Planalto teme que o ex-diretor Internacional da Petrobras, preso na madrugada de ontem, siga o caminho de Paulo Roberto Costa, revele novos detalhes do esquema de corrupção na estatal e amplie a crise no governo
Por: João Valadares - Correio Braziliense
Publicação: 15/01/2015
Nestor Cerveró é conduzido por policiais federais: novo inquérito para apurar movimentações financeiras suspeitas nas últimas semanas |
Apontado como o grande responsável pelo “projeto falho” que embasou a decisão da presidente Dilma Rousseff na compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi preso preventivamente na madrugada de ontem, no momento em que desembarcava no Rio de Janeiro. Ele só foi demitido da BR Distribuidora, uma subsidiária da petroleira, em março do ano passado, oito anos após a polêmica negociação de Pasadena. Quando foi surpreendido por agentes da Polícia Federal, no Aeroporto do Galeão, Cerveró regressava de Londres, onde passou natal e ano-novo com parte da família. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), “não há indicativos de que o esquema criminoso (na Petrobras) foi estancado”. A prisão acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto, que teme novas revelações sobre o esquema de corrupção na Petrobras, investigado pela Operação Lava-Jato.
Existe também o receio de que, após período na cadeia, Cerveró, considerado o homem-bomba que nunca explodiu, possa seguir os passos do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e fechar acordo de delação premiada. Em dezembro, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes à Operação Lava-Jato, aceitou denúncia contra Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro. Dois petistas com bom trânsito no Planalto, ouvidos reservadamente pelo Correio, admitiram que a prisão fragiliza o governo e sinaliza que a tempestade está muito longe do fim. Cerveró tinha acesso livre a gabinetes de deputados e de senadores, e alguns parlamentares acreditam que o ex-diretor pode ajudar a aumentar a lista dos políticos envolvidos no esquema de corrupção.
A prisão preventiva do ex-dirigente foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF). No entendimento da instituição, “Cerveró continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras”.
Conforme informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, encaminhados à Polícia Federal, o ex-diretor pediu, em dezembro, resgate de uma aplicação no valor de R$ 500 mil. Para sacar o dinheiro, ele teria um prejuízo de R$ 200 mil. Os recursos, segundo o MPF, seriam transferidos para a filha de Cerveró, mesmo com as perdas detectadas.
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirmou à imprensa que a movimentação financeira levantou suspeitas. “As operações realizadas indicam que não é alguém preocupado com investimentos financeiros, mas alguém que estava tentando obter liquidez com rapidez. Poderia ser uma fuga ou uma tentativa de blindar o patrimônio que ainda não tenha sido bloqueado”, afirmou. Em nota oficial, a Polícia Federal ressaltou que “monitorou as contas e as aplicações financeiras do investigado e verificou que, recentemente, foram realizadas transações imobiliárias de forma subfaturada. Também foram observadas solicitações de resgate de aplicações financeiras com grande prejuízo pessoal”.
Os agentes da Polícia Federal cumpriram ordens de busca em três imóveis no Rio de Janeiro e um Itaipava (RJ), todos vinculados a Cerveró. Após a prisão dele, pouco depois da meia-noite de ontem, o ex-diretor foi transferido para Curitiba. Chegou às 9h20 de ontem para ser ouvido pela Polícia Federal — hoje, está previsto outro depoimento. A Justiça Federal do Paraná determinou a abertura de novo inquérito para apurar todas as movimentações suspeitas.
Manobras
A Procuradoria listou outras manobras do ex-diretor. “Cerveró também transferiu, recentemente, três apartamentos, adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores nitidamente subfaturados: há evidências de que os imóveis possuem valor de mais de R$ 7 milhões, sendo que a operação foi declarada por apenas R$ 560 mil. Para o MPF, a custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas concretas do caso”, atestou.
Após fazer a doação dos imóveis a filhos numa tentativa de evitar o possível bloqueio de bens — cujo julgamento foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) após pedido de vista do ministro Aroldo Cedraz —, Cerveró tentou transformar a casa de veraneio, em Itaipava, em bem de família. Dessa forma, de acordo com a legislação brasileira, o imóvel torna-se impenhorável. Em 15 de outubro, ele publicou, no jornal Tribuna de Petrópolis, um edital em que comunica a intenção. O imóvel conta com área de 2,7 mil metros quadrados. Segundo a PF, entre 2003 e 2012, Cerveró comprou nove imóveis.
Após as denúncias de irregularidades na compra da Refinaria de Pasadena, Dilma Rousseff, que presidia o conselho da Petrobras na época, disse que tomou a decisão com base em “resumo técnico e juridicamente falho, pois omitia qualquer referência às cláusulas marlim e put option que integravam o contrato e que, se conhecidas, seguramente não seriam aprovadas pelo conselho”. O ex-diretor se defendeu, alegando que as cláusulas que não foram informadas não alterariam a decisão da compra. “As cláusulas não têm representatividade no negócio, não eram importantes do ponto de vista negocial e da valorização do negócio.”
Existe também o receio de que, após período na cadeia, Cerveró, considerado o homem-bomba que nunca explodiu, possa seguir os passos do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e fechar acordo de delação premiada. Em dezembro, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes à Operação Lava-Jato, aceitou denúncia contra Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro. Dois petistas com bom trânsito no Planalto, ouvidos reservadamente pelo Correio, admitiram que a prisão fragiliza o governo e sinaliza que a tempestade está muito longe do fim. Cerveró tinha acesso livre a gabinetes de deputados e de senadores, e alguns parlamentares acreditam que o ex-diretor pode ajudar a aumentar a lista dos políticos envolvidos no esquema de corrupção.
A prisão preventiva do ex-dirigente foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF). No entendimento da instituição, “Cerveró continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras”.
Conforme informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, encaminhados à Polícia Federal, o ex-diretor pediu, em dezembro, resgate de uma aplicação no valor de R$ 500 mil. Para sacar o dinheiro, ele teria um prejuízo de R$ 200 mil. Os recursos, segundo o MPF, seriam transferidos para a filha de Cerveró, mesmo com as perdas detectadas.
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirmou à imprensa que a movimentação financeira levantou suspeitas. “As operações realizadas indicam que não é alguém preocupado com investimentos financeiros, mas alguém que estava tentando obter liquidez com rapidez. Poderia ser uma fuga ou uma tentativa de blindar o patrimônio que ainda não tenha sido bloqueado”, afirmou. Em nota oficial, a Polícia Federal ressaltou que “monitorou as contas e as aplicações financeiras do investigado e verificou que, recentemente, foram realizadas transações imobiliárias de forma subfaturada. Também foram observadas solicitações de resgate de aplicações financeiras com grande prejuízo pessoal”.
Os agentes da Polícia Federal cumpriram ordens de busca em três imóveis no Rio de Janeiro e um Itaipava (RJ), todos vinculados a Cerveró. Após a prisão dele, pouco depois da meia-noite de ontem, o ex-diretor foi transferido para Curitiba. Chegou às 9h20 de ontem para ser ouvido pela Polícia Federal — hoje, está previsto outro depoimento. A Justiça Federal do Paraná determinou a abertura de novo inquérito para apurar todas as movimentações suspeitas.
Manobras
A Procuradoria listou outras manobras do ex-diretor. “Cerveró também transferiu, recentemente, três apartamentos, adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores nitidamente subfaturados: há evidências de que os imóveis possuem valor de mais de R$ 7 milhões, sendo que a operação foi declarada por apenas R$ 560 mil. Para o MPF, a custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas concretas do caso”, atestou.
Após fazer a doação dos imóveis a filhos numa tentativa de evitar o possível bloqueio de bens — cujo julgamento foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) após pedido de vista do ministro Aroldo Cedraz —, Cerveró tentou transformar a casa de veraneio, em Itaipava, em bem de família. Dessa forma, de acordo com a legislação brasileira, o imóvel torna-se impenhorável. Em 15 de outubro, ele publicou, no jornal Tribuna de Petrópolis, um edital em que comunica a intenção. O imóvel conta com área de 2,7 mil metros quadrados. Segundo a PF, entre 2003 e 2012, Cerveró comprou nove imóveis.
Após as denúncias de irregularidades na compra da Refinaria de Pasadena, Dilma Rousseff, que presidia o conselho da Petrobras na época, disse que tomou a decisão com base em “resumo técnico e juridicamente falho, pois omitia qualquer referência às cláusulas marlim e put option que integravam o contrato e que, se conhecidas, seguramente não seriam aprovadas pelo conselho”. O ex-diretor se defendeu, alegando que as cláusulas que não foram informadas não alterariam a decisão da compra. “As cláusulas não têm representatividade no negócio, não eram importantes do ponto de vista negocial e da valorização do negócio.”