Carlos Chagas
O cerco aos deputados do PMDB por diversos ministros da
presidente Dilma, esta semana, configura corrupção explícita, se for verdadeira
a versão de que a equipe de governo anda prometendo nomeações para o segundo
escalão em troca de votos para a aprovação de seus projetos. Só existem dúvidas
sobre quem é mais corrupto, se os ministros ou os deputados.
Tome-se um parlamentar cuja opinião é de que direitos
trabalhistas não podem ser revogados e, por isso, dispõe-se a votar contra as
medidas provisórias extinguindo parte do seguro-desemprego e aviltando as
pensões das viúvas. Que conclusão tirar caso, na hora da votação, Sua
Excelência aprove na íntegra essa maldade, porque obteve a promessa de nomeação
de um seu apadrinhado para a diretoria de uma empresa estatal?
Multiplique-se essa situação e outras semelhantes, em matéria de
benesses e favores distribuídos pelo Executivo a integrantes do Legislativo, e
se terá a receita de uma nação corrompida. De instituições falidas.
Pois é o que se delineia no jogo sujo das relações entre o
palácio do Planalto e o Congresso, por certo entre expressões de cordialidade e
entendimento político. O pior é que nada poderá ser feito para evitar o crime:
os deputados são livres para votar como quiserem e os governantes também, para
preencher as vagas na administração direta e indireta. De pouco adiantam leis
mais drásticas para punir a corrupção, se ela acontece de acordo com as
instituições vigentes.
Só tem uma saída para evitar essa novela de horror, fora, é
claro, uma rebelião nacional capaz de não deixar pedra sobre pedra nesses dois
poderes da União: a imprensa dedicar-se à leitura minuciosa dos Diários Oficial
e do Congresso, interligando nomeações e votações. Pelo menos, o eleitorado
tomaria conhecimento da falcatrua. Mas deixaria de votar em seus deletérios
representantes de um lado e de outro? Dificilmente, porque viciadas também
estão as eleições abastecidas com dinheiro podre, como ainda agora demonstra o
escândalo na Petrobras.
Vale repetir: a nação está corrompida, apesar de bissextos
esforços promovidos por parte do Judiciário para punir os corruptos.
NO CHILE COMEÇOU ASSIM
Quem tiver boa memória poderá lembrar que no Chile do general
Pinochet começou assim. A paralisação dos caminhoneiros gerou não apenas o
desabastecimento no país, mas despertou nos militares os piores sentimentos.
Por certo que estimulados pela CIA e os conglomerados econômico-financeiros
internacionais. Aqui, felizmente, as forças armadas parecem longe de
sensibilizar-se pela exceção e pelo arbítrio, ainda que em passado mais ou
menos recente tenham caído na armadilha.