O ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta quarta-feira (22) que não está
divergindo da direção do PSDB ao demonstrar ser contrário a um pedido de
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na avaliação de FHC, o
partido está "cumprindo o dever deles de estar, digamos, expressando com
mais força o sentimento de segmentos da sociedade". Na última quinta (16),
o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que o partido pedirá o
impeachment se ficar comprovada a participação de Dilma nas chamadas
"pedaladas fiscais", manobras feitas com recursos dos bancos públicos
para arrumar as contas do governo.
Tanto FHC quanto o
senador José Serra (PSDB-SP) declararam, nos dias seguintes, que consideravam a
discussão precipitada. As declarações fizeram surgir a tese de que o debate
sobre o impeachment estaria trazendo à tona divergências dentro do partido. FHC
minimizou a hipótese, mas reiterou sua posição nesta quarta em evento no Rio.
"Impeachment não
pode ser objeto de um desejo, mas sim de um processo. Existe quando ocorrem
certas condições prescritas na lei na qual os responsáveis incidiram",
disse. De acordo com FHC, as investigações da operação Lava Jato ainda não
revelaram se houve esse cenário. "Precisamos levar adiante [as
investigações] para ver se existe punibilidade eventual de alguém que detenha
poder de Estado, no Congresso ou no Executivo."
"A minha posição é dizer: vamos aprofundar e
defender a necessidade de ir fundo no esclarecimento das questões e depois ver
com os juristas se algumas dessas questões têm a ver com o crime de
responsabilidade. Depois disso, ver se há clima político, que parece haver, de
querer levar adiante um processo dessa natureza. Não adianta botar o carro na
frente dos bois", acrescentou o expresidente.
MOVIMENTOS
FHC disse que Aécio
está certo ao se posicionar ao lado dos movimentos que pregam o "Fora,
Dilma". "A liderança política do PSDB tem que atuar de outra maneira.
Tem que atuar estando mais próximo do clamor da rua, mesmo que esse
procedimento [de investigações e consultas jurídicas] não estejam completamente
cristalizados. A liderança política tem o dever de dialogar com os líderes que
têm opiniões diferentes nesses movimentos. Alguns querem impeachment já. Tem
que dialogar, e foi o que ele fez.
O que está sendo feito
é perguntar, do ponto de vista jurídico, se há condições para [um impeachment].
Não creio que tenham tomado uma decisão nessa matéria porque não se pode tomar
decisão sem os fatos." Para FHC, as divergências entre a sua postura e a
do senador Aécio se devem às diferentes posições que ocupam. "[minha
opinião] Não é em contradição com líder tal ou qual.
Pelo contrário, acho
que estão cumprindo o dever deles de estar, digamos, expressando com mais força
o sentimento de segmentos da sociedade. Eu estou querendo, na verdade, não me
limitar a segmentos, mas sim olhar o conjunto do país do ponto de vista de sua
perspectiva histórica", afirmou.
Por: Luiza Franco (Rio) - Fonte: Folha de São Paulo