calcagno - Correio Braziliense 
Publicação: 30/11/2014 

Danilo sente falta de uma pista onde possa trafegar com velocidade: %u201CA faixa para ciclistas é estreita, e os pedestres a invadem%u201D (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Danilo sente falta de uma pista onde possa trafegar com velocidade: faixa para ciclistas é estreita, e os pedestres a invadem.


Anunciada em março de 2012 e com data limite para ficar pronta em fevereiro próximo, a ciclovia do Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek se resume, até agora, a um amontoado de terra e brita intransitável. Como a obra só abarcou cerca de um terço da região, ciclistas temem que tenham de continuar dividindo espaço com pedestres no trajeto tradicional. A convivência mal planejada aumenta o risco de acidentes como colisões e atropelamentos. Em horário de pico, quem anda a pé, desatento, invade a já estreita faixa das bikes — quando dois veículos se cruzam, um deles acaba forçado a ocupar a área destinada aos outros usuários. A Administração do Parque reconhece que as obras ficaram mais lentas recentemente devido ao período das chuvas, mas diz que o trajeto ficará pronto no prazo. 

A reportagem do Correio percorreu a região e falou com ciclistas que trafegam pela região. As críticas variam desde a insatisfação de não ter o espaço seguro prometido ao prejuízo com o atraso das obras. O administrador de bancos de dados Rodrigo Ferro Costa, 32 anos, passa pelo Parque todos os dias, a caminho do trabalho, pela manhã, e de volta para casa, à tarde. “Eu uso a ciclovia principal, que é estreita. Uma coisa é certa: o pedestre não respeita. Nos horários de pico, é praticamente impossível pedalar. Há seis meses que vejo essa obra avançar lentamente. Nunca fica pronta. Não podemos andar de bicicleta na brita”, reclama.

Para Rodrigo, “é um padrão do Governo do Distrito Federal atrasar as obras”. Servidor público e morador do Sudoeste, Ricardo Lopes concorda. Ele também usa o parque para pedalar até o trabalho diariamente e conta que já viu acidentes envolvendo ciclistas e pedestres na região. “O trânsito que se cria na faixa para ciclistas é intenso e muito ruim para todos os frequentadores. Nem quem anda de bicicleta nem quem está a pé ficam atentos à sinalização. Com isso, o risco de acidentes é grande. Já presenciei quedas, colisões e até um atropelamento. Além disso, um espaço como esse impede o ciclista de andar um pouco mais rápido”, explica.

Ricardo explica que, com a faixa, o ciclista fica impedido de percorrer o circuito do parque treinando para uma competição, por exemplo. “Para piorar, sem a conclusão das obras, o novo espaço reservado para nós fica inutilizável. A obra parada é uma pena. É um desperdício de espaço e de recursos. Ela não cumpre o propósito e ainda provoca um desconforto visual”, afirma. O concurseiro Danilo Gomes, 25, morador do Guará, também reclama. Ele usa o parque para andar de bicicleta pelo menos duas vezes por semana e sempre evita os horários de pico. “A faixa para ciclistas é estreita, e os pedestres a invadem. O ideal é que tivéssemos uma ciclovia para usarmos com velocidade. Para mim, a demora na obra demonstra uma falta de compromisso com o lazer do brasiliense”, dispara.

Ponto tradicional

O Parque da Cidade foi fundado em 11 de outubro de 1978. Trata-se de um dos principais e mais extensos centros de lazer da cidade, considerado um patrimônio de Brasília. Circulam por lá, de segunda a sexta-feira, cerca de 40 mil pessoas. Aos sábados, o público, entre usuários e visitantes, chega a 60 mil, e, aos domingos, a 80 mil.


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Para ONG, faltou planejamento



Placa avisa os frequentadores sobre um trecho em obras: risco de atraso (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Placa avisa os frequentadores sobre um trecho em obras: risco de atraso


Presidente da Organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, Jonas Bertucci diz que o GDF não ouviu os ciclistas que frequentam o Parque na hora de elaborar o projeto. Segundo ele, seria necessário rotas alternativas, que encurtassem trajetos, para quem usa o local a caminho do trabalho, e o trajeto mais longo para quem usa o espaço para treinar, por exemplo. “Sem outras medidas, como a redução do limite de velocidade do parque, o projeto segrega o ciclista. E, em relação à demora na conclusão das obras, isso é recorrente em vários órgãos do governo”, afirma.

Ainda segundo Jonas, é preciso integrar as políticas cicloviárias com outras de mobilidade, e isso a ciclovia do Parque também não faz. “As regiões com mais mortes de ciclistas não têm ciclovia”, alerta. Pesquisador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru) da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Dias lembra que a demora na conclusão das obras “sempre resulta em prejuízo para a população”. “Os trajetos de ciclovias que temos hoje não levam as pessoas de casa para a escola ou para o trabalho. Mesmo no Parque da Cidade, os ciclistas ficam com o espaço que sobrou, e isso é contrário ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB)”, acrescenta.

“As obras estão mais lentas por conta das chuvas”, explica a administradora do Parque da Cidade, Juliana Neto. No entanto, ela garante que os trabalhos não pararam e que todas as etapas da ciclovia estarão prontas até fevereiro. “A pista tem que ser mais lisa. Por isso, não dá para continuar os trabalhos quando chove. Estamos fazendo tudo em etapas e devemos concluir até o fim de fevereiro. Dará tempo”, garante. 
(LC) (Colaborou Roberta Pinheiro)

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