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Poltronas do Cine Brasília relegadas ao abandono

Assinadas pelo arquiteto e designer Sérgio Rodrigues, 607 cadeiras retiradas da sala de cinema mais tradicional do DF estão estocadas no Teatro Nacional. Ainda não há uma definição sobre a situação desses móveis, que devem ser espalhados por órgãos públicos

Por: Luiz Calcagno - Correio Braziliense 
Publicação: 30/11/2014

 (Sharon/CB/D.A Press - 22/6/76)


As 607 poltronas desenhadas pelo arquiteto e designer Sérgio Rodrigues que ocupavam o Cine Brasília estão trancafiadas no Teatro Nacional Claudio Santoro. A Secretaria de Cultura retirou os móveis da sala de projeção após a reforma do local — o espaço foi reinaugurado em outubro de 2013. Desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o prédio circular da 106/107 Sul ganhou assentos mais modernos e de acordo as normas de segurança, já que os antigos não eram retráteis e contavam com material inflamável. Os objetos deverão ser espalhados por órgãos sob a gerência da secretaria. O Correio não obteve autorização para fotografá-los.

Por enquanto, não há destino para as peças desenhadas especialmente para o Cine Brasília. Como não obedecem às normas de segurança, também não serão usadas em auditórios. Não é a primeira vez que o patrimônio artístico de Brasília sofre com o abandono (leia Memória). Os novos assentos, 632 no total, foram instalados após uma licitação. O processo atrasou, o que resultou no adiamento da reinauguração da sala de cinema mais tradicional do Distrito Federal.

Sérgio Rodrigues trabalhou ao lado de Oscar Niemeyer e de Lucio Costa. Além dos assentos do Cine Brasília, desenhou móveis para diversos prédios públicos do Distrito Federal, entre eles, o Teatro Nacional e os palácios Itamaraty e do Jaburu. O artista foi um dos primeiros a industrializar o design brasileiro e torná-lo mundialmente conhecido. Entre os trabalhos mais importantes, também estão os móveis da Embaixada do Brasil em Roma e a Poltrona Mole, que ganhou o grande prêmio do 4º Concurso Internacional do Móvel, em Cantù, na Itália.

A peça ganhou destaque por ser original e representar o Brasil. A estrutura robusta se mostrava contra o padrão da época, que previa pernas finas. Inicialmente, a ideia não agradou aos brasileiros. Mais tarde, já um sucesso, o assento ganhou um nome internacional: sheriff. A poltrona está exposta no Museu de Arte Moderna de Nova York. Os móveis assinados por Sérgio passam dos R$ 11 mil, segundo avaliações informais.

Uma das características mais marcantes do trabalho do designer foi o uso de madeira nativa brasileira nos trabalhos. Sobrinho do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, Sérgio formou-se na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ) em 1952. Três anos depois, ainda na capital carioca, criou a indústria Oca, um estúdio de arquitetura de interiores que também funcionava como galeria de arte. O designer morreu em 1º de setembro, vítima de um câncer, no bairro de Botafogo, no Rio. Ele deixou a mulher e três filhos.

Segurança

A reportagem procurou a Secretaria de Cultura para comentar o destino das poltronas. O subsecretário de Patrimônio Histórico, José Delvinei, responsável pela reforma do Cine Brasília e do Teatro Nacional, estava de folga. O Correio insistiu e pediu para conversar com o secretário de Cultura, Hamilton Pereira da Silva, mas foi informado de que, por determinação, o órgão só responderia por meio de nota e que ninguém falaria a respeito das peças.

Segundo o texto enviado por e-mail pela assessoria de Comunicação, o jornal não teria acesso às obras de arte armazenadas no Teatro Nacional “por motivos de segurança e por determinação no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)”. Ainda de acordo com a nota, “as poltronas terão novo suporte, preservando características do design original, em reconhecimento à obra de Sérgio Rodrigues”.

Obra incompleta

Em 3 de setembro, a Secretaria de Cultura informou que a inauguração do Cine Brasília, marcada para o dia seguinte, seria adiada. O motivo: falta de condições para reabrir a sala porque a empresa contratada sob licitação para o fornecimento das cadeiras do cinema não cumpriu o prazo de entrega.

Memória
Artes e ciência


Com acervo de mais de 2 mil obras, o Museu de Arte de Brasília (MAB) (acima), inaugurado em 1985, foi fechado pelo Ministério Público em 2007. As instalações se tornaram um risco para os trabalhos que abrigavam. Após três tentativas de reforma, todas embargadas, principalmente pela burocracia, somente em setembro o GDF liberou de R$ 3,2 milhões para restaurar o museu. O Planetário de Brasília (abaixo) é outro local que amargou com o descaso de sucessivos governos. O prédio, no Eixo Monumental, é um dos principais cartões-postais do Distrito Federal. Ficou fechado e abandonado por 16 anos. Somente em dezembro do ano passado o edifício foi reaberto.

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