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Crise de energia, risco de apagão econômico

As explicações do governo para a interrupção do fornecimento de energia por cerca de uma hora em 11 estados e no Distrito Federal, na terça-feira, chegaram à opinião pública com muitas contradições. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, reconheceu que não sabia se foi falha técnica ou humana. O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, negou que tenha ocorrido erro humano e descartou a possibilidade de repetição do corte. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Reive Barros, associou o episódio à combinação da baixa nos reservatórios com o elevado consumo.

Em comum, os três responsáveis pelo setor na área governamental reconhecem que as linhas de transmissão operam no limite da capacidade e há necessidade de retomada dos investimentos para manter o sistema “robusto”, como o classificou o ministro. É preciso harmonizar o discurso para chegar à sociedade com explicações verdadeiras, não com versões que estremecem a credibilidade do Estado diante dos atuais e dos potenciais investidores.

O setor elétrico é vital para deslanchar o desenvolvimento econômico, sobretudo no momento em que o país se debate para superar a crise econômica. Nos últimos anos, o governo negligenciou a dimensão da escassez de chuvas e do aumento do consumo. Não foi por falta de advertência. Durante três anos seguidos, o Nordeste amargou enormes prejuízos provocados pela mais severa estiagem em seis décadas. As políticas compensatórias aliviaram os reflexos sociais e até econômicos. A mesma estratégia não se aplica ao restante do Brasil.

Os avisos climáticos foram acompanhados por alertas do Tribunal de Contas da União. Desde 2010, o TCU chama a atenção para a crescente insegurança energética. Cobrou explicações para a não realização dos investimentos indispensáveis à correção. Por fim, o tribunal listou os erros que vinham sendo cometidos, como falha no planejamento da expansão da capacidade de geração, superavaliação da garantia física das usinas, indisponibilidade de parte do parque de geração termelétrica e atraso nas obras de geração e transmissão de energia.

Pesa contra a expansão da oferta o não cumprimento dos prazos das obras em andamento. Os empecilhos são jurídicos, ambientais ou de engenharia, motivados por erros de planejamento. Entre as grandes obras em atraso, estão a usina nuclear de Angra dos Reis (RJ), que deveria entrar em operação em 2014, agora, prevista para 2018; a hidrelétrica de Jirau (RO), por incêndios criminosos em 2011 2012; e a usina de Belo Monte (PA), que deverá funcionar em 2019.

A capacidade industrial instalada e a necessidade de atrair mais investidores exigem oferta elevada e estável de energia. Eventual racionamento implicará, avaliam especialistas, prejuízo estimado em R$ 110 bilhões ou 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Nessa conta, não estão incluídos os gastos do Tesouro Nacional com os socorros prestados às distribuidoras, subsídios tarifários e as perdas com a seca. No total, são R$ 114 bilhões. 

Com certeza, o país não tem condições de arcar com essa dívida. Ou o governo direciona os investimentos públicos para o que é substantivo ao crescimento do Brasil ou corremos o risco de enfrentarmos recessão sem precedentes. Será o apagão econômico que coloca em risco as conquistas sociais recém-alcançadas.


Visão do Correio Braziliense 

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