Deputado avisa que apoio
em troca de cargos não pode continuar e que o Buriti corre risco de virar refém
Em seu segundo mandato, o distrital Joe
Valle (PDT) acompanhou de perto o desgaste sofrido pelo ex-governador Agnelo
Queiroz ao tentar manter a fidelidade de uma base muito grande, que contava com
21 dos 24 deputados na última legislatura. Agora, com o Executivo pressionando
os deputados a aprovar uma série de medidas de austeridade, Valle alerta sobre
erros da mesma natureza que podem dificultar a vida do governador Rodrigo
Rollemberg. Ainda assim, Joe acha importante preservar uma relação
próxima entre os poderes, em meio a crise financeira vivida no DF.
Como é a
relação entre Executivo e Legislativo após um mês de governo?
Eu vejo que
ainda é uma situação complexa, porque não temos um acordo sobre quem é base
fechada. É um momento de transição. Nós temos quatro deputados eleitos pela
coligação. Especialmente os três deputados do PDT mantêm um alinhamento próprio
ao participar das decisões governamentais, marcado pelo perfil dos dois
senadores e dos deputados: preservar sua independência. A gente participa do
governo e o defende, mas se acharmos que uma proposta vai contra a população,
ficaremos contra ela. Aliás, estamos participando do governo para não deixar
isso acontecer. São dois poderes independentes, mas acredito que o papel de
fiscalizador do legislador é buscar alternativas pela melhoria da qualidade de
vida das pessoas.
O senhor
acredita que as relações de troca serão as mesmas de gestões passadas?
O que
percebemos é que há uma vontade do governador no sentido de não fazer
loteamento, mas há também uma pressão muito forte, por parte da Câmara
Legislativa, de que é necessário nomear as pessoas aos cargos cobiçados para
que se dê continuidade ao processo político partidário e à política representativa
como nós conhecemos. Houve uma diferenciação em relação as escolhas das
secretarias, mas quando se caiu nas administrações regionais a pressão pegou e
ai a gente percebe que as nomeações políticas existiram e não há como deixarem
de existir, porque essa é uma força política entre os dois poderes que se
confunde.
O PDT foi
o primeiro a apoiar a candidatura de Rollemberg e o primeiro a criticar a
distribuição das administrações, não?
O que nós
queremos é participar do governo. As nomeações são apresentação de nomes para
que na participação do PDT no governo, como nós temos programas e temos
propostas, a gente possa executar e trabalhar a partir de nomes que temos
condições de indicar, qualificados para executar esses programas. Quando a
gente participa do governo, propondo, mas não vemos nele pessoas capacitadas de
fazer aquilo que estamos trabalhando, logicamente nós nos perguntamos o porquê
de trabalhar no processo. Temos mais nomes a apresentar para uma execução
programática, pois elegemos cinco parlamentares, dos quais dois senadores de um
grande peso e com condições de ajudar. Gostaríamos de ajudar mais o governo,
não só com os votos dos deputados na Câmara, mas com senadores trabalhando para
conseguirem recursos federais e com quadros do PDT capacitados.
O governo
parece querer chegar a 20 ou 21 parlamentares na base, é sua opinião?
Nós já vimos
isso acontecer. Tenho certeza absoluta que isso não dá certo. Há a necessidade
de mudança desse processo. Vejo que é necessário um convencimento da população
e dos espaços, com uma relação diferenciada em relação aos deputados. Se não,
será necessário dar 15 mil cargos para cada deputado, pois cada um precisa
desse número de votos para ser eleito. Se for essa a lógica não fecha: 24 vezes
15 mil cargos é uma conta que não daria nunca para fechar. O senador Cristovam
fez uma brincadeira dizendo ao governador: “Rodrigo, está tão séria esse coisa
de indicação, que se você ficar doente eu tenho até medo de te sugerir um
médico, porque vão pensar que é indicação política”. E é verdade. A situação
precisa mudar. Quando coloco entre minhas prioridades ter 24 deputados na minha
base, isso não é saudável. É preciso ter discussão na Câmara, ter oposição,
para que a gente se balize. Além disso, oposição tem que ser responsável, colocando
suas ideais e conteúdos programáticos no intuito de dizer: “não é por ai não,
por ai eu sou contra”. Caímos na prática de que alguém passa a ser contra o
governo porque não tem espaços nem cargos — e aí defende outras posições.
Quando muda o governo, passa-se a defender posições contrárias às que defendia,
pois passa-se também a fazer parte do novo governo.
E o que é fazer parte do
governo?
É ter cargo. No meu entendimento, está errado.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília - Suzano Almeida