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GOVERNO » Palanque em defesa do arrocho e da Petrobras

Na primeira reunião ministerial do ano, Dilma diz que medidas econômicas têm "caráter corretivo" e que não se pode enfraquecer a estatal


Dilma convocou os 39 ministros para referendar a nova política econômica e cobrar dos integrantes do primeiro escalão federal que "se façam entender". A oposição reagiu às declarações da petista

Depois de 26 dias sem falar em público, a presidente Dilma Rousseff quebrou o silêncio para dizer que não recuou das promessas de campanha. Como se estivesse em um palanque, defendeu a Petrobras e afirmou que combaterá qualquer tipo de corrupção. Na abertura da primeira reunião ministerial do novo mandato, a chefe do Executivo destacou que as últimas medidas fiscais que mexeram com o bolso do consumidor são de “caráter corretivo” e sinalizou que o saco de maldades ainda não está vazio. “Juntos, devemos fazer um governo, ao mesmo tempo, de continuidade e também de mudanças”, disse, em tom de recado, aos 39 ministros reunidos, ontem, na Granja do Torto.

Para a governante, os ajustes são necessários para “manter o rumo” e “ampliar as oportunidades”, “preservando as prioridades sociais e econômicas”. “As medidas que estamos tomando e tomaremos vão dar consequência e ampliar um projeto vitorioso nas urnas por quatro eleições seguidas”, ressaltou a petista. Segundo ela, o governo absorveu o quanto pôde os desgastes econômicos, mas chegou a hora de fazer ajustes.

Na percepção de Dilma, as ações adotadas até o momento, como as mudanças nas regras de acesso ao seguro-desemprego e nas pensões por morte, não diminuem os direitos trabalhistas e têm “caráter corretivo, ou seja, são medidas estruturais, que se mostram necessárias em quaisquer circunstâncias”. Ela também informou que, além das ações na área fiscal, são construídas “medidas para viabilizar o aumento do investimento e da competitividade da economia”. Como exemplo, citou um novo plano na área de infraestrutura.

No discurso, de aproximadamente 40 minutos, Dilma reforçou que as mudanças que o país precisa para os próximos quatro anos dependem muito da estabilidade e da credibilidade da economia. Nesse sentido, ela fez questão de afirmar que a primeira ação do governo foi estabelecer a meta de superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). “Essa meta representa um esforço que a economia pode suportar sem comprometer a recuperação do crescimento e do emprego”, disse. Ela ainda frisou que o Banco Central tem adotado “as medidas necessárias para o controle da inflação”.

Corrupção
A presidente também aproveitou o palanque com os ministros para comentar o escândalo de corrupção na Petrobras. Sem mencionar nomes, ela defendeu as empresas privadas citadas no processo. Dilma destacou que a estatal é “estratégica” para o Brasil, sendo a que mais contrata e investe no país. “Temos que saber apurar, temos que saber punir. Isso tudo sem enfraquecer a Petrobras nem diminuir a sua importância para o presente e para o futuro do país”, disse, afirmando que o governo continuará apostando no modelo de partilha nas concessões de petróleo, criticado pelos especialistas por ser oneroso para a Petrobras.

Dilma ainda conclamou seu ministério para se posicionar diante das críticas. “Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, façam-se entender. Nós não podemos deixar dúvidas”, ordenou. A petista orientou os ministros a contestarem quem disser que o governo promoverá alterações nas leis trabalhistas: “Não é verdade. Os direitos trabalhistas são intocáveis, e não será o nosso governo, um governo dos trabalhadores, que irá revogá-los”.

Em um momento de irritação, Dilma não economizou broncas para o operador de teleprompter responsável por colocar o discurso em uma tela para que a presidente lesse. “Mais rápido”, cobrou. Logo em seguida, ela disse que preferia ler as declarações no papel. Após o discurso de Dilma, cada ministro pôde falar durante o encontro. O primeiro da lista foi Joaquim Levy, da Fazenda. Após pouco mais de quatro horas de reunião, Dilma e os convidados tiveram um jantar na Granja do Torto.

Foram servidos peixe, carne, frango, arroz branco, arroz integral e com amêndoas, salada, batata cozida, shitake e couve-flor gratinada. A presidente e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ficaram em uma mesa separada, com menu adequado à dieta que ambos têm seguido.

Fogo amigo no PT
A ex-ministra Marta Suplicy (PT-SP) subiu o tom das críticas a Dilma, disse que faltou “transparência” na condução da economia e afirmou que “os erros nos trouxeram a esta situação de descalabro”. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Marta ressalta que, se tivesse havido transparência no primeiro mandato de Dilma, “não estaríamos agora tendo de viver o aumento desmedido das tarifas, a volta do desemprego, a diminuição de direitos trabalhistas, a inflação, o aumento consecutivo dos juros, a falta de investimentos e o aumento de impostos, fazendo a vaca engasgar de tanto tossir”.

O discurso presidencial

Confira o que Dilma falou sobre alguns assuntos espinhosos para o governo

Petrobras 
“Nós devemos punir as pessoas, e não destruir as empresas. As empresas são essenciais para o Brasil. Nós temos que saber punir o crime, nós temos de saber fazer isso sem prejudicar a economia e o emprego do país. Nós temos de fechar as portas para a corrupção. Nós não podemos, de maneira alguma, fechar as portas para o crescimento, o progresso e o emprego”

Corrupção 
“Vou chegar ao final deste mandato podendo dizer o mesmo que disse do primeiro: nunca um governo combateu com tamanha firmeza e obstinação a corrupção e a impunidade”

Leis trabalhistas 
“Quando for dito que vamos acabar com as conquistas históricas dos trabalhadores, respondam em alto e bom som: ‘Não é verdade! Os direitos trabalhistas são intocáveis e não será o nosso governo, um governo dos trabalhadores, que vai revogá-los”

Ajustes 
“Tomamos algumas medidas que têm caráter corretivo, ou seja, são medidas estruturais, que se mostram necessárias em quaisquer circunstâncias. Vamos adequar, por exemplo, o seguro-desemprego, o abono-salarial, a pensão por morte e o auxílio-doença às novas condições socioeconômicas do país”

Políticas sociais 
“(Os ajustes) são passos na direção de um reequilíbrio fiscal que permitirá preservar as nossas políticas sociais — falo, por exemplo, do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida, do Mais Médicos, do Pronatec, das ações para garantir acesso ao ensino superior, do Ciência sem Fronteiras e do combate à violência contra a mulher”

Desconhecimento 
“Nós devemos enfrentar o desconhecimento. (…) Não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, façam-se entender. Nós não podemos deixar dúvidas."

Crise hídrica 
“Quando for mencionada a crise da água, lembrem-se que, desde o início desta, que é a maior estiagem das últimas décadas, o governo federal apoiou, está apoiando e continuará apoiando, de todas as formas, inclusive com vultosos investimentos, as demandas dos governos estaduais”

"Estelionato eleitoral"

A oposição classificou o discurso de abertura da reunião ministerial feito pela presidente Dilma Rousseff ontem como “desonesto” e “desastroso”. “A presidente tenta se defender da acusação de ter sido protagonista do maior estelionato eleitoral da história do país. Tenta nos fazer crer que não prometeu o que prometeu e que não está fazendo o que está fazendo”, disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG), por meio de nota.

Para o tucano, derrotado na eleição presidencial no ano passado, faltou à presidente “humildade para pedir desculpas aos brasileiros” pelos “erros que cometeu e que trouxeram o país à grave situação em que se encontra”. Aécio afirmou ainda que, ao falar sobre o combate rígido à corrupção, Dilma se apropria do trabalho do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

Para o senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO), Dilma “exige tarefa impossível” ao pedir que os ministros defendam o governo desmentindo “boatos”. “É pedir para defender o indefensável”, resumiu, acrescentando que a equipe de Dilma só poderia fazer isso caso ela estivesse cumprindo as promessas de campanha.

Já o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que é “impressionante o grau de desonestidade de Dilma”. Para ele, a petista peca ao chamar de “corretivas” as medidas que torna mais rigoroso o acesso da população a benefícios previdenciários. “Ela faz um ajuste que penaliza os trabalhadores. É um desastre.”

"A presidente tenta se defender da acusação de ter sido protagonista do maior estelionato eleitoral da história do país"
Aécio Neves (PSDB-MG), senador


Por: Grasielle Castro - Rosana Hessel - Correio Braziliense

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