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#DF: POLÍTICA CULTURAL » Acabou em vaias

O panorama artístico da cidade termina o ano em baixa: espaços fechados, o FAC em crise e os pagamentos a artistas atrasados. Problema para Rodrigo Rollemberg

Por: Diego Ponce de Leon - Mariana Vieira - Correio Braziliense 
Publicação: 13/12/2014

Protestos frequentes: há pelo menos três meses, artistas cobram o pagamento dos projetos aprovados  (Antonio Cunha/CB/D.A Press - 25/11/14)
Protestos frequentes: há pelo menos três meses, artistas cobram o pagamento dos projetos aprovados
Não vai haver espetáculo. Nenhum. Neste ano, 250 projetos deveriam ter sido levado aos palcos pela Secretaria de Cultura, por meio dos editais do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Não foram. Os R$ 43 milhões do fundo, destinados a viabilizá-los, acabaram não liberados. A responsabilidade sobrará para o próximo governo, que assume a gestão a partir de 1º de janeiro. 

Se algum dos projetos estiver programado para acontecer no Teatro Nacional, é melhor desistir. O local segue fechado e sem previsão de reabertura. O mesmo vale para o Espaço Cultural Renato Russo. O Teatro Dulcina exibe uma decadência sem precedentes. E por aí vai. O ano termina com um desanimador diagnóstico para as artes brasilienses. 

A catarse da crise ocorreu nesta semana, quando os artistas se viram obrigados a levar os protestos às ultimas consequências. Eles invadiram o gabinete da Secretaria de Planejamento, no Palácio do Buriti, e se acorrentaram. Estavam preparados a passar dias ali, até que obtivessem alguma garantia por parte da pasta. O secretário de Planejamento, Paulo Antenor, acabou por recebê-los e se comprometeu a empenhar todos os projetos do FAC, o que acabou acontecendo ontem, de fato. 

“Cabe, agora, esperar que o próximo governo arque com o débito”, disse Roni Sousa, um dos acorrentados. Ator e professor de artes cênicas da rede pública, Roni acabou duplamente prejudicado. Além do impasse com o FAC, ele também passou alguns dias sem o salário de professor. “Estou em um projeto do FAC. Aprovado. Era para termos montado este ano. O problema é que já se foram horas de trabalho, dinheiro do próprio bolso, e ainda há a chance do espetáculo não sair do papel”, lamentou o artista. 

Procurado pela reportagem, o governador eleito, Rodrigo Rollemberg, não comentou a crise atual em torno do FAC nem se comprometeu a solucionar os débitos pendentes. No entanto, admitiu que a Secretaria de Cultura deve passar por algumas reformulações. “É importante que exista uma capacitação dos funcionários da secretaria para que eles apresentem projetos mais competitivos, que entrem em editais nacionais para conseguir reunir recursos para a cultura”, sugeriu. 

Especificamente sobre o fundo, o futuro chefe do Executivo também preferiu o tom crítico: “O FAC deve ser um processo menos burocrático e mais transparente, para continuar sendo um dos viabilizadores da cultura, mas não o único”. 

Com algumas mudanças na área, Rollemberg promete desenvolver uma política cultural mais ampla e democrática. “Às vezes, um espetáculo recebe os recursos para montagem e fica poucos dias em cartaz. Com um pouco mais de aporte, aproveita-se a estrutura e se pode estender a temporada para receber, por exemplo, alunos da rede pública de ensino”, exemplificou. 

Resoluções 


Responsável pela transição da área cultural, a filha do escritor e poeta TT Catalão, Nanan Catalão, preferiu não se pronunciar neste momento. Ela é cotada, inclusive, para assumir a secretaria, embora a concorrência seja grande, já que a esposa de Rollemberg, Márcia Rollemberg, demonstrou interesse pela pasta. O nome será anunciado na próxima segunda-feira, dia 15.

Seja quem for, sofrerá uma bela cobrança da classe artística. “Vou ficar bem surpreso se esse dinheiro do FAC sair. Acho difícil”, admite o ator Ricardo Brunswick. Descrente, o artista não demonstra ânimo em relação aos anos por vir: “O FAC, assim como a cultura como um todo, não aparece entre as prioridades do próximo governo”. 

Segundo Ricardo, a visão de que a arte exerce papel coadjuvante na sociedade ainda está enraizada, não somente no governo, mas igualmente no público. “As pessoas pensam em pagamento como resultado de um serviço prestado. Não entendem a necessidade de verba para gerar trabalho, o que acontece no teatro, por exemplo. Assim, prevalece a ideia de que o orçamento para as artes só deve ser considerado ‘caso sobre algum dinheiro no caixa’”. No governo atual, não sobrou. Faltou e muito. 


1.000  
Número médio de projetos inscritos, anualmente, nos editais da Secretaria de Cultura 


O FAC deve ser um processo menos burocrático e mais transparente, para continuar sendo um dos viabilizadores da cultura, mas não o único ” 


Rodrigo Rollemberg, 

governador eleito



Abandonados

 (Sandro Santos/Divulgação)

Teatro Naciona
Uma das obras mais pungentes de Oscar Niemeyer na capital, o Teatro Nacional Claudio Santoro foi inaugurado em 1966. A capacidade da Sala Vila-Lobos é de 1.400 espectadores, desde fevereiro de 2014 não se0 pode frequentar o local. Palco de concertos internacionais e casa da orquestra sinfônica de Brasília, o Teatro Nacional entrou em reforma apenas no papel; no local, não existem sinais de que qualquer movimentação tenha efetivamente começado.

 (Diego Ponce de Leon/CB/D.A Press - 1/6/14 )

Espaço Cultural Renato Russo 

Fechado desde janeiro, o espaço localizado na Asa Sul recebeu 12 notificações da Agefis (Agência de Fiscalização do Distrito Federal) sobre segurança, acessibilidade e falta de alvará de funcionamento. Um projeto de revitalização foi cogitado em junho, mas continua na gaveta. Com espaço para espetáculos, exposições e oficinas, o local era referência desde a inauguração, em 1974.

 (Carlos Vieira/CB/D.A Press - 13/3/14 )

Museu de Arte de Brasília 
Inaugurado em 1985, o Museu de Arte de Brasília (MAB), desde a abertura, enfrenta uma batalha constante para manter-se como uma instituição destinada a abrigar obras de arte. Com um acervo de mais de 2 mil peças, o MAB está fechado desde 2007 por recomendação do Ministério Público, que considerou as instalações do museu, no Setor de Hotéis e Turismo Norte, um risco para o acervo. Enquanto isso, as obras permanecem guardadas em uma reserva técnica do Museu Nacional. Três tentativas de reforma já foram projetadas, sem nenhum avanço até o momento.

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