Rodeado por parentes e amigos, Heliodoro acenou para os convidados da festa, no Instituto Histórico e Geográfico: Meu coração está agradecido
Último integrante da equipe de JK, Affonso
Heliodoro dos Santos comemora o aniversário cheio de lembranças da época em que
ajudou a construir Brasília
Quando Brasília nasceu, Affonso Heliodoro dos
Santos recém-completava 44 anos. Ao lado do amigo Juscelino Kubitschek, o
coronel da Polícia Militar de Minas Gerais viu a cidade tomar forma. Do barro
vermelho, surgiram obras. Em meio ao centro do poder que engatinhava, aparecia
o envolvimento de gente comprometida com a nova capital. Brasília cresceu. Às
vésperas de completar 55 anos, o último integrante da equipe de JK comemorou a
chegada dos 99. A lucidez permite que Heliodoro caminhe com desenvoltura entre
as lembranças deixadas pelo ex-presidente. Durante a celebração do aniversário
ontem, no auditório do Instituto Histórico e Geográfico do DF (IHG-DF), o
pioneiro acenou com a mão direita em sinal de agradecimento aos presentes. O
gesto, muitas vezes repetido por Kubitschek, faz do mineiro de Diamantina uma
memória da trajetória do País.
Heliodoro
nasceu em 16 de abril de 1916, mas foi registrado pelo pai dois dias depois, em
18 de abril. Por causa do atraso, os três dias são sempre festejados. As
lembranças de uma vida cheia de lutas se mantêm lúcidas na mente do pioneiro.
Aos 6 anos, Heliodoro vendia doces na feira de Diamantina. Aos 7, no dia do
aniversário, perdeu o pai durante uma investigação policial em Salinas, onde
era delegado. A mãe criou, sozinha, os oito filhos. Foi aluno da mãe de JK,
Júlia Kubitschek. Sem imaginar, começava ali uma relação de trabalho,
cumplicidade e amizade com aquele que se tornaria presidente da República. “Do
que mais me recordo, desde a infância até hoje, foi do tempo de convivência
integral e permanente com JK, uma figura humana excepcional, um administrador
incrível e um patriota sem igual. Ele era fantástico. Um exemplo de vida.”
Na tarde
de ontem, entre os desejos do dono da festa, estava o de viver mais. Heliodoro
já sonha com o centenário. É ele quem cuida da mulher, de 94 anos, na residência
do Lago Sul. “Qual é o homem que com 99 anos tem tudo isso? Eu lutei a minha
vida inteira. Quando é que eu esperava fazer 99 anos?”, questionou. “Embora
tenha assumido cargos importantes, nunca fui vaidoso. Durante todo esse tempo,
percebi que os amigos permanecem e os novos também surgem. São eles quem
compõem a minha vida fora de casa, em sociedade.”
Ao longo
da vida, Heliodoro traçou uma trajetória de trabalho e sucesso. Com JK, foi
chefe do Gabinete Militar no Governo de Minas Gerais e subchefe do Gabinete
Civil na Presidência da República. Dirigiu o Serviço de Verificação das Metas
Econômicas do Governo e o Serviço de Interesse Estadual. Foi ele quem também
participou ativamente das campanhas eleitorais de JK para a Presidência e para
o Senado. Em Brasília, entre os anos de 1983 a 1996, Heliodoro assumiu o zelo
pelo Memorial JK. Hoje, preside o IHG-DF. “Depois de uma certa idade, a gente é
esquecido, mas eu ainda tenho compromissos com a sociedade. Meu coração está
agradecido e eu também, emocionado.”
Heliodoro
é pai de três filhos. O mais velho completou 70 anos e o mais novo tem 55. A
família cresceu. O coronel tem 15 netos e seis bisnetos. Um dos filhos, Lelio
Gabriel Heliodoro dos Santos, 68, ressaltou a admiração pelo pai. “Para a nossa
família, meu pai é um herói. Até hoje, quando ele dá ordens, eu cumpro e
obedeço. Ele é fantástico. O melhor que podíamos ter.”
Fonte: Isa Stacciarini - Correio Braziliense