Carlos Chagas
Mais
um alçapão para o governo cair, armado pelo presidente da Câmara, Eduardo
Cunha: haverá na próxima semana, de segunda a sábado, se necessário, um esforço
concentrado para a aprovação das reformas políticas. Em condições normais de
temperatura e pressão, seria natural que os deputados dedicassem seu tempo a
desatar o nó que há duas décadas estrangula o Congresso. Todos exigem a reforma
política, mas até agora ela não se cristalizou.
O
diabo é promover esse debate na hora em que Legislativo e Executivo batem de
frente e a presidente Dilma estabeleceu como prioridade absoluta de seu governo
a votação das medidas provisórias do ajuste econômico, que a maioria
parlamentar rejeita. Qualquer análise de mudanças na legislação
político-eleitoral servirá de motivo para a Câmara criar provocações ao palácio
do Planalto, como, por exemplo, a decisão de se acabar com o princípio da
reeleição ou, num patamar inferior, a criação da obrigatoriedade da
desincompatibilização, seis meses antes, de presidente da República, governadores
e prefeitos. Mais ainda, se a tendência nas discussões for não estender de
quatro para cinco ou seis anos os mandatos referidos.
O
financiamento público das campanhas se prestará a outro choque entre os dois
poderes. Caso proibidas todas as doações empresariais e aprovado o
financiamento público, a fatura completa serias encaminhada ao tesouro
nacional. Numa hora em que o governo corta gastos e sacrifica a educação, a
saúde e a segurança públicas, como a presidente Dilma aceitará sem estrilar mais
essa carga impopular de dispêndio de recursos, em última análise tirada de
novos impostos ou da supressão de obras e investimentos?
INDEPENDÊNCIA
Eduardo
Cunha, apesar de suas declarações em favor da harmonia entre os poderes,
aumenta o diapasão de sua independência diante do Executivo. Cria variado tipo
de problemas para Madame. Imagine-se num debate sobre a mudança dos principais
postulados que regem a fragilizada relação entre eles.
Muita
gente pergunta quais as reais intenções do presidente da Câmara, além de
funcionar como ferrinho de dentista para a presidente. Ele já conta com o apoio
da maior parte dos deputados, domina o PMDB e demonstrou a intenção de isolar o
PT. Com que objetivo? Pode ser o de preparar sua candidatura à sucessão de
Dilma, caso as investigações sobre o escândalo da Petrobras não o afastem do
palco.